Schipperke: um cão para toda obra

Destemido e cheio de energia, eis um grande cachorro em “pacote pequeno”

Foto: Johnny/Cão: Batman/Propr.: canil Devonshire
Schipperke e sua pelagem espetacular, totalmente preta e brilhante

Ela é a menor raça canina entre as reconhecidas em definitivo no grupo 1 da Federação Cinológica Internacional (FCI), as voltadas ao pastoreio. “E sua única cor de pelagem permitida é a preta, sendo que o pelo, no pescoço, é um pouco mais longo que no resto do corpo, formando uma espécie de juba, que fica mais evidente nos machos”, diz Jeniffer Sthesami, do canil Devonshire, de Embudas Artes, SP. As peculiaridades do Schipperke não param por aí. “Uma característica especial desse cão é que ele pode nascer sem cauda ou com ela curta, a chamada bobtail”, explica a bielorrussa Katerina Borovtsova, do canil Ladny Svet. E, além do físico, a raça também se destaca pelo temperamento. “Ela é extremamente inteligente, muito curiosa e está sempre pronta para aprender”, afirma Jeniffer.

Foto: Johnny/Cão: Batman e Barbie/Propr.: canil Devonshire
Como companheiro, o Schipperke tem tudo para se tornar um dos cães favoritos das famílias brasileiras
Foto: Johnny/Cão: Batman/Propr.: canil Devonshire
Criadora Jeniffer Sthesami com um de seus exemplares da raça

HISTÓRIA
A origem desses cães remonta ao século XVII, quando eram utilizados em sua terra natal, a Bélgica, para capturar camundongos, ratos, toupeiras e outros animais daninhos. Além da nacionalidade, ele compartilha algumas semelhanças estruturais com o Pastor Belga Groenendael, como a cor preta da pelagem; o mesmo tipo afilado de focinho; e as orelhas pequenas, eretas e triangulares. Uma das diversas versões sobre a história da raça afirma inclusive que ambos descendem de um mesmo cão, o já extinto Leauvenaar, que tinha aspecto similar ao deles e tamanho intermediário (o Schipperke é bem menor que Pastor Belga Groenendael: tem de 3 a 9 kg enquanto o Groenendael pesa de 20 a 30 kg).
Em 1888, o clube belga da raça foi fundado e o padrão racial aprovado. Até recentemente ele previa que as caudas do Schipperke fossem amputadas por cirurgia. “Hoje em dia, há alguns criadores pelo mundo que continuam adotando a operação, mas tais cães estão proibidos de ser exibidos em exposições em alguns países da Europa”, relata Katerina, que admite gostar do Schipperke sem cauda ou com bobtail. “Assim, fico muito feliz quando eles nascem naturalmente em meu canil”, completa ela. “Todos os meus exemplares são de cauda longa. Mas ainda este ano irei trazer o meu primeiro Schipperke bobtail para o Brasil”, relata Jeniffer. Katerina explica: “A cauda afeta bastante o aspecto exterior da raça: mesmo com todas as outras características semelhantes, cães com e sem cauda parecem diferentes”.

Foto: Arquivo do criador (canil Devonshire)
Primeira ninhada de Schipperke obtida por Jeniffer, em 2022

POPULARIDADE
Tudo indica que os Estados Unidos são o país com a maior quantidade de canis que criam a raça Schipperke atualmente. Apesar da maior associação cinófila daquele país, o American Kennel Club (AKC), não divulgar o número de registros emitidos para as raças desde 2010, estima-se que cerca de 500 desses cães são registrados anualmente pela entidade. “Além de o Schipperke ser popular por lá, os criadores americanos vêm fazendo um excelente trabalho pela raça com relação a tipicidade, temperamento, estrutura e saúde”, afirma Jeniffer.

