Rottweiler: um cão multifuncional

Hoje, ele alia temperamento firme e caráter equilibrado e atua em várias funções. Além disso, segue sendo uma das raças mais criadas no Brasil.

Foto: Edmilson Reis
Cão: Champion Timit Thor/Canil: Timit Thor/

Entre 15 tradicionais cinofilias que, em 2022*, divulgaram o número de registros emitidos para exemplares dessa raça de origem alemã, nenhuma obteve quantidade tão expressiva quanto o da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC). No ano mencionado, ela concedeu 6.058 pedigrees para filhotes de Rottweiler, quase o dobro das duas outras que mais registraram: a Itália (3.370 pedigrees) e a França (3.361). Tais cifras fizeram com que o Rottweiler se consagrasse como a 4ª maior, entre 173 raças e variedades, em número de registros emitidos pela CBKC. “Como se vê, o Brasil é hoje um dos países com o maior número de exemplares da raça, e o interesse crescente pelo Rottweiler por aqui se reflete tanto na quantidade de cães registrados quanto na sua popularidade entre os proprietários de animais de estimação”, afirma o brasiliense Vítor Toloi, coproprietário do canil Rottland (é sócio de Mateus Costa). “Todos os dias sou procurado por interessados em adquirir um Rottweiler, o que inclui outros criadores assim como o público pet, que busca um cão para defender o seu patrimônio e a família”, relata Rogério Mariano Milhan, do canil Timit Thor Brasil, de Andradina, SP.

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Foto: Ronaldo Rufino/Cão: Strauss Kanto do Jardim Silva, campeão filhote e jovem/Propr.: canil Jardim Silva
O Rottweiler típico possui comprimento do tronco maior que a altura na cernelha em no máximo 15%

Arquivo do propr. (canil Hause B Schuindt)/Cão: Fama New von D’Lopes Rott Black
O crânio do Rottweiler aparenta ser mais largo se as orelhas estão voltadas para frente e caídas bem rentes às faces

CAUDA ÍNTEGRA

“O auge da popularidade do Rottweiler no País se deu na década de 1990”, afirma Afrânio Silva Jardim, do canil Jardim Silva, localizado na região dos Lagos, RJ. Só para ilustrar, em 1997, 26.028 exemplares da raça foram registrados pela CBKC. Naquela época, tanto nas exposições quanto nas casas, a maioria deles exibia cauda curta cortada por cirurgia (intervenção cujo termo técnico é caudectomia), para fins puramente estéticos. Hoje muitos países contam com legislação que proíbe esta prática, caso da Alemanha, desde 1998, e, do Brasil, desde 2013. “Uma grande mudança nas últimas décadas com relação ao físico do Rottweiler está relacionada ao fato de ele passar a exibir cauda íntegra em vez de cortada por caudectomia”, acredita Wallace Gomes Batista, do canil Hause B Schuindt, de Rio das Ostras, RJ.
Algumas nações ainda permitem a caudectomia, como os Estados Unidos. Diferentemente da CBKC, a principal entidade cinófila de lá, o American Kennel Club, não é afiliada à Federação Cinológica Internacional (FCI). “Com isso, eles têm um padrão próprio com essa diferença, em relação ao da FCI, de permitir cortar a cauda”, explica Afrânio, que escreveu o livro Rottweiler: Estudos sobre o Padrão Oficial. “Eu acompanho as grandes exposições dos clubes especializados de lá, como o Medallion Rottweiler Club e o Colonial Rottweiler Club, e boa parte dos exemplares têm a cauda cortada”, relata o árbitro especializado na raça desde 1994, Walter de Castro Coutinho, de Brasília. Consequentemente, tais cães estão proibidos de participar das exposições de vários países. “No Brasil, 100% dos exemplares exibidos em pista apresentam cauda íntegra já há bastante tempo”, diz Rogério.

