Border Collie: manejo da raça mais adestrável do mundo

Ele está sempre disposto a aprender e é extremamente inteligente, atento e observador

Foto: Arquivo da propr.: Michele Mangini (canil Figueira Border Collies)

A inteligência do Border Collie vai além de assimilar comandos rapidamente. “Ademais de ter enorme capacidade de aprendizado, ele ama trabalhar e possui forte disposição para interagir de forma ativa e constante com seu dono”, conta Camila Sakavicius, do canil Emporium dos Cães, de Campinas,SP. “É um cão cheio de energia e resistência. Afinal, foi selecionado para percorrer grandes áreas conduzindo rebanhos por horas seguidas e é importante em sua educação que o proprietário busque entender a origem da raça e o conhecimento que ela exige”, afirma Diego Schaf, do canil República do Border, de Torres, RS. “Costumo dizer que um Border Collie mal-educado é o pior ser para se conviver. Porém, quando ocorre o contrário, ele se torna viciante e o dono não consegue ficar apenas no primeiro”, diz Michele Mangini, do canil Figueira Border Collies, de Ibiúna, SP.

NUNCA SE CANSA?
Os entrevistados não concordam que todo Border possui nível de energia infinita. “Ele precisa muito mais de atividade mental do que física. Além disso, as pessoas ainda confundem bastante o exemplar de trabalho com o de companhia. São linhagens distintas, sendo que o primeiro possui nível de energia mais alto. E o Border em geral não necessita de quantidade de tempo com o dono, mas sim, de qualidade de tempo: é melhor ficar meia hora com o cão, mas com total conexão a ele, do que duas horas ao lado mexendo no celular”, diz Cláudia Marques, do canil Sonho sem Fronteiras, de Guarapari, ES. “O gasto de energia mental é mais importante que o físico”, reforça Diego. “É uma raça de trabalho e, assim, tem aptidão para exercer a função dela incansavelmente. Mas, se a mente dele não cede nunca, seu corpo para na exaustão”, afirma Michele. “Há momentos do dia em que o Border corre e se exercita com intensidade, porém em outros descansa tranquilamente. Não faz sentido dizer que ele precisa estar sempre em movimento. Um cão de pastoreio – que é a função original do Border Collie – não apenas corre ou se exercita fisicamente: ele observa, calcula distâncias, analisa o rebanho e toma decisões sobre o melhor caminho a seguir”, informa Camila.

Fotos: Camargo Fotografias/Propr. do cão: Diego Schaf (canil República do Border)
Border de pastoreio precisa ter mais energia e foco para o trabalho do que o de companhia: são linhagens distinta
“Todo gasto de energia de um Border Collie deve ser sempre acompanhado por cuidados veterinários”, diz Diogo Schaf, do canil República do Border

