Será que eles sentem vergonha ou culpa? Escutam melhor do que nós? Podem prever uma tempestade? Confira estas e outras respostas sobre o seu cão

Para ajudar os donos de pets a entenderem melhor a espécie canina, conversamos com dois grandes especialistas em comportamento animal: Alexandre Rossi, zootecnista, veterinário e apresentador, e Leonardo Ogata, adestrador e sócio fundador da Tudo de Cão e Cão Inclusão. Juntos, eles compartilharam suas experiências e conhecimentos para elaborar esta lista com 10 verdades que vão te ajudara desvendar os segredos dos nossos fiéis companheiros.
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1 – CÃES EXPERIMENTAM EMOÇÕES BÁSICAS
Donos de cães, muitas vezes, acreditam que seus cachorros são bons em captar suas emoções. Isso não é apenas imaginação. Para Leonardo Ogata, os cães experimentam emoções básicas como alegria, medo, raiva, nojo e surpresa. “Entender isso vai ajudar a estabelecer uma relação mais saudável com o animal de estimação”, diz.
Ele explica ainda que cães têm habilidades cognitivas que lhes permitem resolver problemas, aprender com a experiência e se adaptar ao ambiente. “Eles também podem entender comandos, sinais e gestos humanos e até mesmo aprendem a imitar ações humanas em alguns casos”, acredita.
Alexandre Rossi explica que os cães demonstram diversos tipos de inteligência, emoções e enorme capacidade de se comunicar com os seres humanos. É importante, inclusive, entender melhor como o cérebro desses animais funciona. O especialista explica: “as diferenças entre o cérebro humano e o canino, assim como de outros mamíferos, estão mais relacionadas ao tamanho das áreas alocadas em determinadas estruturas ou regiões do que às diferenças nos neurotransmissores e na estrutura”.
2 – NÃO SENTEM VERGONHA OU CULPA
De maneira geral, os cientistas não acreditam que os cães sejam capazes de sentir vergonha ou culpa. Isso não quer dizer que eles não sintam diversas emoções, como falamos no tópico anterior. O que é preciso compreender é que várias emoções que sentimos estão ligadas à ética, moral ou um grau de consciência que os animais não possuem. “Várias dessas emoções não parecem estar presentes nem em seres humanos muito novos. Acredita-se que grande parte dos tutores interpretam de forma equivocada comportamentos associados a ansiedade, medo e submissão, como culpa ou vergonha”, conta Rossi. Isso porque cachorros que demonstram submissão ou medo podem desviar o olhar, se encolher, sair de perto e olhar para baixo, de forma semelhante a seres humanos envergonhados ou se sentindo culpados.
3 – MEMÓRIA CANINA
Segundo Ogata, cães possuem memória de curto e longo prazo. “Estudos indicam que eles têm a capacidade de associar acontecimentos passados com o presente, mesmo que esse processo não ocorra como acontece com os seres humanos”, acrescenta.
Cães são capazes de relembrar eventos específicos, um dos poucos animais que possuem essa habilidade. “Isso significa que, além de reconhecer comandos e elementos do passado, os cães têm a capacidade de recordar momentos específicos de suas vidas”, expõe.
A memória dos cães é complexa e ainda não pode ser completamente compreendida. Não é possível saber com certeza quais detalhes dos eventos foram lembrados pelos animais, como quem estava presente, quais objetos ou quais sons foram ouvidos.
4 – ELES ENTENDEM E INTERPRETAM SINAIS HUMANOS
Cães usam uma variedade de sinais vocais, corporais e faciais para se comunicar com humanos e outros animais. “Eles também são capazes de entender e interpretar sinais humanos, como a linguagem corporal e o tom de voz”, diz Ogata.
Hoje, verifica-se que a principal diferença entre o cão e os outros animais está na relação que eles desenvolvem com os seres humanos. Normalmente, são extremamente colaborativos. “Muito mais colaborativos com humanos do que com os próprios cães”, completa.
5 – OLFATO BIÔNICO
O olfato dos cães é muito mais avançado e sensível do que o dos seres humanos, e essa diferença se deve a várias adaptações anatômicas e fisiológicas. Aqui estão algumas das principais diferenças entre o olfato canino e o humano: “cães têm muito mais receptores olfativos do que nós. Dependendo da raça, podem ter entre 125 milhões e 300 milhões de receptores olfativos, enquanto os humanos possuem apenas cerca de 5 milhões. Essa diferença torna o olfato dos cães muito mais sensível e preciso”, sinaliza Ogata.
A utilização de cães de trabalho que explorem esse sentido também é extremamente importante. Muitas instituições vêm utilizando o olfato para treinar cães de serviço para alguns alertas médicos (hipoglicemia, epilepsia e alergias, entre outros).
Ogata lembra um caso interessante que ocorreu na Espanha. “Um padrasto estava sendo acusado de abusar sexualmente de uma criança. No entanto, não havia nenhuma prova contundente no caso. Um cão foi treinado para detectar sêmen. Esse cão passou no quarto em que a criança dormia e indicou restos de sêmen do padrasto. Com essa prova, ele foi condenado. Um detalhe: o evento supostamente havia ocorrido um ano antes. Ou seja, o cão identificou uma amostra mais de um ano depois”, relembra.