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Oficialmente, o país campeão em emissão de pedigrees para exemplares da raça foi a França, com 362 registros pela Société Centrale Canine em 2022, ano mais recente com esse tipo dedado disponível. “Quanto à qualidade, a Europa, no geral, tem se destacado bastante, gerando belos cães da raça e, inclusive, a base do plantel aqui no Brasil é europeia, entre holandeses, franceses e russos”, informa Jeniffer. Katerina explica que, no país dela, seu canil se destaca como o melhor de Schipperke. “Possuo atualmente o primeiro e até então único exemplar da raça campeão internacional da Bielorrússia em exposição da FCI”, orgulha-se ela, que acrescenta: “A popularidade do Schipperke vem crescendo em meu país e isso tem ocorrido entre experts em cães, particularmente criadores de raças de pastoreio, pois eles estão percebendo que é muito mais fácil manter o Schipperke, em virtude de seu tamanho. E, naturalmente, um especialista, tendo conhecimento nesta área e valorizando a sua reputação, não gera exemplares ruins e sim utiliza todos os conhecimentos disponíveis para preservar e melhorar a qualidade da raça. Isso explica, entre outras coisas, o porquê da criação de Schipperke ter atingido um nível alto na Bielorrússia, onde hoje em dia há muitos bons e bem conhecidos canis da raça”, informa Katerina, que iniciou a criação importando cães russos.
Jeniffer importou recentemente um exemplar criado por Katerina.“Também tenho um casal que adquiri no Brasil e duas filhotes fêmeas que nasceram no meu canil, conta ela, que já vendeu filhotes de Schipperke para tutores em Brasília, Manaus, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. “Há atualmente seis ou sete criadores da raça no País, espalhados nas regiões Sudeste e Norte”, estima Jeniffer. Em território verde-amarelo, desde 1998, o Schipperke conta com registros concedidos pela Confederação Brasileira de Cinofilia. O maior número ocorreu em 2015, quando109 exemplares da raça receberam pedigrees. Mas, em 2022, apenas 15 exemplares foram registrados. “O Schipperke ainda é bem pouco conhecido por aqui e pouco divulgado também. Quem sabe se um dia fizerem um filme ou propaganda com a raça ela ficará famosa em nosso país. Por ora, ela é adquirida por pessoas que amam cães e estudam sobre eles ou por indicação de alguém”, comenta Jeniffer.

Foto: Jelena Saga/Criador: canil Ladny Svet
Schipperke praticando agility: a raça sobressai também no freestyle (cão e dono executam coreografias musicais por meio de passos sincronizados) e frisbee (no qual o exemplar persegue um disco a fim de agarrá-lo antes que caia)
Foto: Edmilson Reis/Cão: Ladny Svet Rock’n Roll (Robin)/Propr.: canil Devonshire
Macho importado por Jeniffer – em exposição recente, ele obteve o título de campeão inicial e foi 5º de Best in Show nessa classe com o juiz David Power, dos Estados Unidos

AGILITY
Por ser muito atlética, ativa, ágil e incansável, a raça é utilizada em funções diferenciadas, como pastoreio, e em esportes caninos, a exemplo do agility. “Um dos cães de minha criação, que vive na Estônia, compete nesse esporte e tem conquistado ótimos resultados”, comenta Katerina.
No Brasil, o Schipperke que nos últimos anos conseguiu os títulos mais importantes foi o Ty, conduzido pela dona, Fernanda Lesnau, de Curitiba. “Ele competiu até 2012 e foi o único da raça até o momento a chegar no grau 3, o nível mais alto no agility nacional”, destaca ela, que acrescenta: “Foi também campeão brasileiro, nos graus 1 e 2, e vice-campeão individual da categoria small da edição 2011 da Américas e Caribe, realizada na Colômbia”. Ty faleceu em 2017. “Ele fazia de tudo por mim – costumo dizer que foi o melhor cachorro do mundo e, não à toa, está inclusive tatuado no meu corpo – e então conseguimos esses resultados expressivos, mas não considero a estrutura do Schipperke perfeita para o agility: apesar de pequeno, ele tem corpo forte, musculoso e robusto, que aparenta sera inda mais pela pelagem abundante”, relata Fernanda.
Até recentemente, havia nove exemplares da raça participando de provas oficiais do esporte em nosso país, mas hoje em dia apenas um deles permanece coma carteira ativa de competidor, no grau 1: trata-se da Mowgli, do Rio de Janeiro, conduzida por Simone Bacellar. “Mowgli é totalmente agarrada comigo”, conta ela.

Foto: Arquivo de Denis Costa
“Desde filhote, Backer se mostrava ativa e isso ficou ainda mais visível com o andamento dos treinos”, conta Denis

