Golden Retriever: bonito e carismático

A qualidade dos canis nacionais da raça que são dedicados a seu aprimoramento está em ascensão, mas, nas ruas, exemplares gerados por comerciantes exibem até desvios de caráter

Foto: Johnny/Criador do cão: canil Bristol Goldens

“Esse cão é um queridinho das famílias brasileiras e americanas”, comenta Claudio Abreu, do canil Bristol Goldens, de Belo Horizonte. Tanto que, em 2023, o Golden Retriever foi, entre 173 raças e variedades, a terceira mais registrada pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), mesma posição obtida no American Kennel Club (AKC), entre 200. Na Grã-Bretanha, sua terra natal, o The Kennel Club emitiu 10.447 pedigrees para a raça, mostrando que ela também faz sucesso por lá. “Hoje a popularidade do Golden é mundial”, comenta Marcos Nishikawa, do canil Golden Trip, de Embu das Artes, SP. Esse cão nos conquista imediatamente. “Isso por todo um conjunto: por um lado, o exemplar típico da raça é lindo, harmonioso e, por outro, simpático e alegre”, afirma Sylvio Campos, do canil Backfields, do Rio de Janeiro. “Ele tem expressão cativante e um olhar que toca diretamente o coração”, afirma Pedro Braga, do canil One Golden Tale, de Atibaia, SP.

EVOLUÇÃO DA CRIAÇÃO
O padrão em vigor adotado pela CBKC data de 2009. Ele foi atualizado em 2015 e, entre as poucas modificações, estão as inclusões das frases em itálico a seguir, a primeira no item “faltas”, que diz“ qualquer desvio dos termos deste padrão deve ser considerado como falta e penalizado na exata proporção de sua gravidade, assim como seus efeitos na saúde e bem-estar do cão e em sua habilidade para executar seu trabalho tradicional” e, a segunda, no item “faltas desqualificantes”: Agressividade ou timidez excessiva.
Pedro acredita que a primeira atualização foi feita para proteger conceitualmente a raça, evitando que houvesse a hipervalorização de alguma característica específica fora a essência do Golden Retriever de ser voltado para o trabalho, com temperamento e conformação destinados para tal. “Com relação a esta última, esse cão deve ter angulações balanceadas e ser simétrico e poderoso, ainda que possam existir exemplares da raça mais leves ou de ossatura mais pesada e de diferentes tamanhos, desde que respeitando o padrão e sem perder a robustez e a expressão típicas da raça”, afirma o criador. O padrão CBKC estabelece que a altura na cernelha (ponto mais alto das costas) dos machos típicos vai de 56 a 61 cm e, das fêmeas, de 51 a 56 cm.

Foto esq.: Arquivo do canil One Golden Tale/Foto dir.: Arquivo do canil Golden Trip
As patas redondas, feito pés de gato, tanto nos membros anteriores quanto nos posteriores, são um detalhe importante na raça/Golden Retriever demonstrando um traço típico de seu temperamento: ser bastante ativo


Sylvio comenta: “Com relação às recentes penalidades de temperamento, deve-se ter em mente que o Golden típico é calmo e muito amoroso, inteligente e companheiro. Já tive comigo mais de 60 exemplares e nunca presenciei um rosnando sequer deles para qualquer pessoa em mais de três décadas. Também nunca possuí cães da raça excessivamente tímidos: os meus agradam e cumprimentam a todos. A sociabilidade de um Golden sempre foi para mim a característica mais importante da raça”. Claudio completa: “O fato de o Golden típico ser extremamente dócil é a maior qualidade desse cão. E ele também se destaca por ser amável e carinhoso, cheio de amor para oferecer”. Pedro acrescenta: “A docilidade é a essência da raça, que também sobressai por ser ávida por agradar a seu dono”. Claudio conclui: “Quanto à saúde, o Golden está passando por algumas mudanças motivadas pelo aprimoramento genético dos últimos anos, de maneira que, atualmente, observo menos problemas genéticos como displasia coxofemoral e outras doenças preexistentes na raça. Os canis éticos de Golden estão conseguindo fazer um bom trabalho nesse sentido”.

