
Muitos costumam afirmar que cachorros não gostam de barulhos de fogos de artifício ou trovões, pois sentiriam dor, já que seu ouvido é um órgão muito sensível. Sabemos que a capacidade auditiva dos cães é mais apurada que a nossa, que vai de 20 Hz a 20 kHz, sendo que os cães conseguem ouvir sons emitidos a até 45 kHz. Uma capacidade auditiva muito maior do a dos seres humanos, portanto.
Mas, na verdade, a causa da fobia é outra: barulhos muito altos, graves, vindos de longe, significam para o cão que algo de errado está acontecendo; significa, literalmente, perigo! O medo de sons como o de fogos de artifício, portanto, nada mais é do que resquício evolutivo do instinto de sobrevivência!
Além disso, alguns fatores podem ser considerados agravantes: se o cachorro tiver um temperamento medroso inato e, durante a fase de sociabilização primária, tiver passado por uma situação que lhe tenha causado medo extremo em razão juntamente com o som de fogos de artifício ou uma tempestade acontecendo, este trauma pode perdurar por toda a sua vida.
Treinos
Dessensibilização e contra condicionamento são os treinos utilizados nesses casos. A dessensibilização consiste em expor o animal gradualmente ao estímulo causador dos comportamentos de medo, antes de surgirem os sinais de pavor. Já o contra condicionamento consiste em mudar a reação do cão ao estímulo de medo.
Para colocar em práticas as duas técnicas, costuma-se utilizar o som gravado daquilo que causa medo (no caso, fogos de artifício) e colocar para o animal ouvir em um volume mais baixo, enquanto ele come, brinca ou faz outras atividades que goste bastante. É importante utilizar um equipamento que reproduza sons com qualidade, pois os cães são capazes de perceber claramente a diferença entre o som real e um som mal gravado.
Com o tempo e à medida que se percebe que o cão está reagindo tranquilamente com o som ocorrendo, pode-se aumentar o volume, oferecendo petiscos e brincadeiras com a gravação mais alto e/ou mais perto. Mas é importante aumentar o estímulo somente quando ele se mantiver calmo diante desse nível de estímulo. A cada etapa, aumente o volume aos poucos.
Se durante os treinos o cão demonstrar sinais de ansiedade ou os sintomas de medo, é preciso retroceder uma etapa. O sucesso desse treino depende muito da paciência em aguardar que o cão se adapte aos sons de forma gradativa, à medida que faz associações positivas com sua ocorrência.
Fogos de artifício são realmente necessários?
Muitas campanhas têm surgido nas mídias sociais nos últimos anos, tendo por objetivo incentivar as pessoas a celebrarem sem necessidade de usar rojões, biribas, etc. Estes apetrechos causam medo extremo não só aos cães, mas também a gatos e animais em geral, prejudicando o bem-estar da fauna local.
Cassia Rabelo Cardoso dos Santos, adestradora e consultora comportamental na Cão Cidadão.