Será que, apesar de ser um ótimo guardião, ele é considerado atualmente um cão de companhia? Saiba a resposta para essa e outras dúvidas.

Pelo padrão CBKC/FCI, os machos têm de 66 a 71 cm e de 45 a 59 kg, enquanto as fêmeas têm de 61 a 68 cm e de 32 a 45 kg
Originário da região de Akita, no Japão, esse tradicional cão conta com fiéis admiradores pelo mundo todo, mas muitas informações diferenciadas sobre ele foram disseminadas ao longo dos anos. É por isso que fomos investigá-las para descobrir o que é verdade e o que não passa de lenda a ser esclarecida.
1. É verdade que, no Japão, a maior parte dos exemplares recebe pedigrees da Akita Inu Hozonkai (AKIHO), fundada em 1927 e não filiada à Federação Cinológica Internacional (FCI)?
A AKIHO, a mais tradicional entidade sobre o Akita naquele país, costuma registrar de 3 a 4 mil cães da raça por ano. Em 2024, por exemplo, apenas 251 receberam pedigrees do Japan Kennel Club(JKC), a associação cinófila japonesa afiliada à FCI. “A AKIHO é um símbolo da preservação do Akita e, por isso, é considerada um ponto de referência no Japão”, explica a italiana Maria Grazia Miglietta, juíza cinófila especializada no grupo 5 (o das raças spitz, como oAkita). “A AKIHO se preocupou bastante em fazer o resgate da raça no período do pós-guerra, gerando assim uma maior notoriedade entre os canis japoneses. E a razão da preferência pela AKIHO em vez do JKC/FCI pelos criadores da raça do Japão se deve também ao fato de que eles são bastante nacionalistas, preferindo prestigiar questões culturais do próprio país”, diz Glauco Soares, do canil Shin’Yu, de Belo Horizonte.

Akita da cor branca, a única que não apresenta o urajiro, pelagem esbranquiçada nas laterais do focinho, bochechas, face ventral da mandíbula e interna dos membros, pescoço, peito, tronco e cauda
2. É verdade que o Akita Hachiko, ao contrário do que normalmente é divulgado, somente começou a esperar pelo dono já falecido na estação de trem dois anos após o óbito de seu proprietário?
Para quem ainda não sabe, Hachiko foi um Akita que se tornou símbolo da fidelidade canina. Nascido em 1923, em um bairro de Shybuia, Tóquio, ele pertencia à família do professor universitário Hidesaburō Ueno. Segundo o que se conta, ao crescer, passou a ter como hábito acompanhar Ueno até a estação ferroviária de manhã e buscá-lo à tarde. Um dia o professor não apareceu: faleceu antes de voltar para casa. Mas Hachiko prosseguiu com o seu dever de trazê-lo da estação, fizesse sol ou chuva. “De acordo com os poucos relatos sobre a história de Hachiko, ele não começou a esperar seu dono na estação ferroviária logo após o dia do enterro dele. Hachiko foi doado, pela esposa de Ueno, a algumas pessoas do círculo familiar do professor. Porém, ele sempre fugia e voltava para sua antiga residência em Shibuya. Após anos de doações e fugas, ele entendeu que o seu antigo dono não residia mais naquela casa e, a partir daí, começou a aguardá-lo nos arredores da estação de trem, recebendo comida de funcionários, transeuntes e frequentadores”, conta Glauco.

Akita vermelho-fulvo, a cor mais popular da raça
3. É verdade que, apesar de afetar exemplares de outras raças (como o Chow Chow, o Husky Siberiano e o Samoieda), a Síndrome Vogt-Koyanagi-Harada é mais associada ao Akita?
A juíza cinófila Maria Grazia explica que, na literatura veterinária, os casos descritos do mal se referem principalmente ao Akita, sugerindo que, nas demais raças com exemplares afetados, a incidência é mais rara. “Mas já vi vários casos de cães de outras raças que apresentavam os sintomas tidos como clássicos desta patologia que não foram diagnosticados com a doença nas consultas em clínicas veterinárias”, afirma Glauco. Trata-se de um mal autoimune que causa inflamação nos olhos e dermatite com despigmentação. “Ele requer muito cuidado com o cão desde os primeiros sintomas, pois a tendência é que o quadro clínico geral piore rapidamente”, alerta Glauco. Caso não seja tratada devidamente desde o início, a inflamação da úvea e o descolamento da retina levarão o cão à cegueira. “O mal não tem cura definitiva e, assim, o ideal é que se tente dar a melhor qualidade de vida ao cachorro durante o tratamento indicado pelo médico-veterinário”, diz Glauco. “É um problema potencialmente incapacitante para os afetados, que passam a viver com as limitações relacionadas a ele”, lamenta Maria Grazia, que, no entanto, informa sobre o desenvolvimento de pesquisas sobre o mal que não existiam anos atrás. “O que se observa hoje é que a doença vem ocorrendo com menor intensidade, dando a entender que há fatores genéticos envolvidos. Com a seleção procedida pelos criadores – incluindo a castração dos cães que possam comprometer o plantel –, os casos conhecidos nos dias atuais são raríssimos”, garante Pedro Lang, do canil Tibiquary, de Porto Alegre.