6 – AUDIÇÃO APURADA
Muitos sons que seu cachorro escuta você não escuta. Os cães escutam frequências diferentes dos seres humanos. Os seres humanos normalmente escutam frequências entre 20 e 20 mil Hz, enquanto os cães podem escutar entre 10 (ou 40, estudos divergem) e 40 mil (ou 60 mil) Hz. Isso significa que muitos sons que eles escutam nós não escutamos. “Além disso, a audição pode ser mais sensível (escutar volumes mais baixos) do que a nossa. Outra grande diferença está na precisão da localização sonora. Eles conseguem, através do movimento das orelhas, determinar de forma muito mais precisa a origem do som”, explica.
Ogata alerta que entender tais mecanismos nos ajuda a ter mais empatia com os cães. Conhecê-los melhor nos faz conhecer quais são as reais necessidades deles e o que precisam para ter qualidade de vida. “Ao entendermos o poder olfativo do cão, torna-se mais fácil dar um destino a esse sentido tão importante. Enriquecimento ambiental que explore esse sentido tende a ser essencial para o seu bem-estar”, completa.
7 – PREMONIÇÃO DE TEMPESTADES
Ao entendermos as sutilezas da audição, começamos a perceber o porquê de muitos cães começarem a mostrar sinais de medo horas antes de uma tempestade chegar. E isso pode e deve ser utilizado para o treinamento. “Quanto mais conhecemos as potências do cão, mais claro fica como devemos estabelecer uma rotina que explore essas potências. É preciso ter em mente que se o cão não a explorar, pode ter uma vida monótona e pouco estimulada”, diz Ogata.
8 – TEORIA DA DOMINÂNCIA PODE PREJUDICAR O PET
Infelizmente, ainda hoje, muitos tutores (e treinadores) acreditam na dominância como uma ferramenta de treino. “É preciso saber que ela contém inúmeras falhas, pois é baseada em estudos desatualizados”, alerta Ogata.
A teoria da dominância é baseada em estudos de lobos realizados na década de 1940, que observaram lobos em cativeiro e concluíram que eles formavam hierarquias lineares baseadas na agressão e na submissão. No entanto, pesquisas mais recentes sobre lobos selvagens mostram que eles vivem em estruturas familiares cooperativas e não em hierarquias rígidas baseadas na dominância. “A teoria da dominância promove o uso de técnicas de treinamento baseadas em punição e controle, como alpha rolls e coleiras eletrônicas. No entanto, pesquisas mostram que esses métodos podem ser ineficazes e até prejudiciais, levando ao medo, ansiedade e aumento da agressão nos cães”, acredita o adestrador da Tudo de Cão.
É preciso saber também que a teoria da dominância ignora a complexidade da comunicação e aprendizagem canina, atribuindo problemas comportamentais a um desejo de dominar. “Na verdade, muitos problemas comportamentais resultam de medo, ansiedade, falta de socialização ou treinamento inadequado”, completa Ogata.
9 – ALGUMAS BRONCAS NÃO FUNCIONAM
Alexandre Rossi explica que é praticamente consenso entre os pesquisadores que dar bronca quando chegamos em casa e encontramos algo destruído só piora o problema. “Isso não deixa claro para o cachorro o que ele não deve fazer e, além disso, aumenta a ansiedade dele quando tiver que ficar sozinho novamente”, alerta. Mostrar o objeto destruído ou apontar o xixi que ele fez em lugar errado não é percebido por eles da forma que nós gostaríamos, segundo Rossi. “Para eles, a associação pode ser a seguinte: quando meu tutor aponta para algum lugar e olha com cara feia para mim eu posso apanhar. E essa associação está completamente distante de associar a bronca com fazer xixi em lugar errado”, explica.
10 – MUITOS MISTÉRIOS AINDA SÃO DESCONHECIDOS
Embora sejamos todos apaixonados por esses pets amorosos e companheiros, é fato que ainda há muito a ser explorado sobre como a mente canina funciona. A boa notícia é que as pesquisas estão cada vez mais inovadoras e tecnológicas. Rossi acredita que as técnicas para obter ressonância magnética nos cachorros somente com treinamento e sem sedação abriram as portas para infinitas comparações entre o funcionamento do cérebro humano e canino. “Pela primeira vez na história estamos sendo capazes de observar com detalhes o funcionamento do cérebro canino diante de diversos estímulos e sendo capazes de compará-lo com o humano com o mesmo equipamento e em situações semelhantes”, conta. Ele ainda explica que estão sendo confirmadas semelhanças enormes entre a forma de processamento do cérebro canino e do humano. Nós, da Cães & Cia, estamos ansiosos para descobrir mais sobre a mente desses pets. E você?
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Agradecemos a colaboração de Alexandre Rossi, Graduado em Zootecnia pela Universidade de São Paulo (USP) e em Medicina Veterinária pela FMU. Possui especialização em Comportamento Animal e obteve o primeiro título de especialista nesta área na Universidade de Queensland (Austrália), em 1997. Fundador da Cão Cidadão, Alexandre é também autor de sete livros. É também membro do Conselho de Bem-Estar Animal do CRMV-SP (BEA) e da Association of Professional Dog Trainers (APDT) e Leonardo Ogata, Adestrador e sócio fundador da Tudo de Cão e Cão Inclusão. Formado em Física pela USP, trabalha com cães desde 2002 nas mais diversas áreas do treinamento canino: Cães de companhia; Cães de esporte, como Agility, Frisbee e Flyball; e cães de trabalho, como Pastoreio e Cães de Assistência. Dirige a Tudo de Cão, responsável pelo treinamento da equipe.
Por Juliana Farias
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