EVOLUÇÃO COMPORTAMENTAL

“Na década de 1990, havia Rottweilers que, de tão ferozes, os juízes não conseguiam examinar nas exposições”, relata Afrânio. “Hoje, os exemplares da raça estão muito mais equilibrados nos ringues de julgamento do que no passado, quando houve momentos que, realmente, nós árbitros precisávamos retirar espécimes extremamente agressivos”, reforça Walter. “O treinamento para exposições mudou com o tempo, direcionado para o fato de que um cão não pode exibir nas pistas a mesma agressividade com que protege as pessoas de sua casa. Hoje, a exigência de um comportamento equilibrado nesses eventos é maior do que antigamente”, comenta Rogério.
“O Rottweiler passou por uma adaptação, de maneira que a criação foi sendo mais selecionada, com escolhas de exemplares equilibrados, de bom temperamento”, diz Daniela Bettamio, do canil Rottbettamio, de Paty do Alferes, RJ. “O comportamento da raça está realmente melhorado”, afirma Leão Aguiar, do canil Reis do Aguiar, de Belém. “O Rottweiler foi se adaptando, o que acarretou uma mudança muito interessante nos últimos anos: ele passou a ser mais ameno e equilibrado”, opina Wallace. Rogério, que vive com quatro exemplares da raça dentro de casa, junto de seus filhos de 6, 11 e 15 anos, relata: “Os cães zelam muito por eles. Basta que eu aumente o tom de voz com os meus filhos, o que ocorre às vezes, para adotarem atitude protetora em relação a eles, entrando logo em alerta e latindo, mostrando que não gostam disso e não permitindo que eu continue. E, ao mesmo tempo, são altamente extrovertidos, brincando de bolinha com eles e interagindo na piscina. Meus filhos até dão comida na boca dos meus cães”. Vitor acrescenta: “Atualmente, o Rottweiler é valorizado não apenas como guardião de propriedades, mas também como membro da família, capaz de formar vínculo de confiança e trabalho em equipe com seus donos e que serve ao lado dos humanos em várias capacidades”.

Foto: Bruno Sant’Anna/Cão: Chacal Rott Araxá, 1° da raça no ranking CBKC 2021 para a região Norte/Propr.: Leão Aguiar
As marcações em castanho nas faces, focinho, peito e pernas fazem parte da tipicidade estrutural do Rottweiler

Foto: Edmilson Reis/Cão: Frank Raj Du Rottbettamio, campeão brasileiro/Propr.: canil Rottbettamio
A trufa (nariz) sempre de cor preta é outro traço da tipicidade física de um exemplar da raça

