Conheça quais são eles e tenha um cão equilibrado e feliz em casa

Filhotes: Larissa Baeta
Se você possui um cãozinho, provavelmente já ouviu falar na importância da sociabilização para a saúde e o bem-estar do seu pet. Mas será que você sabe todos os segredos por trás desse processo tão importante? Com certeza não! Sabendo disso, conversamos como adestrador César Augusto Beux e a veterinária Marcela Françoso e descobrimos alguns segredos sobre a sociabilização de cães que muita gente não conhece. Desde a importância de um bom planejamento até a escolha adequada do ambiente, confira aqui tudo o que você precisa saber para garantir uma socialização efetiva e saudável para o seu amigo canino.
A sociabilização em cães é um processo fundamental para garantir que o animal se desenvolva de maneira saudável e equilibrada, além de prevenir problemas comportamentais no futuro. Esse processo envolve expor o cão a diferentes estímulos, como pessoas, outros animais, sons e ambientes, de forma gradual e positiva. É o que explica a veterinária Marcela Françoso, que há mais de 13 anos trabalha no adestramento esportivo de cães e competições. “O cérebro dos cachorros possui uma maior plasticidade nos seus primeiros quatro meses de vida. Isso quer dizer que para os filhotes é mais tranquila a adaptação aos estímulos dos ambientes em que vivem”, diz.
Algumas etapas são essenciais para uma socialização efetiva. E para ajudar nesse processo, separamos 7 segredos que farão toda a diferença se você conhecê-los.
1 SOCIABILIZAÇÃO COMEÇA CEDO
Acreditar que o cão só pode ser socializado de forma tardia, somente após o protocolo de vacinas, é um mito, segundo explica César. Estímulos regulares desde cedo ajudarão o filhote a se desenvolver melhor e a criar respostas mais positivas ao meio. “Todos os dias, em quase todos os momentos, os filhotes devem ser expostos, de forma calma e tranquila, a sons, animais, diferentes tipos de pessoas (adultos e crianças), entre outros elementos que ele irá encontrar em sua vida adulta”, acrescenta Marcela.
Após oito semanas de vida, cabe ao tutor dar sequência ao trabalho e sair o máximo possível de casa com seu filhote. “Se ele não tiver o protocolo vacinal completo, os donos podem fazer passeios com ele no colo”, aconselha a veterinária.
César faz uma comparação interessante com a socialização dos seres humanos. “Vamos fazer aqui uma analogia do cão com o humano. Em nosso exemplo, vamos imaginar um cão de pequeno porte, que tem sua fase adulta alcançada em poucos meses. Se esse filhote não sair de dentro do apartamento até que todas as vacinas sejam aplicadas, ele só terá acesso a esses momentos após os quatro meses de idade. É como se uma criança só saísse de casa aos 6 ou 8 anos”, compara o especialista.
Muitos problemas futuros relacionados ao medo e reatividade podem ser reduzidos e até evitado nessa fase. “Filhotes que são criados em ambientes sem estímulos podem apresentar problemas comportamentais e de adaptação por toda a vida”, alerta Marcela.
Embora os profissionais indiquem a socialização desde filhote, César indica que esse animal seja levado aos ambientes adequados. “Da mesma forma que não levaríamos uma criança no início de sua vida a um ambiente hostil, também não devemos expor os cães a esses locais”, conta.
2 CONVÍVIO COM A MÃE E IRMÃOS
A mãe e os irmãos são o primeiro contato social do cachorro e desempenham um importante papel em seu aprendizado e socialização. O filhote observa a mãe e seu comportamento em relação ao ambiente e, muitas vezes, a imita. “Desse modo, mães medrosas ou agressivas tendem a criar filhotes mais inseguros e reativos se comparados com filhotes que tiveram mães mais pacientes e carinhosas”, explica.
Os irmãos também são fundamentais na formação do filhote, pois é entre mordidas e brincadeiras que aprendem limites e a linguagem canina, o que futuramente servirá para a interação correta com outros cães e humanos. “Por isso mesmo que filhotes únicos necessitam de atenção especial do criador para ter o devido desenvolvimento social”, complementa Marcela.
É recomendado que filhotes não deixem a ninhada antes de pelo menos 60 dias de vida. De acordo com um estudo comparativo, publicado em 2011, 70 filhotes separados dos cuidados maternos entre 30 e 40 dias tinham significativamente maior probabilidade de exibir comportamento destrutivo, latidos excessivos, medo em caminhadas, reatividade a ruídos e possessividade para alimentos e brinquedos. “Esse maior tempo do filhote com a ninhada, associado à aplicação de protocolos de sociabilização, fará com que o filhote chegue muito mais preparado para aproveitar seu novo lar de forma tranquila e sem traumas”, aconselha Marcela.
3 NÃO BASTA CRIAR COM AMOR
Há casos de cães que não foram devidamente sociabilizados na fase adequada, mas há também casos de indivíduos que não são sociáveis. “A genética nos caninos fala muito alto no que diz respeito ao comportamento, principalmente se comparados aos seres humanos. Ao adquirir um filhote, o ideal é sempre ter acesso aos pais e se possível também aos avós deste filhote”, indica César.
