Brincar com o cão: muito mais do que uma simples diversão

Entenda a importância do brincar, como escolher o brinquedo correto e o que não fazer na hora da brincadeira

Foto: Chalabala/iStock

Brincar com o cão é muito mais do que uma simples diversão, pois é essencial para trazer saúde, bem-estar e estreitar seu vínculo com o animal. Segundo Leonardo Ogata, adestrador da Tudo de Cão, de Cotia, SP, a brincadeira ajuda em diversos aspectos. “A primeira delas é no desenvolvimento das habilidades motoras. O cão que brinca de bolinha, frisbee e cabo de guerra aprende a correr adequadamente, utilizar a boca, se coordenar nas suas funções motoras. Outro ponto importante é no desenvolvimento das habilidades sociais. A brincadeira entre cães ajuda-os a se conectar com o outro, a ler o outro e, inclusive, a perceber o outro (exemplo: quando ele morde mais forte, o outro chora e a brincadeira acaba)”, explica o especialista.
Outro grande benefício da brincadeira é o de manter a forma física do cão. “Tente comparar os famosos 30 minutinhos de caminhada no quarteirão com 10 minutos de brincadeira intensa com frisbee. A utilização de brinquedos promove um gasto energético muito maior”, aponta Leonardo.

TREINO & BRINQUEDOS
No treinamento de cães, Leonardo ensina que os brinquedos são grandes aliados. “Um cão altamente motivado com brinquedo está sempre pronto para treinar. Por isso que praticamente em todos os esportes com cães se utiliza brinquedos como reforçadores. Tenta visualizar aquele Border Collie que fica fissurado no frisbee e no tutor quando vai ao parque. Ele está disposto a fazer qualquer coisa pela brincadeira. Isso se reflete em uma super obediência. Então, todo treinamento de alto nível passa pela utilização de brinquedos que, pode ou não, substituir ou complementar o reforço alimentar”, explica.

ESCOLHA DO BRINQUEDO IDEAL
Segundo Leonardo, normalmente, os cães que foram treinados por técnicas motivacionais gostam do que mais treinam. “Por isso, sempre sugiro praticar bastantes exercícios como o treino de vínculo, o comando ‘vem’, o ‘fica’. O importante é praticar regularmente e de forma bastante motivacional”, diz.
Assim, o que devemos observar nos cães para saber qual o brinquedo ideal para ele? Será que o porte é determinante? Leonardo ensina que, caso o cão tenha raça, é importante se basear na função dela. “Qual a origem da criação desta raça? Vamos utilizar como exemplo os retrievers (Golden Retriever, Retriever do Labrador etc.). Estas são raças que foram desenvolvidas para que o cão recolhesse a presa abatida e a trouxesse intacta. Se a origem da raça foi essa, é de se esperar que brinquedos que estimulem o Retriever a buscar algo tenham mais sucesso, como uma bolinha ou o frisbee. Porém, a origem da raça deve ser apenas um ponto de partida para o dono. Devemos estimular e observar o indivíduo. Quais as preferências dele?”, aponta.
Em relação ao porte e força do cão, devemos apenas utilizá-los para a escolha do tamanho e resistência do brinquedo, ensina Leonardo. “Para raças menores, convém utilizar uma bolinha menor e/ou um cabo de guerra mais macio, adequado ao tamanho. Se estamos treinando um Pitbull, é interessante utilizarmos um brinquedo que suporte a potência da sua mordida. Ao olharmos a característica do brinquedo, precisamos ter certeza de que ele é seguro para aquele indivíduo. Exemplo: colocar uma pelúcia para um cão que ingere objetos pode não ser uma boa estratégia”, lista o adestrador, que ainda dá outros exemplos de preferências: “o Yorkie tende a gostar muito de cabo de guerra e o Shih Tzu de bolinhas. E ambos costumam gostar muito de pelúcias. Através das pelúcias eu costumo estimular tanto o cabo de guerra quanto o retriever. No entanto, importante frisar que precisa ver o indivíduo e oferecer e estimular as diversas opções”.
Todos os brinquedos citados acima, os recheáveis, mordedores, cabo de guerra, bolinha, frisbee e pelúcia, devem se ajustar ao tamanho e material para o porte do cão, mas podem ser usados por todo cão. “O frisbee talvez não sirva para todos os cães, pois exige um porte um pouco mais atlético. Dificilmente um Bulldog brincará adequadamente com um frisbee, por exemplo. E a pelúcia pode se tornar perigosa para alguns cães que engolem objetos”, enfatiza.