Foto esq.: Arquivo do canil Backfields/Foto dir.: Arquivo do canil Golden Trip/Cão: Maximus Golden Trip Lord of the Manor, melhor cão do grupo 7 no Chile em 2023 e top ten no ranking parcial da raça de 2024 nos Estados Unidos
O crânio de um Golden típico é largo, com orelhas de tamanho médio e focinho curto, grosso e de stop bem marcado”, afirma Sylvio Campos/Em algumas exposições brasileiras de cães de raça, o número de exemplares da raça Golden Retriever chega a ser 25% do total

PLANTEL NACIONAL
Claudio tem elogios para a qualidade de exemplares da raça brasileiros. “Hoje se consegue ver, competindo em exposições, cães com mais estrutura óssea”, afirma ele. “No Brasil, já há algum tempo certos criadores importaram cachorros de linhagens antigas da raça, com foco maior na ossatura e cabeça. Quanto a esta última, acredito que nos últimos anos eles conseguiram aprimorá-la significativamente e hoje temos cabeças pesadas e, ao mesmo tempo, de expressão dócil. Também noto cães mais robustos, sem perder a esportividade que pede um retriever”, informa Pedro. “De maneira geral, os exemplares da raça que vêm competindo nas exposições promovidas em território nacional têm exibido focinhos um pouco mais curtos e cabeças mais quadradas e fortes, com stop – ângulo de encontro entre a testa e o focinho – mais definido”, afirma Claudio, que acrescenta: “A dentição também tem melhorado muito: antigamente, havia muitos cães da raça sem a correta mordedura em tesoura, na qual os incisivos superiores se fecham imediatamente à frente dos incisivos inferiores”.

Foto: Arquivo do canil One Golden Tale
“Observo, já há alguns anos, o uso excessivo do sêmen de poucos machos para inseminação artificial nos Estados Unidos, o que tende a contribuir para a diminuição das linhas de sangue e a queda da qualidade dos cães em um futuro próximo”, alerta o criador Pedro Braga


Claudio relata: “Há, no País, canis de Golden cada vez mais empenhados no aprimoramento morfológico. Eles estão fazendo o Brasil virar referência na raça”. Pedro reforça: “Desenvolvemos um estilo próprio, com características que não são fáceis de reunir. Hoje existem criadores brasileiros apreciados no mundo todo e que realizam muito mais exportações do que importações”. Marcos corrobora: “O nosso Brasil de importador virou exportador”. Claudio relata: “Meu canil tem exportado bastante para Itália, Estados Unidos, Canadá e Grécia”. Marcos enviou exemplares até para o continente asiático: “Na primeira década dos anos 2000, meu canil exportou 72 padreadores e matrizes para a Ásia. A maioria deles foi enviada para a China, que se tornou uma potência emergente na criação da raça”, informa ele.
“De fato, temos vários bons criadores da raça atualmente, mas há muitos outros não tão bons”, pondera Sylvio. “Atualmente observo três categorias de criadores de Golden no País. A primeira é formada por aqueles que sentem amor pela raça, o que gera a vontade de fazer um aprimoramento genético em prol dela, fazendo investimentos em estrutura, com maternidade, entre outros. A segunda é composta por pessoas que querem criar corretamente, mas faltam condições financeiras para tal e, assim, acabam atrapalhando a raça no País, mesmo que não façam por mal. E a terceira é formada por aqueles que veem na criação de Golden uma oportunidade só de ganho, sem o cuidado de realizar cruzamentos éticos: esses criadores de fundo de quintal acabam promovendo acasalamentos consanguíneos, que geram cães que proporcionarão altos gastos com clínicas veterinárias e são os geralmente encontrados no Mercado Livre, Olx e por aí vai”, define Claudio. Marcos dá mais detalhes: “Cada país conta não só com canis sérios – que se preocupam com saúde, temperamento e morfologia e geram, assim, exemplares de qualidade diferenciada –, mas também, principalmente nas raças mais populares, criadores comerciais, que querem apenas vantagem financeira e cujo cuidado com o plantel é zero e infelizmente isso depõe muito contra a raça em questão. Por exemplo, começa-se a escutar, no Brasil, casos de Goldens que mordem”. Sylvio ilustra: ”Moro em Ipanema e posso ver, quando a avenida está aberta ao público no domingo, muitos exemplares da raça de focinheira e custo a acreditar. Porém, quando chego perto, eles de fato arreganham os dentes e rosnam e por isso não os considero exemplares da raça, mesmo que alguns sejam bem bonitos”.
Os criadores Claudio e Marcos avisam que esses comerciantes, “criadores de fundo de quintal”, não serão tão nocivos à criação do Golden Retriever se a pessoa interessada em comprar um exemplar estudar mais a aquisição, em vez de fazê-la por impulso, e buscar um cão com qualidade e dentro do padrão da raça, escolhendo-o de um entre os vários canis de referência que temos em nosso país.