FUNÇÕES PELO TEMPO

“Historicamente, os ancestrais da raça remontam à Roma Antiga”, conta Vitor. Walter explica: “Estavam com os legionários romanos por ocasião da conquista da Germânia, atual Alemanha, para fazer a guarda e também com a função de boiadeiro”. Essa última envolvia o acompanhamento e a proteção de rebanhos. Mais tarde, o Rottweiler se tornou cão de açougueiro (metzgerhund), no qual, além de proteger tais estabelecimentos, transportava carrinhos com carne. “Era utilizado nesse tipo de tração por ser forte e robusto”, diz Aley Sadi, do canil Imperial, de Esmeraldas, MG. “Além disso, ao longo do século XX, especialmente durante as guerras mundiais, exemplares da raça atuaram como cães de busca e resgate”, comenta Vitor. “Mesmo atualmente, em meu país, cães da raça vêm sendo usados em algumas de nossas unidades de resgate, ainda que não sejam muitos”, informa Oliver Neubrand, do canil Vom Hause Neubrand, da Alemanha. “Sei de exemplares que participam até de provas agility no Brasil”, informa Daniela. “Hoje o Rottweiler é encontrado junto como seu dono em atividades físicas esportivas”, confirma Vitor.
“Quanto à função de guardião, a raça permanece exercendo de maneira excelente, tanto em residência urbana como em fazenda”, garante Leão. “Ladrão não tem receio de cerca elétrica nem de câmera, mas tem medo do Rottweiler. Ele não entra em casa de uma pessoa que possui um exemplar da raça, pois sabe que não vai sair”, comenta Rogério. “O Rottweiler continua sendo um dos melhores cães para essa finalidade. Com relação à proteção pessoal, ele é conhecido por sua lealdade e seu instinto protetor, o que o torna excelente para a defesa de seus donos. Também se destaca na guarda residencial, onde protege a casa e a família, e na de propriedade, na qual é eficaz em grandes áreas, como instalações industriais, devido, por exemplo, à sua presença imponente”, diz Vitor. “O Rottweiler tem uma potência gigantesca para defender o dono e seu patrimônio”, reforça Aley. “Territorialista, ele está sempre atento e é um cachorro de finalização, ou seja, em vez de latir muito, principalmente para estranhos, ele só o faz quando algo realmente não está bem e logo parte para o ataque propriamente dito”, acrescenta Rogério. “O Rottweiler protege o território e também as pessoas que lidam com ele, não só o dono, mas todos que tenham uma relação e interação com o cão. Mas, como é muito mais amoroso e interativo com o proprietário que o Dogue Alemão, raça que criei por 18 anos, talvez por isso seja mais protetor em relação ao dono”, diz Afrânio.
Leão afirma: “O Rottweiler continua exercendo a sua função de cão policial”. Rogério acrescenta: “É utilizado tanto pela polícia militar, como também pela civil e pela federal. O cachorro que trabalha nos presídios nacionais é o Rottweiler. No exterior, é usado pelo FBI e pela SWAT. Tudo isso por se tratar de um cão destemido e de alta tolerância à dor”. A raça pode ser direcionada para qualquer tipo de atividade relacionada à segurança, inclusive farejar narcóticos. “Eu tinha uma fêmea de Rottweiler, a Penélope, que foi usada no faro de entorpecentes. Na verdade, ela era de duplo emprego, pois fazia tanto o faro como a guarda em unidades prisionais do meu estado, em meados da década passada. Penélope atuou por cinco anos e já faleceu. Quanto ao trabalho em presídios, encontrou inclusive celular. Atuou pouco com entorpecentes, porém sempre demonstrando ser muito boa mesmo”, relata o policial penal Laurênio Melo, do Acre.

Arquivos do propr.: Aley Sadi (canil Imperial)/Cão: Zappa vom Kümmelsee, melhor macho da Klubsieger Brasil 2019 (esquerda); Cão: Caya vom Schwarzen Skorpion, 1º lugar pelos rankings CBRR e APRO de 201 (direita)
Zappa (à esquerda), foi trazido ao Brasil depois de ter sido melhor da raça em exposição na Alemanha. Outro Rottweiler importado da Alemanha por Aley, Caya, foi melhor absoluta em especializadas cinco vezes consecutivas

Arquivo do propr.: Aley Sadi/Cão: Ilias vom Kümmelsee, campeão da ADRK, da VDH e da Europasieger, evento da VDH
No Brasil, o foco do cão da foto, o alemão Ilias, foi a reprodução

ASSOCIAÇÕES DA RAÇA

Atualmente existem várias entidades especializadas na raça afiliadas à CBKC e em atividade no Brasil, caso da Associação Paulista do Rottweiler (Apro), do Clube Mineiro da Raça Rottweiler (Rottminas) e do Rottweiler Clube do Estado do Rio de Janeiro (o RottRio, da qual Daniela é a atual diretora social). Há também o Conselho Brasileiro da Raça Rottweiler (CBRR), do qual Walter foi coordenador por muitos anos, inclusive na época de sua implementação pela CBKC. “Trouxemos para o nosso país o ADRK World Family Brazil 2023, a exposição mundial da ADRK, que fizemos no ano passado, uma de nossas maiores realizações”, destaca Walter. ADRK é a sigla para Allgemeiner Deutscher Rottweiler-Klub e. V., o clube da raça na Alemanha. “Hoje, graças ao CBRR, os criadores de cães da raça possuem um regulamento de criação e, dentro das recomendações, há a de sempre comprar um Rottweiler com pedigree da CBKC”, acrescenta Walter, que hoje é coordenador geral dos conselhos de raça da CBKC. “As associações voltadas para o Rottweiler no País realizam provas de temperamento (teste de índole e BH), que atestam a qualidade do cão em termos de obediência e comportamento equilibrado em público, e isso já é um grande passo para se selecionar bem a criação aqui no Brasil”, destaca Aley, atual presidente do Rottminas. “Durante as nossas exposições especializadas, são distribuídos informativos sobre o padrão da raça”, relata ele.