Diferentemente do Shiba, que precisa de muitos exercícios estimulantes, o Akita não exige muita atividade
4. É verdade que a única diferença entre o Akita e o também japonês Shiba, é o tamanho?
Os entrevistados são unânimes em afirmar que existem muitas diferenças entre o Shiba e o Akita além do porte maior e mais robusto deste último. Eles se diferenciam também em características na cabeça, orelhas, pelagem, cauda, cor, movimentação e temperamento. “Comparando-se com o Akita, a cabeça do Shiba é mais fi a e sua pelagem é mais fácil de manter: a do Akita exige escovação regular inclusive no período fora da muda de pelos. Além disso, o Shiba tem cauda com menos pelos. Quanto ao temperamento, o Akita geralmente é mais calmo e territorial com outros cães do mesmo sexo e com estranhos, enquanto o Shiba possui mais energia, tende a ser menos protetor e é mais independente e teimoso, fazendo que seu adestramento se torne ainda mais difícil – requer um pouco mais de paciência”, diz Maria Grazia. “As orelhas do Shiba têm inserção mais alta e próxima do topo do crânio e não são portadas na projeção do pescoço como o Akita e, quanto à cauda, é permitida a forma de foice no Shiba, que, por ser mais curto, exibe também movimentação mais rápida, além de poder apresentar a cor preta e castanha”, completa Pedro, também juiz cinófilo de todas as raças.

“Adestramento de obediência deve ser adotado enquanto o Akita ainda é filhote”, diz Pedro
5. É verdade que, já há algum tempo e principalmente no exterior, o Akita é considerado um cão de companhia e não mais um guardião?
Glauco diz que sim. “É um erro grave, pois, apesar de ser excelente companheiro do seu dono e família, ele tem um instinto de guarda muito apurado”, alerta o criador. “Em meu país, os canis têm tentado privilegiar a função de companhia, o que é preocupante porque o Akita faz a guarda naturalmente e, assim, possui temperamento forte, com dificuldade de se adaptar à educação que o cão destinado apenas a essa função de companheiro costuma receber. As consequências disso são o abandono de exemplares por parte de seus donos, que acabam tendo um cachorro pouco adequado ao seu estilo de vida”, reforça a criadora Brigitte Giraud, do canil Jardin d’Arcos, da França.
A criadora Maria Grazia explica: “Na sociedade moderna, há uma tendência de se modificar a função das raças caninas utilizadas originariamente para aguarda. Hoje os cães dela se tornaram parte da família e, assim, espera-se que possam interagir em diferentes situações e realidades. Então a criação está se concentrando em gerar exemplares com temperamento que faça deles os companheiros certos para a vida contemporânea. Mas os canis deveriam buscar um meio-termo, pois um bom criador é aquele que se concentra na obtenção de cães saudáveis e com bom equilíbrio psicológico geral sem perder de vista a função para a qual as raças foram selecionados anteriormente”.
6. É verdade que o Akita não deve ser adestrado para proteção e defesa a fim de não se tornar agressivo demais?
Há quem diga – e não é de hoje – que a raça não pode ser treinada para guarda, sob o risco de sofrer distorções temperamentais, incluindo comportamentos perigosos para o ser humano. “O Akita não está autorizado a participar do Ring Francês, que é o esporte canino com prova de proteção mais popular em meu país. Isso gera uma reputação de raça proibida e as pessoas por aqui acreditam que ela tem naturalmente o hábito de atacar na parte mais alta do corpo de um invasor, em busca do rosto e do pescoço”, conta Brigitte. Glauco afirma: “Embora alguns adestradores aconselhem o treinamento do Akita para a função de proteção e defesa, eu não o recomendo em hipótese alguma. O Akita é um guardião por natureza, e um treinamento neste estilo poderá fazer com que ele, em dado momento, fique fora do controle em determinadas situações, causando lesões sérias a alguém. O ideal é deixar que ele apresente esse instinto naturalmente”. Maria Grazia pondera: “Eu diria apenas que o Akita é pouco inclinado a esse adestramento”. Pedro afirma: “O Akita já tem temperamento próprio, equilibrado. Penso que não devemos acentuar traços que já fazem parte da sua personalidade de cão de guarda das pessoas com quem convive habitualmente. E mesmo o adestramento de comandos do tipo senta, fica e junto só é válido enquanto o Akita for filhote, pois, com o passar do tempo, se torna mais difícil que ele aceite tais ensinamentos de estranhos”.
7. É verdade que, atuando como guardião, o Akita se caracteriza por latir muito pouco?
Glauco garante que latir pouco é uma das características marcantes da raça. “Quando algo de errado está acontecendo dentro do território no qual o Akita vive com sua família, como a presença de um invasor, geralmente ele não chega atacando: esse cão se aproxima, demonstra sua imponência e emite latidos e rosnados muito baixos. Caso o intruso não saia do local, aí sim o Akita parte para o ataque”, descreve o criador. “Como dizem os japoneses, ele é ‘silencioso como a floresta e rápido como um raio’. Trata-se de uma memória atávica da raça, já que uma de suas funções originais era participar de caçadas a ursos, nas quais, para achar tal animal, tinha que se movimentar silenciosamente.
Assim, se alguém invadir a casa do tutor de um Akita, a pessoa não ouvirá seu latido, mas poderá encontrá-lo pronto para agir ao se virar de costas ou mesmo a sua frente, sem ter percebido isso”, afirma Maria Grazia. “O Akita avisa sobre a presença do estranho por meio de latidos que não se prolongam e, após isso, emite rosnados ferozes. Ele é aquele tipo de guardião que deixa o estranho entrar, mas não permite que ele saia”, comenta Brigitte. “A raça faz guarda silenciosa, não late em vão, o faz tão somente em situações extremas. Isso garante tranquilidade aos membros da família, pois eles sabem que, quando o Akita latir, algo estranho estará verdadeiramente acontecendo”, finaliza Pedro.
Agradecimentos:
Glauco Soares, canil Shin’Yü – (31) 98752-03933, www.casadoakita.com.br, Instagram: @casadoakita, Facebook: casadoakita
Pedro Lang, canil Tibiquary – (51) 99968-4905, www.akitabr.com.br,akit[email protected], Instagram: caniltibiquary
Por Fabio Bense
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