Vacinação em cães e gatos: o que há de novo?

Os protocolos vacinais mudaram em 2024, fique atento às principais alterações

Foto: FamVeld/iStock

As novas diretrizes da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (WSAVA), redigidas pelo Comitê de Vacinações (VC), responsável pelas atualizações que visam orientar os médicos-veterinários sobre como planejar os protocolos de vacinação para preservar a saúde de cães e gatos em todo o mundo, foram divulgadas ano passado, sendo que a última atualização havia sido feita apenas em 2016. Algumas recomendações anunciadas exigem certa mudança de mentalidade dos profissionais e donos de pets, como a possibilidade de espaçar a revacinação de vacinas modernas (de vírus vivo modificado) a cada 3 anos para cães e gatos que vivem em ambiente seguro. “Há 30 anos surgiu uma preocupação na comunidade médica mundial, incluindo os veterinários, sobre os problemas que o excesso de vacinação poderia trazer para pessoas e animais. Em gatos, o sarcoma de sítio de injeção, tumor causado por aplicação de vacina ou medicamentos injetáveis, foi um dos motivos que fez pesquisadores começarem a reavaliar a vacinação anual e a redigir documentos que buscam ajudar os veterinários a terem protocolos mais individualizado para cada animal”, aponta a Profa. Dra. Mary Marcondes, presidente do Comitê de Vacinação da WSAVA.
Ainda segundo a Profa. Dra. Mary, muitas vezes, encontramos animais que receberam todas as vacinas anuais e mesmo assim acabam contraindo alguma doença transmitida por vetores, por exemplo. “Desse modo, a consulta anual deve ser considerada um check-up e não apenas uma consulta vacinal. O foco não deve ser na vacina somente, pois o dono do pet tem a ideia de que, ao vacinar o animal, ele está protegendo o animal contra qualquer doença infecciosa e não é verdade. Assim, na consulta, o veterinário precisa ressaltar a importância do controle de ecto e endoparasitas, fazer os reforços vacinais, entre outras recomendações”, completa a veterinária.

VACINAS ESSENCIAIS PARA CÃES DOMICILIADOS NO BRASIL:
• Cinomose canina (CDV)
• Adenovírus canino tipo 1 (CAV)
• Parvovírus canino tipo 2 (CPV)
• Antirrábica
•Leptospirose *essencial desde 2024

VACINAS ESSENCIAIS PARA GATOS DOMICILIADOS NO BRASIL:
• Parvovírus felino (FPV)
• Calicivírus felino (FCV)
• Herpesvírus felino-1 (FHV)
• Antirrábica
• Vírus da leucemia felina (FeLV) *deve ser considerada essencial em regiões onde a doença é endêmica e aplicada em gatos jovens (<1 ano de idade) e em gatos adultos com acesso à rua, ou que vivam com outros gatos que tenham acesso à rua.

TIPOS DE VACINAS
As vacinas essenciais em pets são aquelas que todos os cães e gatos, independentemente da região geográfica onde vivem ou para onde viajam, devem receber.
“Algumas vacinas essenciais protegem os animais de doenças potencialmente fatais que têm distribuição global, enquanto outras protegem contra doenças potencialmente fatais que prevalecem apenas em determinados países ou regiões”, aponta o relatório.
Já as vacinas opcionais, são altamente recomendadas em animais cuja localização geográfica e/ou estilo de vida (por exemplo, acesso à rua, residência com vários animais) os coloca em risco de contrair infecções específicas não designadas como essenciais. “É necessária uma conversa cuidadosa entre o veterinário e o tutor para basear a decisão sobre quais vacinas opcionais recomendar para cada paciente.”
As vacinas também se diferenciam por serem de vírus vivo modificado ou vírus inativado (os dois tipos predominantes no mundo). “As vacinas vivas modificadas são geralmente mais imunogênicas do que a maioria dos outros tipos. Muitas vacinas contendo vírus vivos modificados (VVM) são particularmente potentes. Eles normalmente requerem menos doses para atingir uma resposta imunológica forte. Já as vacinas inativadas (ou mortas) contêm microrganismos inteiros, inativados e antigenicamente completos, que não são capazes de infectar as células ou de se replicar, mas são capazes de estimular uma resposta imunológica. Como não imitam uma infecção natural, geralmente produzem respostas imunitárias menos potentes, podem não produzir imunidade de mucosa ou celular adequada e geralmente requerem doses múltiplas e um adjuvante para estimular uma resposta imunológica adequada. No entanto, algumas vacinas inativadas são extraordinariamente potentes, como as contra o vírus da raiva. Algumas delas são altamente imunogênicas e podem induzir proteção duradoura após uma dose única. No entanto, a maioria das vacinas inativadas requerem pelo menos duas doses iniciais para imunizar, independentemente da idade do animal. A primeira dose geralmente estimula a resposta imunológica e a segunda (e às vezes uma terceira) dose, geralmente administrada com 3 a 4 semanas de intervalo, fornece a resposta imunológica protetora (que pode não se desenvolver até 2 semanas após a segunda ou última dose)”.

VACINAÇÃO EM FILHOTES
Ainda segundo a Profa. Dra. Mary, o VC reconhece que os anticorpos de origem materna (MDA, do inglês maternal derived antibodies) interferem substancialmente na eficácia da maioria das vacinas essenciais atualmente disponíveis que são administradas a filhotes de cães e gatos no início da vida. Segundo relatório redigido por ela e outros membros do VC: “Como o nível de MDA varia substancialmente dentro e entre ninhadas, recomenda-se a administração de múltiplas doses das vacinas essenciais a filhotes de cães e gatos, a cada 2 a 4 semanas, sendo a dose final administrada às 16 semanas de idade ou mais. Nas situações em que um filhote de cão ou gato só pode receber uma única vacinação (ou seja, no caso de restrições de custos), a vacinação deve ser feita com as vacinas essenciais a partir das 16 semanas de idade. A revacinação às 26 semanas de idade ou após (em vez de esperar até aos 12 a 16 meses de idade) é aconselhada para imunizar sem atrasos desnecessários a minoria de animais que ainda possam ter tido MDA interferente presente no momento da vacinação com 16 semanas ou mais”. Assim, podemos iniciar o protocolo vacinal de filhotes de cão e gato de 6 a 8 semanas de vida, fazendo revacinações a cada duas ou quatro semanas, com uma dose final às 16 semanas de vida (ou mais) e uma dose extra aos 6 meses de vida.
Além disso, o VC apoia a utilização de testes sorológicos a partir das 20 semanas de idade para detectar a soroconversão (para Cinomose canina, Adenovírus canino tipo 1 e Parvovírus canino tipo 2 em cães e Parvovírus felino em gatos) após a vacinação. “Isto pode ajudar a confirmar a resposta imune de animais jovens e de adultos, ajudar a otimizar os intervalos de revacinação em animais adultos e, em algumas situações, pode ajudar na gestão de surtos de doenças infecciosas em abrigos.”

Quer conferir o Guideline de vacinação de 2024 completo em português? Acesse o texto na íntegra pelo QR Code:


Por Samia Malas



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