TIPOS DE BRINQUEDOS
Brinquedos podem ser oferecidos para que o cão se entretenha sozinho em casa ou para que haja interação entre ele e seu dono. Segundo Leonardo, os brinquedos para que o cão passe o tempo sozinho são os mordedores ou os recheáveis. “Os mordedores, principalmente os de nylon, evito jogar ou estimular o cão movimentando-os. Eles normalmente são duros e o impacto pode causar danos nos dentes. Eles são ideais para ficarem espalhados pela casa. Quando o cão sente vontade, vai lá e morde um pouquinho. Vale frisar que brinquedos do tipo mordedores foram feitos para serem destruídos. Vejo muitos tutores que ficam tristes quando o cão destrói o mordedor. E, na verdade, essa é a função deles”, explica.
Já os brinquedos recheáveis podem ser utilizados estrategicamente, aponta Leonardo. “Utilizá-los na chegada de uma visita para que ele relaxe mais rápido e não fique tão focado nelas. Ou, na sua saída para que ele a associe com algo bom”, exemplifica Leonardo Ogata.
Por fim, os brinquedos de interação, nunca devem ficar espalhados pela casa, ressalta o profissional, pois só ficam disponíveis durante os treinos e brincadeiras. “Exercitá-los diariamente com estes brinquedos oferece uma grande melhoria na qualidade devida deles”, completa o adestrador.

Foto: Anton Vierietin/iStock

E O CABO DE GUERRA?
O cabo de guerra é bastante controverso, pois muitos donos acreditam que esta brincadeira pode gerar problemas de comportamento no cão. Porém, Leonardo explica que qualquer brinquedo, atividade ou brincadeira, se feita de forma inadequada pode gerar problemas. “Até mesmo um simples carinho. Por exemplo, imagine que o seu cão está com dor e você fica tentando fazer carinho nessa região, mesmo ele demonstrando que está desconfortável com isso. É claro que vai ter problema. No caso das brincadeiras de cabo de guerra e retriever vale o mesmo”, diz o adestrador, que ensina algumas regras para a brincadeira de cabo de guerra:
1. O cão precisa aprender a soltar sob comando, desde as primeiras interações;
2. Ele não pode morder “sem querer” a sua mão;
3. O cão não pode arrancar o brinquedo da sua mão sem autorização, sempre com um comando claro de quando a brincadeira começa;
4. O brinquedo sempre é utilizado como reforçador de bons comportamentos.
“Utilizando essas regras, não há problema algum em brincar de cabo de guerra. A importância desse tipo de brincadeira é tão alta que praticamente os melhores cães nos mais diversos esportes utilizam isso diariamente. Exemplo agility, flyball, frisbee, IGP etc.”, acrescenta Leonardo. Ainda segundo o adestrador, caso o cão quebre algumas das regras, o dono deve interromper a brincadeira por alguns segundos, para que ele perceba que não tem brincadeira sem o cumprimento das regras.

NÃO COMETA ERROS COMUNS
Donos acabam cometendo alguns erros ao brincarem com seus cães. O primeiro deles, segundo Leonardo, é encarar a brincadeira como algo fora do contexto do treinamento. “Na verdade, o treinamento é uma brincadeira e a brincadeira é um treinamento. Ambos andam juntos. No momento em que você está brincando com o seu cão, você está reforçando comportamentos e esses comportamentos aumentarão em frequência”, comenta.
Outro erro comum é não colocar regras nas brincadeiras – como as mencionadas no cabo de guerra. “Sem elas o cão não sabe quando deve ou não deve iniciar a brincadeira, quando deve pegar, então sai correndo e não devolve o brinquedo. Isso só gera frustração”, diz.
Outro erro ainda em brincadeiras de Retriever, é arrancar o brinquedo da boca do cachorro. “Se coloque no lugar do cão… quando você leva o brinquedo, a pessoa arranca da sua boca. Que graça há nisso? É claro que a maior parte dos cães aprende a simplesmente pegar o brinquedo e sair correndo. Ao invés disso, seria muito mais interessante fazer bastante festa com o cão quando ele chega com o brinquedo. E isso já leva para o próximo erro: encarar que a brincadeira é o brinquedo. Na verdade, a brincadeira deveria ser com o tutor, através do brinquedo. O ponto central é que seja uma interação homem-cão e não objeto-cão. Quando ambos entendem que a brincadeira é entre os dois, qualquer brinquedo serve. E por último, esse é o maior erro de todos: não brincar”, aponta. “Muitas vezes as pessoas acreditam que as regras e o treino tornam a brincadeira chata. Mas, na verdade, é exatamente o oposto. Elas servem exatamente para reforçar bons comportamentos (e com isso eles aumentam em frequência) e tornar claro quais são os limites dessa interação. Com isso ela fica extremamente prazerosa para ambos”, finaliza.

Nossos agradecimentos:


Leonardo Ogata
Sócio-diretor da Tudo de Cão (Instagram: @tudodecao), empresa que fundou em 2005, e fundador da Cão Inclusão, que forma cães de serviço (caoinclusao.org.br)

Por Samia Malas