RASTREADOR DE DROGAS
No Brasil, há um Schipperke que vem passando por treinamentos operacionais para farejar entorpecentes em rodoviárias e aeroportos. Trata-se da fêmea Backer, que nasceu no canil de Jeniffer há cerca de 1 ano. Ela está sendo adestrada para tal função por Denis Costa, de São Paulo, formado em cinotecnia. “Foi inclusive durante o curso que um colega, da Força Nacional portuguesa, me indicou a raça e de pronto achei-a interessante”, explica Denis. Ele relata também que o processo de seleção do filhote de Schipperke para a função se iniciou desde os primeiros movimentos após o nascimento da ninhada em que Backer veio ao mundo. “Com 3 meses, ela começou os primeiros testes com os protocolos de treinamentos para entorpecentes sintéticos e hoje Backer faz os treinos também para material bélico como, por exemplo, pólvora e armas”, conta Denis.
Ele completa: “Eu escolhi essa raça para tal trabalho por ser compacta e de fácil manuseio e transporte. São traços importantes para esse tipo de serviço, pois, dentro de uma operação com cães em ônibus de viagem e aeronaves, com ela se torna fácil o rastreamento em pequenos espaços”, explica Denis. Ele comenta também que, além das narinas altamente preparadas para sentir cheiro, rastrear e mapear os odores, entre as características positivas mostradas por Backer e da própria raça para essa função estão o foco alto, a energia ao brincar (e o cão deve encarar o treino como uma brincadeira) e o fato de ser protetora de seu ambiente. “Uma dificuldade que venho observando ocorre em treinamentos externos e está relacionada ao fato de, até por Backer pertencer a uma raça não muito comum, as pessoas quererem passar a mão e fazer carinhos nela. Por ser um cão operacional, não devemos deixar isso perdurar para esse tipo de situação”, relata o cinotécnico. Denis finaliza: “O treino com cachorros é constante, precisa ser sempre encarado como algo prazeroso para o cão, e acredito que próximo dos 15 meses ela já esteja seguindo carreira efetiva no operacional”.

ÓTIMO NA COMPANHIA
Jeniffer diz que o Schipperke é tão perfeito nessa função, que, geralmente, o tutor acaba adquirindo um segundo cão da raça. “Ama estar com sua família humana e é de fácil socialização”, conta. Katerina concorda: “De fato é apegado às pessoas da casa e facilmente socializado”. Segundo ela, a raça se adapta a quase todo tipo de tutor. “Só não o recomendo para pessoas caseiras. Ademais da estreita interação emocional com o dono, esportes e passeios frequentes são fatores essenciais para esse cão conseguir aproveitar plenamente a vida”, justifica ela, que ressalta também que o Schipperke é excelente com crianças por ser alegre, ativo, gentil e ter energia de sobra para brincar com a garotada. “Além disso, por ser pequeno, não brinca de maneira estabanada com elas”, completa Jeniffer. Ela destaca ainda o fato de esses cães conviverem bem com outros cachorros, tanto machos como fêmeas. “Os meus compartilham a vida juntos e convivem super bem – trata-se de uma matilha de, ao todo, 14 cães, incluindo até Chihuahuas, em uma área de 200 m²”, relata Jeniffer, que ressalta também o fato de eles aceitarem bem outras espécies. “Como, por exemplo, coelho e aves”, conta a criadora.
O Schipperke é ainda constantemente interessado nos arredores e tem sentidos excepcionalmente apurados, características que o tornam um ótimo cão de alarme para evitar que estranhos de má intenção entrem no território de seus donos. “Seu nome significa ‘pequeno capitão’, e ele faz jus a isso – bem reservado com desconhecidos, vive em alerta e querem todo momento estar por dentro dos acontecimentos”, diz Jeniffer.

Foto: Arquivo do canil Ladny Svet
O Schipperke é gentil com crianças e, por ser pequeno, não brinca de maneira estabanada com elas
Foto: Arquivo de Julio Patricio Orbenes (@jukaorbenes)/Cão: Ladny Svet Rock’n Roll (Robin)/Propr.: canil Devonshire
Sempre pronto para aprender, o Schipperke ocupa o 15º lugar entre 133 raças e variedades no livro A Inteligência dos Cães

MANUTENÇÃO
A raça tem pouquíssimo cheiro. “Eles são bem cheirosinhos e autolimpantes”, confirma Jennifer. Além disso, apesar de a pelagem ser abundante e grossa, o pelo deles é reto e quase não embaraça. Por conta da textura áspera, forma uma excelente proteção junto do subpelo denso e macio, de maneira que a pelagem deste cão praticamente não adere à umidade ou sujeira. “Recomendo escovação de dez em dez dias e banhos a cada um ou dois meses”, diz Jeniffer. “O cuidado com a pelagem é realmente mínimo, com exceção do período da muda nas épocas quentes, quando o ideal é escovar esse cão mais vezes”, conta Katerina.

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Agradecimentos:
Denis Costa – (11) 99947-3402, Instagram: @projetok9 e @six_starpet
Jeniffer Sthesami, canil Devonshire – (11) 96307-0660, Instagram: @jackeschipperke
Katerina Borovtsova, canil Ladny Svet – [email protected], Instagram: @kennel_ladny_svet, Facebook: Katerina Borovtsova

Por Samia Malas



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