Passear com o cão solto na rua: por que é tão perigoso?

Entendimentos básicos acerca da neurociência do comportamento canino nos ajudam a compreender

Foto: Julita por Pixabay


Os avanços da neurociência comportamental nos últimos 30 anos foram impressionantes. Muito se compreendeu sobre o funcionamento do cérebro dos animais mamíferos, como camundongos, coelhos, cachorros e humanos. O curioso é que, reservadas as devidas diferenças evolutivas entre essas espécies, descobriu-se que o cérebro delas funciona de maneira similar. Todos esses animais sentem medos e angústias, podendo reagir de forma parecida, diante dessas emoções: fugindo do que consideram uma ameaça ou atacando-a.

{PAYWALL_INICIO}

Também foi bastante surpreendente a descoberta de que o cérebro de um cão adulto, de qualquer raça, tamanho ou localização geográfica, apresenta neurodesenvolvimento análogo ao de uma criança de 2 ou 3 anos de idade. A essa idade, mini humanos ainda são bastante egocêntricos, não sendo biologicamente capazes de entender emoções e necessidades alheias. Além disso, as suas respostas emocionais são imediatas, não apresentando o “freio social” que os adultos desenvolvem para mascarar o que sentem. Ter esse entendimento é transformador na nossa convivência com os cães e nas expectativas que depositamos em relação ao comportamento deles. Afinal, qual crédito você daria ao bom-senso de uma criança de 2 anos? Provavelmente nenhum! Isso também deveria ser aplicado aos cachorros. Esse entendimento é importante em inúmeros cenários, mas, em um específico, merece atenção: passear com o cão solto, sem equipamento de passeio.
É perfeitamente compreensível a boa intenção de um tutor que deseja oferecer um passeio de maior qualidade ao seu pet. Certamente, esse pai ou mãe de pet tem a compreensão de que o seu animalzinho possui liberdades muito limitadas, vivendo “preso” dentro de casa, com uma vida bastante empobrecida de estímulos sociais.

E AGORA?

Você deve estar se perguntando: “O passeio com o cachorro solto: é a hora de mudar isso, certo? Errado porque, como um cão não é biologicamente apto a racionalizar, diante de situações que possam ser emocionalmente desafiadoras para ele (como a presença de outros animais na rua, o som de buzinas, freadas fortes etc.), o risco de ele reagir instintivamente é real. E, conforme dito anteriormente, os animais fogem ou atacam aquilo que consideram uma ameaça – isso não é diferente com os peludos, que poderiam colocar em risco a sua própria vida e a dos demais (humanos e não humanos) a seu redor. Não causaria nenhum espanto, se, em um momento assim, um cachorro atravessasse a rua correndo e fosse atropelado ou causasse um acidente de trânsito, colocando em risco a vida de pessoas, que nem sequer deram causa à situação. Ainda (se sentindo) sob ameaça, o cachorro poderia atacar a qualquer momento, causando desde ferimentos em terceiros (humanos e não humanos) a fatalidades – mesmo que nunca tenha mordido ninguém antes.
É por isso que, não raramente, notícias de ataques de cães, na rua, aparecem no noticiário. Apesar disso, ainda é muito frequente o discurso “meu cachorro é adestrado, ele pode andar solto ”ou “meu cachorro é obediente, ele vem quando chamo”. Porém, faltam a esses tutores entendimentos básicos acerca da neurociência do comportamento canino.
A verdade é que o total controle dos comportamentos é ilusório. Não existe nem mesmo 100% de autocontrole humano e racionalização perene. Se humanos não possuem total controle nem sobre si mesmos, qual a lógica de acreditar que é possível controlar a mente e comportamento do outro?

O QUE FAZER?

Usar equipamento de passeio como ferramenta de segurança durante o passeio com o peludo é essencial. Para aumentar a liberdade do cão, aderir ao uso da guia longa é uma excelente opção. Dessa forma, ele poderá explorar melhor o seu entorno, tendo a segurança de estar preso à guia.
Passear diariamente é realmente importantíssimo para promover saúde física e mental. Durante os passeios, os cães se exercitam fisicamente e têm a oportunidade de manifestar inúmeros comportamentos naturais, como farejar, marcar território etc. Tudo isso é extremamente relaxante e promove bem-estar, devendo fazer parte da rotina e da vida de um cachorro domiciliado. Então, é muito importante que os humanos, possuidores do cérebro mais desenvolvido do reino animal, façam uso do conhecimento científico para garantira segurança dos seus próprios cães e da comunidade em que vivem.

{PAYWALL_FIM}

Por Camilli Chamone, Geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino e criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil.



Links importantes:

Quer anunciar na revista: conheça os formatos aqui
Leia alguns destaques da edição atual aqui
Conheça todas as publicações da Editora Top Co aqui
Para comprar a edição atual ou anteriores, acesse
Assine por 2 anos e leve 10 exemplares de revista + 2 Anuários de raças, acesse