Cocker Americano X Cocker Inglês

Essas duas raças Spaniel são incríveis e compartilham características semelhantes, mas possuem também várias diferenças

Eles foram desenvolvidos na segunda metade do século XIX a partir dos mesmos ancestrais e, por muitos anos, o Cocker Spaniel Americano e o Cocker Spaniel Inglês foram considerados uma única raça. “Os antepassados de ambos foram usados para caçar pequenas galinhas, as chamadas galinholas. Em virtude do seu tamanho – eram menores que outros spaniels –, se ajustavam melhor ao ambiente típico dessas aves, ou seja, áreas com mato”, explica a árbitra cinófila das duas raças, a norte-americana Nancy Gallant.
Os britânicos desenvolveram o Cocker Inglês selecionando os pequenos spaniels que mais lhes agradavam. Os americanos, que na época já importavam cães da Grã-Bretanha, fizeram o mesmo, mas demonstraram preferências por exemplares com características ligeiramente diferentes. “Eles privilegiaram cães ainda menores, com focinho mais curto, cabeça e olhos mais arredondados, testa mais longa e cauda de inserção mais alta”, comenta Carol Hanson, que cria ambas as raças pelo canil Le Domaine d’Haïsha, da Bélgica. “Quanto ao temperamento, as duas oferecem muito como cão de família, sendo brincalhonas, afetuosas, alegres e extrovertidas naturalmente e fazendo questão de agradar seus donos”, afirma Linda Reed, que cria ambas as raças pelo canil Delindere, do Reino Unido.
O Cocker Spaniel Inglês é o Cocker mais popular na maioria dos países. Em 2023, considerando 17 importantes cinofilias, apenas no Canadá, nos Estados Unidos e no Japão houve mais pedigrees emitidos para Cocker Americano.
No mesmo ano, foram 39 exemplares registrados pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) contra 396 do Inglês. Este último, desde pelo menos 1981, sempre contou com mais registros em nosso país. “Acho que isso ocorre por falta de divulgação do Cocker Americano. Os brasileiros acabam procurando o Inglês por ser o Cocker que eles conhecem”, afirma Daniela Ramos, que cria ambas as raças pelo canil Little World Dog’s, de Campo Limpo Paulista, SP. Carol e Nancy dizem que a razão da maior popularidade quase unânime do Cocker Inglês no resto do mundo está relacionada ao fato de que sua pelagem é mais fácil de cuidar. “O Americano tem muito mais pelo, exigindo maior manutenção: o ideal é que seja escovado ao menos três vezes semanalmente, enquanto, para o Inglês, basta uma vez por semana”, ilustra Daniela.

DESTAQUES DO COCKER AMERICANO

Aceitação de crianças: o Cocker Americano interage mais com crianças, tomando mais iniciativa para brincar. É o que afirmam Carol e Nancy. Esta última comenta: “O Cocker Inglês é muito voltado para seus próprios tutores”. Renan Bernardes, do canil Velvet Hugs, de São Paulo, exemplifica: “Alegres e carinhosos, os meus cães Cocker Americano se dão muito bem com crianças e juntos brincam de correr, com bola ou cabo de força, que são as interações que mais gostam”. Linda pondera: “Contanto que as crianças sejam ensinadas a respeitar cães, ambas as raças irão aceitá-las como se fossem adultos pequenos”. Daniela concorda: “Em geral, os dois se dão bem com a garotada”. Renan relata: “Exemplares de Cocker Americano têm sido treinados para suporte emocional e para lidar com crianças com transtorno do espectro autista, devido a sua amabilidade e equilíbrio”. Nancy e Daniela consideram o Cocker Americano mais adequado como cão terapeuta. “Ele é mais calmo”, justifica Daniela. Carol completa: “Ambos são adequados nessa função, mas, de fato, talvez o Americano seja mais paciente”. Linda informa: “Acredito que as duas raças são extremamente voltadas nesse serviço e, em meu país, sei de exemplares de Cocker Inglês usados em diversos tipos de trabalhos com terapia”.