O comportamento destes cães mais velhos dirá um pouco do que poderá ser este indivíduo no futuro. “Não acredite em fábulas como ‘basta criar com amor’ ou ‘não é a raça e sim como se cria’. Note que muitos cães e raças foram desenvolvidos através de décadas ou mesmo séculos, onde geração após geração desenvolviam um papel, e os indivíduos que se destacavam eram usados como reprodutores”, complementa.
Isso significa que há cães com uma predisposição a serem agressivos com outros cães ou a demonstrarem ojeriza a humanos. “De qualquer forma, toda vida deve ser tratada com respeito”, alerta César, que, para ele, entender o indivíduo e proporcionar uma vida digna e segura é de responsabilidade do proprietário do cão.
4 CÃES MAIS VELHOS E ARREDIOS PODEM SER SOCIABILIZADOS
Cães com histórico de maus-tratos e privação terão mais dificuldades em se adaptar a um novo ambiente, mas saiba que essa missão não é impossível. “O primeiro passo é identificar os possíveis gatilhos dos comportamentos indesejados e trabalhar em cima deles. O cão nunca deverá ser forçado a fazer alguma coisa, e sim muito premiado e estimulado por cada nova conquista”, aconselha Marcela.
Proporcionar um ambiente seguro e afetuoso para o cachorro também é fundamental para que ele possa aprender, aos poucos, a lidar com todas as situações dessa mudança. “A sociabilização é sempre gradual. Temos que respeitar os limites de cada cão. Dependendo dos prejuízos na socialização e traumas que o animal tenha, podem ser necessários muitos meses de dedicação”, completa a médica-veterinária.
5 CÃES ADULTOS TAMBÉM PODEM APRENDER
Há um mito que diz que cães adultos não aprendem mais. Porém, os entrevistados apontam que cachorros são animais muito inteligentes e aprendem por toda vida. É claro que nos primeiros meses a janela do aprendizado é muito mais simples e com resultados mais rápidos e duradouros. Com as técnicas certas, amor e um atendimento multidisciplinar, com veterinário, adestrador, entre outros, será possível melhorar a vida desse animal que chegou a um lar já adulto.
6 O SER HUMANO É PROTAGONISTA NA SOCIABILIZAÇÃO DO SEU CACHORRO
Embora os profissionais façam trabalhos maravilhosos, o manejo de todo o ambiente que o filhote terá é de responsabilidade do tutor. Isso quer dizer garantir as melhores experiências e respostas possíveis, evitando traumas e expondo o animal ao máximo de elementos possível para que ele entenda como o nosso mundo funciona. “Filhotes que são seguros e apresentam resposta tranquila ao ambiente possuem uma qualidade de vida muito maior, pois o tutor poderá sempre estar com ele na maior parte dos locais, o que contribuirá ainda mais com sua socialização”, diz Marcela.
7 AMOR, TÉCNICA E DEDICAÇÃO SÃO OS PILARES DA SOCIABILIZAÇÃO
Para que o processo de sociabilização seja eficiente, é fundamental que haja amor e carinho envolvidos, pois o cão precisa se sentir seguro e confiante. Porém, como César explicou anteriormente, só isso não é o suficiente. “É preciso utilizar técnicas adequadas e seguras, que levem em consideração as características individuais de cada cão, tudo para garantir que ele se adapte aos diferentes estímulos de forma positiva”, conta. Por fim, a dedicação e o comprometimento do tutor são essenciais para que o processo seja bem-sucedido e o cão se desenvolva de maneira saudável e equilibrada. Com amor, técnica e dedicação, a sociabilização pode ser uma experiência gratificante e enriquecedora para cão e tutor. “Queremos que os cães façam parte de nossa sociedade, de nossas famílias, mas devemos ser responsáveis com os cães os respeitando como espécie, respeitando a natureza canina, proporcionando a eles atividades essenciais a sua espécie. A busca por um profissional capacitado pode ser decisiva neste processo, para que o cão saiba como se comportar com outros cães e mesmo com os humanos”, conclui César.
Agradecemos a colaboração de César Augusto Beux, do Centro de Adestramento Vale da Neblina em Farroupilha-RS. Criador de cães da raça Pastor Belga Malinois. Árbitro de adestramento pela CBKC. Treinador e competidor da modalidade esportiva canina chamada Mondioring. Fornece capacitação e mentorias a outros adestradores. Vice-presidente do Kennel Clube de Caxias do Sul e Marcela Françoso, Médica-veterinária especializada em fisioterapia veterinária. Treinadora, competidora e juíza de Agility CBKC, há mais de 13 anos está envolvida no adestramento esportivo de cães e competições, tendo sido membro da Seleção Brasileira de Agility por 3 anos. Participou de inúmeros seminários internacionais de Agility/Adestramento, além de campeonatos em vários países. Trabalha também com consultoria para criadores de cães abordando temas como: manejo, socialização de filhotes, prevenção de doenças da raça, orientação sobre cores e padrão, enriquecimento ambiental etc. É proprietária do Instagram @geneticao, onde fala sobre a criação responsável de cães.
Por Juliana Farias
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