Foto: Edmilson Reis/Cão: Titan Monako von Rottland, campeão pan-americano, com exame negativo para JLPP/Propr.: canil Rottland
Pelo padrão racial, enquanto em alerta, a cauda do Rottweiler pode ser portada em curva suave

TERRA NATAL

Na Alemanha, 1.388 exemplares da raça receberam pedigrees em 2022. “Somos um país pequeno e um rigoroso programa de seleção e qualidade em vez de quantidade é o que estamos fazendo por aqui”, explica Oliver. “Na Alemanha, para poder ser utilizado na reprodução, o Rottweiler tem que passar por uma prova de seleção, o ZTP”, conta Wallace. ZTP é a sigla para Zuchttauglichkeitsprüfung (teste de aptidão reprodutiva). “Trata-se de uma prova no qual o cão é avaliado em sua morfologia e comportamento, a fim de que seus descendentes tenham temperamento típico e um tipo mais próximo ao padrão racial”, acrescenta o criador. “Ela possui mecanismos muito rígidos para um Rottweiler ter autorização para acasalamentos”, afirma Afrânio. “A parte do ZTP que tem sido mais difícil para um exemplar da raça superar atualmente é a proteção, na qual ele tem de mostrar suas habilidades no trabalho de guardião. De tão complicada, existem pessoas que percebem antecipadamente que seus cães terão faltas desclassificatórias nessa seção e nem aparecem com eles na prova, os vendendo para casas de proprietários de pets”, informa Oliver. “No Brasil, não há a obrigatoriedade de um teste similar ao ZTP para que os cães da raça se acasalem e seus filhos recebam pedigrees da CBKC, mas existe uma iniciativa muito grande dos criadores de realizar e titular os seus cães da raça em provas assim”, conta Aley. O ZTP é promovido pela ADRK, que, na Alemanha, emite os pedigrees da raça, sob a chancela da entidade máxima da cinofilia de lá, o Verband für das Deutsche Hundewesen (VDH).
“Por essa seleção e pelo controle de qualidade que a Alemanha emprega na criação de Rottweiler, canis de outros países acabam recorrendo a cães originários da terra onde a raça foi desenvolvida para apuração de seus plantéis ou mesmo iniciar suas atividades”, comenta Walter. Vitor afirma: “A criação na Alemanha também é reconhecida por sua ênfase na saúde”. Lá são realizados sistematicamente testes de DNA para controle de uma doença praticamente específica do Rottweiler, a Paralisia de Laringe e Polineuropatia Juvenil (JLPP), que afeta nervos interligados aos músculos da laringe, o que pode causar engasgos, pneumonia por aspiração e obstrução do fluxo de ar aos pulmões.

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Contatos dos criadores:
– Afrânio Silva Jardim e Elyeth Costa Silva Jardim, canil Jardim Silva – //caniljardimsilva.blogspot.com, [email protected]
– Aley Sadi, canil Imperial – (11) 94138-2259, https://m.facebook.com/canilimperialrott/, https://instagram.com/rottweilerimperial, https://m.youtube.com/c/canilimperialrottweiler
– Carlos e Daniela Bettamio, canil Rottbettamio – (24) 97402-3127, Instagrame Facebook: Canil_Rottbettamio
– Leão Aguiar, canil Reis do Aguiar – (91)98237-9177, Instagram: @canilreisaguiar, www.facebook.com/leao.aguiar
– Oliver Neubrand, canil Vom Hause Neubrand –Instagram: @oliverneubrand, Facebook: Oliver Rotti Neubrand
– Rogério Mariano Milhan, canil Timit Thor Brasil – (67) 99881-8181, Instagram: @timitthorbrasiloficial
– Vitor Toloi, canil Rottland – (61) 98221-2045, Instagram: @Vitortoloi_canilrottland, [email protected]
– Wallace Gomes Batista, canil Hause B Schuindt – (22) 99811-1431, https://canilhausebschuindt.com.br, www.instagram.com canil_hausebschuindt, Facebook: Hause B Schuindt

Por Fabio Bense



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