Capacidade de aprendizado: Daniela afirma que os exemplares de Cocker Americano assimilam mais rapidamente os comandos do dono: “São mais obedientes tanto no momento de ir ao banho e tosa como durante passeios, assim como na hora da alimentação. Eles não roubam a comida do coleguinha”, explica. Renan garante: “Com pouco treino – três sessões, pelo próprio tutor, de 10 a 15 minutos cada –, os meus cães Cocker Americano já conseguem executar ordens básicas, como senta e dá a patinha”. Porém, ambas as raças têm excelente capacidade de aprender comandos, conforme mencionam Carol, Nancy e Linda. Esta última afirma: “Especialmente se forem recompensados com comida – todo Cocker irá fazer qualquer coisa por um saboroso petisco”. Nelson Segalla, que cria Cocker Inglês pelo canil Falklands, de São Roque, SP, finaliza: “Desde muito novinho, o Cocker Inglês tem um desejo muito grande de agradar ao tutor, além de possuir um grau de inteligência e de capacidade de aprendizado bastante bons”.

DESTAQUES DO COCKER INGLÊS

Apego ao dono: O Cocker Inglês é mais apegado ao dono que o Americano. É o que atestam Daniela, Nancy e Linda. Esta última justifica: “Ele se destaca mais nesse quesito por não ser tão independente”. Nelson, que também é juiz cinófilo pela CBKC para vários grupos – incluindo o de ambas as raças – e árbitro especialista para o Cocker Spaniel Inglês, explica: ”Apesar de eleger uma pessoa como favorita, o Cocker Inglês devota amor a toda a família. Ele tem uma capacidade muito grande de adaptabilidade à vida dos humanos. Se o dono quiser caminhar, correr, nadar na piscina ou passear no shopping com o Cocker Inglês na guia, ele irá acompanhá-lo; se o dono estiver em casa assistindo a uma série de TV, ele vai estar junto, preferencialmente encostado bem perto. É um cachorro sempre disposto a estar com o tutor em qualquer atividade. Um Cocker Inglês vai dar a seu dono todo o amor desse mundo e vai esperar receber o mesmo”. Vale ressaltar que, conforme salienta Carol, ambas as raças se destacam nesse tópico, sendo excelentes parceiras do proprietário.

Atividade: Carol, Daniela e Nancy sentenciam: o Cocker Americano é menos ativo que o Inglês. “Este último tem no seu íntimo um desejo de explorar. Trata-se de um cão curioso, que pode estar sendo exposto a diferentes climas e terrenos, sempre buscando algo para trazer ao seu tutor, que, considerando a função de origem da raça, seria o caçador. É um cachorro que concentra grande dose de energia. Eles têm muita vitalidade e boa saúde para atividades ao ar livre com o tutor, como caminhadas ou corridas”, conta Nelson. Linda ressalta que o Cocker Americano também é ativo e gosta de interagir: “Aliás, tive um que se destacava no agility, mas nunca tentei este esporte com o Inglês, embora haja exemplares deste último que, em meu país, competem com sucesso nessa modalidade e também no flyball”. Nancy comenta: “Tanto o Cocker Americano quanto o Inglês são bons para esportes caninos”.

EMPATES

Aceitação de outros animais: Carol e Nancy comentam que tanto o Cocker Americano quanto o Inglês se destacam nesse aspecto. “Meus cães Cocker Americano se dão bem com outros bichos, têm boa afinidade com eles, especialmente em lares que já têm um pet: alegre e disposta, a raça gosta de interagir com eles”, afirma Renan. Nelson comenta: “O Cocker Inglês é tão divino que convive com todas as criaturas deste mundo, com a exceção de animais de penas, cujo convívio se torna mais complexo pelo instinto relacionado à função original de carregar as aves abatidas a tiro pelo caçador. Até com as minhas quatro gatas – vira-latas e da raça British Shorthair – tudo transcorre às mil maravilhas: elas os aceitam e inclusive instigam os meus cães Cocker Inglês para uma carinhosa brincadeira, subindo em algum lugar alto”.

