Alimentação: 10 pontos de atenção que todo tutor de cão deve conhecer

O bem-estar, a saúde e a expectativa de vida do seu pet estão intimamente relacionados à alimentação que lhe é oferecida

Foto: Switlana Symonenko/iStockphoto.com

A alimentação correta é um dos pontos mais importantes quando falamos em saúde animal. Independentemente do fato de você fornecer alimentos comerciais ou alimentação natural ao seu cão, é preciso considerar a quantidade necessária a cada indivíduo e garantir a ingestão dos nutrientes essenciais ao bom funcionamento do organismo do animal. A seguir, confira dicas importantes:

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1- Escolha da ração:
Responsável pelo fornecimento de energia e pela construção e reparação de músculos, cartilagens e pelos, entre outras funções, a proteína deve ser o principal ingrediente da dieta do cão, segundo Thais Sposito Moura, médica-veterinária do Hospital Vet Popular, em São Paulo. A embalagem da ração deve conter informações para que o tutor se certifique de que aquele produto atende às exigências nutricionais de seu pet, de acordo com a fase de vida, o porte e o nível de atividade física. As rações são classificadas, ainda, como econômicas, standard, premium especial, premium e super premium, sendo que os alimentos super premium contêm ingredientes de maior qualidade e melhor aproveitamento pelo animal de estimação.
A médica-veterinária Dra. Luciana Domingues de Oliveira, doutora em nutrição e nutrologia de cães e gatos, de Sorocaba, SP, chama atenção para o fato de que, mesmo se você optar por uma ração de menor qualidade, não se deve fazer suplementações aleatórias e indiscriminadas. “A prática pode acentuar excessos de cálcio, fósforo, cobre e vitaminas lipossolúveis. A suplementação só deve ser considerada em casos específicos, de preferência por um nutricionista ou nutrólogo”, atesta.

2- Ração a granel:
Para que um estabelecimento possa fracionar a ração e vendê-la a granel, é necessário ter um registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e a maioria não o possui, de acordo com Dra. Luciana. “Então é uma atividade geralmente feita sem os devidos cuidados de higiene e armazenamento. A partir do momento em que a embalagem é aberta, a validade é drasticamente reduzida, fora que fica sujeita à contaminação por microrganismos, insetos e outras pragas, comprometendo a qualidade do alimento e sua segurança”, explica a profissional.

3- Mudanças graduais:
Se você oferece um alimento balanceado e completo ao pet, não existe a necessidade de variar, pois o animal está recebendo todos os nutrientes de que precisa naquela etapa de vida. A zootecnista Dra. Janine França, Coordenadora do Grupo de Estudos em Nutrição e Bem-estar de Animais de Companhia da Universidade Federal de Uberlândia, explica que as trocas recomendadas são realizadas entre as diferentes fases da vida do animal, em função da mudança nas suas necessidades energéticas e nutricionais ou quando ele desenvolve alguma doença e, assim passa a receber uma alimentação específica para tal condição. “E, como o organismo do animal se acostuma com o mesmo alimento oferecido ao longo do tempo, qualquer troca de alimento, seja ele natural ou industrializado, deve ocorrer de maneira gradativa, evitando problemas como diarreia e vômitos, entre outros.”

4- Filhotes: Atenção especial!
De acordo com Dra. Janine, a alimentação sólida pode ser introduzida a partir da sétima semana de vida do cão, quando se estabelece o desmame completo. “Os alimentos comerciais próprios para filhotes são balanceados conforme a idade do animal, possuindo níveis nutricionais adequados ao desenvolvimento muscular, ósseo e do organismo como um todo nessa fase específica”, afirma. É importante reforçar que, para cães de diferentes portes, existem diferentes tipos de ração, já que as respectivas curvas de crescimento não são as mesmas. “Além disso, cães de raças pequenas e miniaturas têm estômago pequeno e detêm uma quantidade limitada de alimentos. Assim, formulações para o crescimento dessas raças devem ser mais ricas em energia e densidade de nutrientes do que um alimento para cães de grande porte”, diz Dra. Janine. Thais Sposito acrescenta que, de forma geral, cães de porte toy/pequeno tendem a se alimentar com rações para filhotes até completarem de 8 a 10 meses; já os cães de porte médio se beneficiam com esses alimentos até cerca de 12 meses de idade; os de porte grande ainda podem ser considerados filhotes até a faixa de 15 a 18 meses; e os de porte gigante, de 18 a 24 meses.