“É importante analisar as maneiras de suprir as demandas por gasto de energia do exemplar”, comenta Diego. Camila relata: “Muitas pessoas acham necessário cansar o Border Collie fisicamente todos os dias. No entanto, o que acontece é que, depois de um período, o cão se acostuma com aquela carga de exercício e aprende logo a recuperar a energia. Um Border desafiado mentalmente fica satisfeito por muito mais tempo e é isso que equilibra um exemplar da raça”. Como se vê esse cão usa a mente o tempo todo e, assim, adora “quebrar” a cabeça com brinquedos interativos, caso dos dispensadores de ração (como o petball), dos tabuleiros de atividade e dos jogos com objetos que fazem o cão pensar para conseguir a recompensa e que, assim, enriquecem o ambiente dele (a exemplo de um tapete de fuçar na qual são espalhados grãos de ração para que, com o faro, ele os ache e se alimente). “Estas são excelentes ferramentas para usarmos no dia a dia com o Border Collie”, diz Cláudia.
Michele afirma: “Não será preciso fazer o Border pastorear um rebanho de ovelhas num vasto campo o dia todo se essa família se dedicar a ele com uma rotina regrada, com horário de refeições; de caminhadas – sem tempo cronometrado, pois cada exemplar tem sua demanda –; de brincadeiras, no qual o cão tem contato com a família; de relaxamento (cuja duração deve ser extensa, pois, quanto mais o Border Collie souber relaxar, mais saudável será). E usar a noite inteira para dormir: o sono do Border é valioso”.
Camila recomenda que durante a semana o Border tenha uma rotina diária com algum estímulo físico e/ou mental por meio de atividades moderadas: “Como a raça não se adapta bem à monotonia, ela deve contar com mudanças de ambiente e de terrenos – ou seja, levar o cão para passear em diferentes locais, variando ruas com prédios e carros, áreas abertas arborizadas e lugares fechados como um shopping – e contato com novos estímulos: se o exemplar não convive com crianças ou outros tipos de animais no dia a dia, uma visita a um parque onde eles costumam brincar pode ajudá-lo a manter a mente ativa”. Michele diz: “Esses cães são de boa índole, dóceis e alegres. Mas o dono deve ter cuidado nas apresentações de crianças, principalmente as pequenas – que não têm muito a percepção de força e puxam pelos, cauda e orelhas – em virtude da sensibilidade a sons e toques da raça que, por ser de pastoreio, pode também cercar e mordiscar aquelas crianças na fase de fazer tudo correndo e vibrando, o que serve de estímulo para o comportamento de conduzir rebanho: a dica é menos energia na interação durante esse tipo de adaptação”. Camila detalha: “Um Border Collie que nunca teve contato com crianças pode se sentir desconfortável ao ser colocado diretamente em uma situação onde elas correm e gritam ao seu redor. Mas se a apresentação à garotada contar com reforços positivos – podem ser petiscos ou mesmo os grãos da ração, carinhos ou elogios – e for realizada em ambiente tranquilo, essa convivência será natural e agradável”. Com relação a outros cachorros ou animais, Cláudia explica: “É importante que o filhote conheça outros bichos o quanto antes e, assim, uma boa ideia é convidar um amigo que tenha aves, felinos etc., para levá-los à casa do dono do Border Collie, possibilitando que esse tipo de interação exista desde cedo: quanto mais familiarizado o filhote de Border estiver com tal convivência, mais normal ela será”. Michele reforça: “Com outros cachorros, a apresentação, como de praxe no mundo canino, deve ser feita de forma segura, para que eles se tolerem antes de interagirem – se entenderem que podem estar no mesmo ambiente que outros animais sem precisar interagir com esses últimos, o convívio, quando acontecer, será natural para todos os indivíduos”. Já nos finais de semana o nível de exercício pode ser mais intenso, como trilhas em meio à natureza. “Além delas, outras opções de atividades ao ar livre e fora da rotina diária são os esportes caninos, como o agility”, exemplifica Michele.

Foto: Arquivo da propr.: Camila Sakavicius (canil Emporium dos Cães)
“Desde filhote o Border deve aprender que há os momentos para brincar, os de descansar e outros para se exercitar”,
orienta Camila Sakavicius, do canil Emporium dos Cães
Foto: Arquivo da propr.: Camila Sakavicius (canil Emporium dos Cães)
“Durante a semana, quando em geral as pessoas têm menos tempo, a atividade física de rotina do Border pode ser moderada”, diz Camila

AS MELHORES TÉCNICAS
“Esses cães são adestrados por pessoas de 8 a 80 anos. Uma das características da raça é exatamente a de amar receber comandos, o que torna tudo mais fácil, permitindo que até crianças consigam resultados nos primeiros dias de treino em comandos básicos, como ‘senta’, ‘deita’ e ‘fica’”, diz Cláudia. “Qualquer pessoa pode ensinar um Border Collie, desde que tenha vínculo com ele. Mas o mais encantador da raça não é o mecanismo da obediência e sim a naturalidade na relação que o dono tem com ela: com o tempo, quando há desenvolvimento de vínculo e, na relação do dia a dia, uma rotina de atividade, como treinos para assimilar comandos, a comunicação e a sintonia com esses cães se torna tão natural que o dono é prontamente atendido se pede para executarem o que lhe foi ensinado”, reforça Michele.
Camila e Diego também concordam que todas as pessoas determinadas a adestrar um Border Collie terão sucesso: mas contanto que tenham um mínimo de informação sobre comportamento canino. “Ele tem alta treinabilidade, porém, assim como ocorre com todos os cães que se destacam em adestramento, para treiná-lo é preciso um pouco de conhecimento técnico. Qualquer pessoa – independentemente do sexo, problemas físicos ou idade – que tiver estas características ou que busque adquiri-las terá muito mais facilidade para treinar um Border Collie do que outra raça”, diz Diego, que acrescenta: “Por exemplo, gente de faixa etária avançada na Europa compete em alto nível com seus exemplares nos testes de pastoreio e o mesmo acontece nas provas de agility, esporte de exigência física ainda maior”.