Foto: Arquivo do canil Bristol Goldens
“Exemplares de minha criação foram preparados por institutos e adestradores para atuar como cães de assistência no tratamento de ansiedade em idosos, adultos e crianças, incluindo as com espectro autista”, informa o criador Claudio Abreu

EVOLUÇÃO DAS FUNÇÕES
O Golden Retriever foi desenvolvido para recuperar aves abatidas a tiro pelo caçador. “Assim, por ter uma mordida mais branda, ele conseguia trazer as presas para o caçador sem danificá-las”, explica Claudio. Entretanto, hoje a finalidade da raça mudou bastante. “Com a devida influência da proteção animal em todo o mundo, o Golden praticamente não exerce mais a função relacionada à caça de patos, mesmo na Europa e nos Estados Unidos”, informa Marcos. “Devido a sua docilidade, afetividade e companheirismo, com o passar do tempo ele se transformou em cão da família. É uma raça que aceita vários donos, se adapta com facilidade a outros animais e também a idosos e crianças. Sobre essas últimas, pais vêm procurando O Golden para interagir com elas como se fossem irmãos, pois noto que muitos casais estão optando por ter um filho único e adquirindo um cachorro para ser o quarto membro da família. E, em alguns casos, novos casais preferem não gerar filhos, comprando cães da raça para suprir a necessidade de uma casa cheia”, comenta Claudio. “Com uma adaptação acima da média, adestrabilidade e docilidade ímpares, o Golden hoje é o típico cão da família, além de atuar como cão-guia e em terapias com pacientes humanos”, diz Marcos. “Acredito que, devido a esse temperamento, a função de cão terapeuta será a principal exercida pela raça no futuro”, finaliza Claudio.

Foto: Arquivo do canil Backfields
O Golden é o melhor cão de terapia e foi a primeira raça considerada como tal. Assim, um Golden agressivo está totalmente fora do padrão da raça”, diz o
criador Sylvio Campos

LINHAGENS E PAÍSES
É possível encontrar muitas diferenças em termos de morfologia nas linhagens europeias e americanas da raça. Mas Pedro alerta: “Apesar delas, um bom exemplar se encaixa bem e deve ganhar em qualquer lugar. Considero um desserviço ao Golden ignorar as qualidades de um cachorro somente pela linhagem”. Sylvio comenta: “Os cães da raça americanos costumam ser bem peludos e mais compactos, enquanto os europeus são mais esguios e mais claros quanto à cor da pelagem, apesar de ela ser também farta, com exceção do Leste Europeu, onde parte dos exemplares tem menos pelos”. Claudio e Pedro concordam que a coloração dos exemplares da raça europeus, incluindo os ingleses, é de fato mais clara. O padrão CBKC afirma quanto à cor: “Qualquer tom de dourado ou creme. Nem vermelho, nem mogno. Somente alguns pelos brancos no peito são permitidos”. Pedro alerta: “Não deve haver preferências com relação às cores admitidas pelo padrão ou com relação à tonalidade do dourado. Às vezes eu vejo julgamentos cinófilos priorizando uma delas, e isso é errado, porque o documento não estabelece que o dourado seja mais valioso que o creme – e vice-versa”. Entre os países estrangeiros com espécimes da raça de referência, Claudio e Marcos destacam alguns, como os Estados Unidos. “De fato os cães de lá costumam ter bela cabeça e membros perfeitamente retos e paralelos”, ilustra Sylvio.
“Os exemplares americanos se destacam realmente por alguns aspectos, como ter movimentação mais poderosa e linhas mais elegantes”, reforça Pedro.
“Dentro da Europa, países nórdicos e do leste do continente passaram a ter grande importância na raça, caso da Finlândia e da Rússia”, afirma Marcos.
“Em geral, cães Golden Retriever europeus costumam ter ótimas frentes e caudas muito bem posicionadas”, exemplifica Pedro. Quanto a essas últimas, de acordo com o padrão CBKC, elas não podem exibir curvatura na ponta (um Golden típico não tem cauda em anzol ou mesmo em bandeira) e devem ser inseridas e portadas no nível do dorso, alcançando os jarretes (calcanhares). “Até por isso esses últimos precisam ser curtos”, afirma Sylvio.

Nossos agradecimentos
Claudio Abreu, canil Bristol Goldens – (31) 98417-5316, www.bristolgoldens.com.br, Instagram: Bristolgoldens, Facebook: Bristol Goldens
Marcos Nishikawa, canil Golden Trip – (11) 99806-6669, goldentrip.com.br, [email protected], Instagram: goldentripoficial
Pedro Braga, canil One Golden Tale – (11) 96609-6306, www.ogtgoldenretriever.com.br
Sylvio Campos, canil Backfields – (24) 99315-1968, (21) 99908-8624, backfields.com.br, [email protected], Instagram: canilbackfieldsgoldens

Por Fabio Bense



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