Aceitação de outros cães: Carol, Linda e Nancy afirmam que ambos se dão bem com cachorros de todos os tamanhos. “Mas desde que esses últimos sejam aceitáveis”, pondera Linda. Outra que menciona um pequeno detalhe é Nancy. “Tanto o Cocker Americano quanto o Inglês são bons quanto a esse tópico, mas podem ser um pouco ciumentos”. Renan relata: “Meus exemplares de Cocker Spaniel Americano se adaptam bem a lares que já possuem outros cães ou em hoteizinhos: gostam de correr e brincar com eles, interagindo bastante com outras raças”.

Nelson comenta: “O Cocker Inglês parece pressupor que todos os cachorros vão amá-lo. Possui grau de agressividade muito baixo, quase zero, com outros cães. Em day cares, com grupos de cachorros se divertindo no playground, ele vai chegar como se dissesse: ‘oi galera, cheguei, sou o melhor amigo de vocês’, ou seja, ele se mostra sociável, adaptável, amável, tranquilo, compartilhando brinquedos e não exercendo nenhum tipo de hierarquia sobre a matilha. Eu mesmo tenho exemplares da raça Mastiff Tibetano, além de três Borzois, e jamais houve brigas”.

Destrutividade: para Carol e Nancy, o filhote de Cocker Americano rói mais objetos da casa quando filhote. Já para Daniela e Linda, tal característica é mais presente no Cocker Inglês. Carol diz: “ Exemplares de ambas as raças, com menos de 12 meses, precisam ser condicionados a obedecer em ao ‘não’ no exato momento em que roem algum objeto da casa”. Nelson afirma: “O filhote de Cocker Spaniel Inglês é muito curioso e tem desejo de explorar o mundo. Então o tutor precisa mantê-lo entretido com um divertimento, para que ele não cause danos à casa. Sugiro que tenha um bom espaço para se movimentar e se exercitar, além de fazer o seu banho de sol; que sejam oferecidos a ele brinquedos não destrutíveis, para que nenhuma parte possa ser rompida e engolida; que o ‘pai’ do Cocker Inglês pet proporcione brincadeiras com bolinha em terrenos apropriados, pois esse tipo de atividade proporciona um excelente gasto de energia, além de ser um grande momento de interação, felicidade e aprendizado para o filhote. Estando ocupado, ele não vai destruir. Agora, realmente, se não tiver o que fazer e sem companhia canina ou humana, vai acabar destruindo sim, até como maneira de chamar atenção e dizer que está infeliz”. Renan garante: “Se estimulado para hábitos corretos e tendo um estilo de vida com entretenimento e carinho desde cedo, o Cocker Spaniel Americano não tende a desenvolver hábitos destrutivos indesejáveis”.

Sociabilidade com estranhos: “Não noto diferenças entre as duas raças nesse quesito”, afirma Linda. Carol comenta: “Em geral, ambas as raças são sociáveis com desconhecidos, mas é algo que pode variar conforme, por exemplo, as linhagens e seus próprios criadores”. Renan reforça: “É algo que realmente depende muito da personalidade de cada cão, mas a maioria dos meus exemplares de Cocker Americano saúda, brinca ou pula ao chegar alguém novo no ambiente, e o mesmo ocorre quando encontram outros tutores de cães na rua durante os passeios. Trata-se de uma raça adaptável e sem agressividade”. Nelson ilustra: “Um Cocker Inglês, ao ser levado para o almoço de domingo na casa do avô do tutor, típica ocasião em que se reúne a família, vai cumprimentar todas as pessoas, socializar, festejar, vibrar com esse encontro, se divertir e, no final, vai voltar para perto do seu tutor”.

Agradecimentos:
Carol Hanson, canil Le Domaine d’Haïsha – [email protected]
www.facebook.com/domainehaisha

Daniela Ramos, canil Little World Dog’s – (11) 93325-7833, www.campinasfilhotes.com.br, [email protected], [email protected], Instagram: @petbabyshow e @campinasfilhotes

Linda Reed, canil Delindere – [email protected]

Nelson Segala, canil Falklands – (11) 93800-8134, Instagram: @nelsonsegala, @falklands_cockers, Facebook: Nelson Segala

Renan Bernardes, canil Velvet Hugs – (11) 98378-7967, www.cockeramericano.com.br, Instagram: @cockeramerican.velvethugs

Por Fábio Bense

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