5- Quanto o pet deve comer?
Outro ponto que deixa muita gente em dúvida é quanta ração deve ser oferecida ao pet. “Um fi lhote demanda maior aporte energético para se desenvolver e crescer de forma saudável do que um cão idoso, que, com a diminuição do metabolismo e do nível de atividade física, passa a comer menos” afirma Thais. A recomendação de Dra. Luciana é seguir as indicações do rótulo, onde normalmente se considera a necessidade média da população de cães à qual o produto se destina. “Entretanto, como pode haver variações da necessidade para mais ou para menos, sugiro iniciar com a indicação do rótulo e ajustar a quantidade conforme a variação do peso do animal”, diz a veterinária. Ela destaca que, como os cães têm uma excelente capacidade de dilatação gástrica, são capazes de ingerir grandes quantidades de uma única vez, ficando um bom tempo sem se alimentar. Mas como estamos falando em cães que hoje vivem muito próximo aos humanos, é possível dividir a quantidade necessária em diferentes porções ao longo do dia. Segundo Dra. Janine França, filhotes geralmente comem mais vezes do que cães adultos, bem como fêmeas em gestação e lactação podem se beneficiar de um manejo alimentar com duas ou mais refeições ao dia. Ela considera importante condicionar o pet a se alimentar em horários fixos, ingerindo a quantidade disponível em cada refeição para que ela não fique exposta por longos períodos, o que pode ocasionar perdas nutricionais e contaminações por pássaros, roedores e outros animais.

6- Água é essencial
O organismo animal obtém água de três formas: pelo alimento, pelo próprio metabolismo e pela água que oferecemos, que deve estar sempre fresca, limpa e disponível o tempo todo, independentemente do estado fisiológico do animal e de sua necessidade calórica. Segundo a Dra. Luciana Domingues, quando usamos ração seca, alguns pets não suprem sua demanda, sendo importante implementar estratégias que favoreçam o aumento da ingestão hídrica. “Podemos adicionar água à ração seca, colocar gelo na água do bebedouro, dar água de coco ou suco natural diluído nos dias quentes e usar potes de diferentes materiais, como porcelana, barro e vidro, além de usar alimentos úmidos como sachês e latinhas”, lista. Dra. Janine França explica que os alimentos úmidos (industrializados e naturais) têm grande impacto na saúde dos cães, por terem uma boa quantidade de água (de 70 a 80%), o que é essencial para a hidratação e a saúde do trato urinário. “Muitos sachês contêm um alimento úmido balanceado, não sendo necessário misturá-lo a outras fontes alimentares. O oferecimento desse tipo de alimento segue as mesmas recomendações dos demais, em conformidade com as necessidades energéticas e nutricionais de cada animal de acordo com sua fase de vida”, informa Dra. Janine. “Vale ressaltar que o consumo diário desse tipo de alimento, quando comparado a alimentos secos industrializados, será maior, devido ao maior conteúdo em água e à maior diluição de nutrientes e energia.

7- Maneire nos petiscos
O consumo de petiscos não deve exceder 10% das necessidades energéticas diárias do cão. Os chamados snacks são ricos em lipídeos, capazes de afetar a ingestão calórica diária do animal e interferir na obtenção dos demais nutrientes, além de causar obesidade em caso de consumo exagerado. Dra. Janine destaca que existem os petiscos funcionais, que desempenham alguma função específica no organismo animal, como higiene e saúde bucal, por exemplo. “E mesmo os funcionais têm teores energéticos consideráveis para as necessidades dos pets, sendo fundamental que os tutores se atentem às quantidades ofertadas”, alerta.