Foto: Arquivo da propr.: Cláudia Marques (canil Sonho sem Fronteiras)
“Quanto mais socializado um Border Collie for, mais tranquilidade ele terá na vida dele com outros cachorros”, garante Cláudia Marques, do canil Sonho sem Fronteiras
Foto: Arquivo da propr.: Cláudia Marques (canil Sonho sem Fronteiras)
“A raça ama receber comandos, permitindo que até crianças consigam resultados nos primeiros dias de treino em comandos básicos”, diz Cláudia

Para Diego, que possui um centro de treinamento para cães pastores, a metodologia que mais funciona com o Border Collie é a de desenvolver a correta comunicação com ele. “É o mais importante: pode levar o dono ao auge seja no esporte, lazer ou mesmo no convívio”, comenta o criador. Não à toa Camila afirma que um erro extremamente comum que possivelmente prejudicará a educação do Border Collie se refere justamente à ansiedade excessiva do dono na comunicação com o cão: “Muitos tutores falam o tempo todo com ele, como se não pudesse ter um momento de autonomia dentro das regras”, diz ela. Um exemplo disso ocorre quando entram em uma loja e, em vez de simplesmente permitir que o cão observe e se acostume ao ambiente, o proprietário passa o tempo inteiro dando comandos ou repreendendo o cachorro para ficar calmo e quieto. “O resultado disso é um cão ansioso e inseguro, que nunca aprende a relaxar em ambientes públicos porque está sempre recebendo estímulos e comandos sem necessidade. O Border aprende com clareza e coerência e não com excesso de palavras e interferências constantes”, conta Camila. Para ela, ter um Border Collie exige entender que ele precisa de limites, direcionamento e, ao mesmo tempo, liberdade controlada e várias pessoas erram por excesso de permissividade ou controle demasiado. “No primeiro caso, elas deixam o exemplar fazer tudo o que quer, não estabelecem regras claras desde o início, de maneira que o cachorro toma suas próprias decisões o tempo todo, exibindo depois comportamentos problemáticos em virtude de sua total independência”, diz Camila, que conclui: “No segundo, as pessoas não permitem que o Border explore, interaja ou tenha momentos naturais de cão – tentam controlar cada passo dele”.

Foto: Arquivo da propr.: Michele Mangini (canil Figueira Border Collies)
O Border Collie responde excepcionalmente bem ao aprendizado baseado em recompensas

Michele ressalta: “No caso do Border, um método punitivo além de ser estressante, dificulta o aprendizado. E não são necessárias algumas técnicas utilizadas para cães bem mais fortes usados na guarda, por exemplo. Os exemplares da raça são mais sensíveis e precisam de muito menos intensidade”. Camila reforça: “A inteligência do Border engloba também grande sensibilidade à forma como aprende. Ele não se submete ao treinamento forçado, sua seleção para o trabalho sempre favoreceu cães colaborativos, que atuam ao lado do condutor e não simplesmente obedecem por medo ou imposição. Assim, se o dono tentar ensinar algo por meio de punição, a parceria se rompe. Além disso, um Border Collie que se sente coagido ou inseguro não aprende da maneira ideal e pode até desenvolver comportamentos indesejados”, alerta Camila.
Ainda segundo Camila, que é médica-veterinária pós-graduada em comportamento de cães, o que funciona melhor com o exemplar da raça é um treinamento baseado em previsibilidade e coerência (por exemplo, se hoje ele pode subir no sofá e amanhã não, isso pode confundi-lo – em vez de ajudá-lo a entender o que é esperado – e gerar insegurança, frustração e ansiedade, que leva a dificuldade em relaxar ou a obsessão por perseguir e destruir objetos) e que conte com recompensas para o comportamento correto: ou seja, não apenas corrigir erros, mas valorizar os acertos. O Border responde excepcionalmente bem ao aprendizado baseado em reforços positivos.

Agradecimentos :
Camila Sakavicius, canil Emporium dos Cães – https://canil.emporiumdoscaes.com.br, [email protected], Instagram: @emporiumdoscaes, YouTube: CaSakavicius

Cláudia Marques, canil Sonho sem Fronteiras – (27) 99942-9391, www.canil sonhosemfronteiras.com.br, [email protected], Instagram: @border.sonhosemfronteiras

Diego Schaf, canil República do Border – (51) 99365-9609,99315-3357, Instagram: @republicadoborder

Michele Mangini, canil Figueira Border Collies – (11) 96301-0604, [email protected], Instagram:@canilfigueira, Facebook – Canil Figueira Border Collies

Por Fabio Bense



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