O Brasil vem descobrindo os encantos dessa raça apaixonante e muito especial

De porte médio, o Yakutian Laika se destaca das demais raças incluídas no grupo 5 da Federação Cinológica Internacional (FCI), voltado a cães spitz e de tipo primitivo. “Sua natureza afetuosa o torna muito dedicado à sua família, característica desejável, mas menos comum em algumas dessas raças”, comenta Alanna Fontenele, do canil Star of Snow, de Santo André, SP. “O Yakutian Laika é extremamente companheiro e cria laços fortes com seus proprietários. Gosta de estar sempre por perto e aprecia carinho e interação, ao contrário de alguns cães de tipo primitivo, que tendem a ser mais independentes”, reforça Beatriz Ayres, do canil Eternal Light, de Fortaleza. “Ele é mais amoroso e apegado aos seus donos do que as raças mais comuns desse grupo”, concorda Fernanda Luna, do canil Yalume, de Recife. “Outra diferenciação se refere ao fato de que, enquanto o Yakutian Laika se mostra disposto a interagir com pessoas desconhecidas de maneira amigável, outras raças do grupo costumam demonstrar maior reserva ou hesitação nessas situações”, acrescenta Alanna. “Embora possa ter certa cautela inicial com estranhos e alguns sons, o Yakutian Laika tende a ser sociável e amigável, diferentemente de alguns cães primitivos que são desconfiados nesse contexto”, corrobora Beatriz.
Um outro destaque desse cão se refere à beleza ímpar. “Ele é bastante estruturado, de aparência harmoniosa e movimentação elegante, com passos amplos e suaves. Pode exibir todas as cores, incluindo duas ou três combinadas, desde que uma seja sempre branca que, aliás, é a única coloração sólida permitida. As marcações geradas são muitas vezes surpreendentes”, diz Alessandra Comin, do canil Les Amis, de Presidente Prudente, SP. “Nenhuma outra raça do grupo tem tanta variedade de cores e marcações como o Yakutian. E o olhar dele é uma verdadeira arma que destrói qualquer mau-humor que o dono esteja passando no dia”, diz Fernanda.
Alessandra aponta que os olhos dos Yaks podem ser ambos azuis, castanhos ou um de cada cor, e ainda compartilha uma lenda sobre a origem de tais colorações: “Os Yaks com olhos azuis olharam para o oceano gelado e o frio os tomou por completo tornando seus olhos da cor da água do mar. Já os de olhos castanhos surgiram quando os cães viram o fogo. O resultado da união de um cão de gelo com um de fogo foram filhotes de olhos de cores diferentes e esses cães absorveram tanto a ousadia sem medo como a mais calorosa gentileza, simbolizando a realização completa e trazendo prosperidade, riqueza, felicidade e paz”.
DE QUASE EXTINTO A REVITALIZADO
O Yakutian é nativo do nordeste da Rússia, especificamente da província de Yakutia, na Sibéria, cujo clima severo moldou-o para suportar condições extremas, nas quais sempre mostrou impressionante devoção e resistência.
Segundo explica a criadora da raça, Alessandra Comin, o Yakutian Laika era um cão bastante utilizado em várias funções fundamentais que garantiam a sobrevivência das famílias dos povos da Yakutia. “Eram usados, principalmente, ajudando na caça de pequenos mamíferos, caso de raposas; no pastoreio de renas, auxiliando as comunidades locais na gestão de seus rebanhos; no transporte de pequenas cargas puxando trenós; na proteção das tribos contra predadores e até no aquecimento das crianças dentro dos iglus quando os adultos saíam para caçar – aliás, daí vem a paixão da raça por elas”. Após a década de 1960, a introdução de motos de neve e mudanças econômicas, como a diminuição da caça de peles e pesca local, levaram o Yakutian à ameaça de extinção. “Com a modernização no estilo de vida das comunidades indígenas da Yakutia a raça sofreu declínio drástico e quase desapareceu”, conta Beatriz. “A população desses cães continuou diminuindo gradativamente até próximo do final do século XX, quando esforços de preservação começaram a ser feitos – em 1998, um grupo de entusiastas trabalhou para resgatar o Yakutian Laika trazendo cães originais do extremo norte da Rússia, o que continuou até 2004, quando a federação cinológica de lá adotou oficialmente o padrão da raça”, informa Alanna. “Esses exemplares foram a base para o Yakutian que conhecemos hoje”, destaca Beatriz.

Na raça são permitidos olhos castanhos, azuis e com heterocromia (um marrom e o outro azul)

O Yakutian era essencial e permaneceu sendo muito valioso para os povos do norte da Sibéria, incluindo os evenques, chuvanos e outros da região
CRIAÇÃO NACIONAL
Em 2025, o Yakutian comemora dez anos de criação em nosso país. “Introduzi os primeiros exemplares no Brasil e na América Latina em junho de 2015, sendo que as primeiras ninhadas nascidas no Brasil foram geradas no meu canil a partir de 2017”, relata Alessandra. Naquele ano, a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) emitiu 10 pedigrees para exemplares da raça; em 2018, 15; em 2019, 17; em 2020, 39; em 2021, 52; em 2022, 64; em 2023 (por ora o último ano com tais dados disponíveis), 57. “Acredito que essa quantidade, em geral crescente, decorra principalmente do fato de as pessoas estarem descobrindo o quão maravilhosa essa raça é. Os primeiros donos de Yakutian no Brasil se encantaram principalmente pela beleza que viam na internet. Hoje, além de admirá-la, as pessoas podem contar com a história de cada família que tem um exemplar da raça em seus lares e, assim, é o temperamento deles a principal causa de aquisição”, observa Fernanda. “Esses números refletem uma tendência de conscientização da parte dos canis de registrarem seus cães seguindo a CBKC, pois querem atingir um padrão de excelência”, confirma Alanna.