8- Ossos: sim ou não?
O tema é controverso, e alguns veterinários são taxativos: “não recomendo, para evitar fraturas dentárias, engasgos, obstruções, perfurações e fecalomas (acúmulo de fezes no sistema digestivo)”, diz a Dra. Luciana. Já a Dra. Janine acredita que os ossos podem ser ofertados desde que sejam compatíveis com o porte do animal. Ela os considera interessantes para a manutenção da saúde bucal, pois eles promovem a limpeza dos dentes. Já os ossos carnudos, por serem cobertos por conteúdo cárneo, como pescoço de peru, cabeça de frango e partes de codornas, são boas fontes de cálcio e proteínas, podendo contribuir em modalidades de dietas naturais, como a alimentação natural crua com ossos. “Quanto aos ossos recreativos, usados para o enriquecimento ambiental, eles são grandes e firmes e não são mastigáveis a ponto de os cães ingeri-los. Eles apenas roem. São ossos que possuem algum conteúdo em carne e cartilagens para evitar o impacto das mordidas e fraturas dentárias”, afirma Dra. Janine, que ressalta que eles devem ser fornecidos crus, diminuindo, assim, o risco de formar lascas. “É de suma importância a realização do tratamento profilático através do congelamento em freezer. Para garantir a segurança, também é importante que a administração de ossos seja sempre supervisionada, além de verificar a qualidade fecal, pois fezes ressecadas e esbranquiçadas podem ser indício de consumo excessivo de ossos, o que pode ser prejudicial à saúde intestinal”, alerta Dra. Janine.

9- Restos de alimentos e carne crua
Assim como os humanos, os cães precisam ingerir quantidades mínimas de nutrientes para o bom funcionamento do organismo, ou seja, devem receber uma dieta balanceada. “Assim, alimentá-los com sobras de nossas refeições pode trazer deficiências nutricionais, problemas digestivos, ganho de peso e intoxicações, entre outros problemas”, afirma Thais Sposito, em consonância com as demais especialistas entrevistadas. Quanto ao fornecimento de carne crua aos peludos, Dra. Luciana destaca que diversas associações internacionais de veterinários são contra, uma vez que há uma série de riscos envolvidos, como a disseminação de doenças com potencial zoonótico inclusive para humanos, enquanto Dra. Janine pondera, dizendo que a carne pode ser fornecida se passar por um processo de congelamento (cujo tempo varia conforme o tipo de carne) para a inativação de possíveis microrganismos, não podendo permanecer em temperatura ambiente por longos períodos. Ela indica, no entanto, que essa oferta seja sempre feita sob supervisão profissional, especialmente em casos de animais imunossuprimidos, que são mais sujeitos a infecções.

10- Alimentação natural: cuidados
Entre as vantagens da alimentação natural, estão a maior facilidade de ajustar os alimentos e o perfil nutricional às necessidades do pet, maior ingestão hídrica, maior digestibilidade, maior possibilidade de diversificação do cardápio, ausência de aditivos sintéticos, uso de ingredientes de maior valor biológico, maior palatabilidade, melhor aproveitamento de nutrientes e a oportunidade de ofertar alimentos naturais e frescos. “Os alimentos naturais comercializados no mercado pet passam por processamentos mínimos, o que conserva seu valor nutricional, além de utilizarem ingredientes integrais e naturais, como antioxidantes oriundos de extratos vegetais e sem conservantes”, afirma Dra. Janine. Mas todos esses benefícios não podem ser motivo para a adoção indiscriminada desse tipo de dieta. As especialistas entrevistadas destacam que quantidades balanceadas e controladas devem ser respeitadas com rigor, de acordo com a prescrição e o acompanhamento de um profissional devidamente capacitado em nutrição animal, que também precisa orientar sobre a suplementação – caso ela seja necessária para aquele animal de estimação.

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Nossos agradecimentos à Dra. Janine França, Zootecnista com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Lavras, membro do Núcleo Docente Estruturante do Curso de Zootecnia da UFU, membro do Conselho Consultivo da DIREP – Diretoria de Experimentação e Produção Animal e membro da Comissão de Ética na Utilização de Animais (CEUA); Dra. Luciana Domingues de Oliveira, possui mestrado e doutorado pela Unesp de Jaboticabal, membro do Comitê Técnico do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal Pet (CBNA PET), atua há mais de 20 anos com nutrição e nutrologia de cães e gatos, presta consultoria para empresas nacionais e internacionais de pet food e é autora e coautora de diversos artigos científicos e Thais Sposito Moura, Pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia em Pequenos Animais pela Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) e pós-graduanda em Nutrição de Cães e Gatos pela Faculdade Qualittas. Atua no Hospital Vet Popular e nas regiões de São Paulo e Grande ABC.



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