O Yakutian é versátil: desde o início de sua história, além de ter sido usado para puxar trenós, também foi utilizado para pastoreio de rebanhos

Ainda hoje em seu local de origem, a província de Yakutia, os exemplares da raça são usados para transportar pequenas cargas em trenós
“Mas, como toda raça nova, linda e atrativa, também existem muitos aventureiros que dizem gerar filhotes de Yakutian Laika, mas que não são criadores de fato, não possuem canil registrado na CBKC e estão acasalando cães sem procedência, muitos até mestiços, o que é um desserviço para a raça”, alerta Alessandra.
Em 2024 foi fundado o Clube Brasileiro da Raça Yakutian Laika. “A intenção é trazer mais visibilidade a esse cão, instruir e educar os interessados por meio, por exemplo, da divulgação do padrão, além de fornecer informação aos próprios árbitros da CBKC para que conheçam mais sobre o Yakutian. Teremos também alguns eventos em 2025 em comemoração aos dez anos da criação brasileira: estamos inclusive planejando, para o fim do ano, uma Exposição Nacional da raça, trazendo juízes russos especializados”, diz Alanna, do setor de relações públicas do Clube.



EXTERIOR
Beatriz afirma: “A Rússia, que é o país de origem do Yakutian Laika, ainda abriga muitos canis e criadores renomados – não à toa, os exemplares de criação russa costumam se destacar bastante no cenário da raça”. Alessandra acrescenta: “Os melhores canis de Yakutian Laika estão em território russo – inclusive dois dos meus campeões são importados de lá”. Fernanda comenta: “A Rússia continua líder em quantidade de criadores de Yakutian no mundo e vem sendo cada vez mais exigente com relação à qualidade de seus cães. Mas o resto da Europa vem crescendo muito também. Há cães maravilhosos tanto na Rússia, como na França também, por exemplo”.
Beatriz completa: “Os canis franceses têm investido na qualidade e no aprimoramento da criação da raça, que vem ganhando força por lá e se tornando uma referência importante no cenário internacional”.
Realmente, considerando as cinofilias mais tradicionais do planeta, a Rússia vem liderando a quantidade de pedigrees emitidos para esses cães: em 2024 foram 460. Foi seguida pela França, com 406 registros no ano passado. Alanna destaca também a Finlândia (120 registros em 2024). Nos Estados Unidos, a raça se encontra na Miscellaneous Class do American Kennel Club (AKC), uma espécie de grupo de acesso para a aceitação definitiva. ”Lá ela foi também recentemente incluída em provas de pastoreio pelo American Stock Dog Registry”, relata Beatriz.

Guaraná, a primeira Yakutian Laika brasileira, nascida em janeiro de 2017

Ibiza tem 3 anos e trabalha na cinoterapia, fazendo visitas a hospitais oncológicos infantis

Como todo filhote, o de Yakutian é ativo, mas, quando adulto, o nível de energia se torna apenas moderado

No passado o Yakutian Laika aquecia crianças dentro dos iglus quando os adultos saíam para caçar e daí vem a paixão da raça por elas
AMÁVEL E ALERTA
Se uma das principais funções da raça era puxar trenós para o povo da Yakutia, o Brasil mudou tal aptidão para nosso meio de vida. “Por aqui o Yakutian Laika é um perfeito cão de companhia”, diz Fernanda. Alessandra comenta: “Ele é extremamente apegado e devotado ao proprietário, de uma docilidade ímpar”. Alanna exemplifica: “A raça é muito afetuosa com os donos, que gosta muito de carinhos e de estar próximo a eles, apesar de não ser ‘grudenta’”. Fernanda relata: “O Yakutian gosta de carinho por meio de algum tipo de toque: se vir a mão de seu proprietário ‘dando sopa’, ele vai lá e toca com o focinho. E sempre pede afago com a patinha, puxando a mão do seu dono para si. Alguns também gostam de vocalizar com seus proprietários, gerando uma verdadeira conversa entre os dois”. Beatriz completa: “A raça precisa de companhia e estímulos, pois não lida bem com longos períodos de solidão”.
Alanna afirma: “O Yakutian Laika é extremamente amigável com crianças, sendo um bom companheiro para atividades ao ar livre”. Alessandra detalha: “São especialmente indicados para famílias com elas, pois são muito dóceis e ótimos companheiros de brincadeiras e passeios, se tornando excelentes babás”. Por nunca ser agressiva, a raça não faz guarda. “Mas pode emitir alarme, embora, no geral, lata pouco”, conta Alessandra. Alanna comenta que o Yakutian geralmente mantém um comportamento positivo em ambientes com outros cachorros. “São cães de matilha e, assim, adoram a companhia canina – amam brincar com seus amigos caninos”, ratifica Alessandra. “Costumam inclusive ser cuidadosos com os de porte menor”, completa Alanna.
Os criadores entrevistados nesta reportagem são unânimes: por ter histórico de caça, o Yakutian Laika pode apresentar instintos predatórios com animais menores, como roedores e aves e, assim, é importante ter cuidado com esses pequenos bichos – o acompanhamento de perto nas primeiras interações é essencial até que ele se acostume com eles, garantindo uma convivência harmoniosa. “Já com outros animais, como gatos, coelhos, ovelhas e outros mamíferos, ele tende a se dar bem”, afirma Alessandra. “Realmente o fato de ser sociável e amigável o torna apto a conviver bem até mesmo com gatos”, reforça a criadora Alanna.
Por Fabio Bense
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