Cães resgatados ainda se encontram em abrigos para adoção e/ou para reabilitação, em função do trauma que sofreram

Em abril de 2025, completamos um ano da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, que deixou pelo menos 183 mortos e afetou mais de 2,1 milhões de pessoas. E até hoje, a população do estado e os animais afetados pelas chuvas de 2024 ainda sofrem com as consequências desta tragédia. Graciela Koche, protetora independente de São Leopoldo, RS, e dona do pet shop@studiopetsl, relembra o quão difícil foi abrigar e resgatar os animais vítimas das enchentes. “Antes mesmo de o abrigo do Big/Carrefour abrir – abrigo que foi instalado em um prédio do Carrefour que estava fechado, pela pressão que as protetoras fizeram para a Prefeitura – os resgates já estavam ocorrendo, e a maioria dos animais resgatados pelos barqueiros (sem tutores ou com tutores) não tinham para onde ir. A primeira orientação dada pela Secretária do Bem-estar Animal da Prefeitura de São Leopoldo foi a de soltar os animais em locais secos. Infelizmente, isso aconteceu com frequência. Diante da situação caótica, muitas protetoras e simpatizantes da causa animal se uniram e começaram a conseguir casas e terrenos vazios para abrigar os animais temporariamente. Diversos lares temporários surgiram, todos como objetivo de evitar que os animais ficassem na rua, à mercê da sorte”, relata. Ela, assim como protetoras de outros Projetos, como o Cãopanhia (@projeto-caopanhia), de Francine Schulz, o Adote um amigo (@adoteumamigo_sl), de Fernanda Sarmento, e o Mãos e Patas (@maosepatasrs), que nasceu durante esta época de resgates pós-enchente, se encontraram com os abrigos totalmente lotados, inclusive, o abrigo emergencial do Carrefour. “Ao longo de todo o período de funcionamento, cerca de 3.000 animais (cães e gatos) passaram pelo abrigo do Carrefour. Muitos animais chegavam apavorados, sem entender o que estava acontecendo, e ainda foram parar em um ambiente extremamente estressante, longe de suas famílias e referências. Felizmente, muitos conseguiram reencontrar seus tutores, que, por vários motivos, não puderam buscá-los a tempo. A emoção dos reencontros sempre tocava a todos! Alguns tutores voltaram mais de uma vez na tentativa de encontrar seus cães, mas devido ao caos e ao grande número de animais, muitas vezes só conseguiam encontrá-los após duas ou três tentativas”, relatam as protetoras. Porém, alguns cães, devido ao estresse e tristeza extrema, não reconheciam seus donos de imediato. “Era um ambiente muito triste para todos nós. Viver em correntes, sem a luz do sol, sem saber a diferença entre o dia e a noite, já que as luzes (devido a problemas elétricos) não podiam ser apagadas. Era uma situação muito difícil”, acrescentam as protetoras, que ainda contam que, para muitos animais, a enchente acabou sendo uma salvação, pois era evidente que eles sofriam maus-tratos antes. “Vários tiveram a chance de recomeçar, de iniciar uma nova vida, sendo adotados por famílias amorosas, pacientes e dispostas a fazer tudo o que fosse necessário para dar certo. Alguns cães estavam agressivos e precisavam de isolamento. Graças ao trabalho voluntário de adestradores e de pessoas com mais amor do que medo, esses animais receberam o atendimento necessário e melhoraram a cada dia, desenvolvendo confiança nas pessoas com quem estabeleciam vínculos”.


Outra grande batalha que enfrentaram foi quando o prazo de fechamento do abrigo do Carrefour se aproximava, e as protetoras, veterinárias e voluntários se uniram em uma grande campanha de adoção, convocando a comunidade de São Leopoldo. “Foram dias de intensa divulgação e campanhas nos semáforos ao redor do prédio, sempre pedindo por adoções responsáveis. Com muita mobilização, conseguimos várias adoções, até para fora do estado. No dia do fechamento, restaram no abrigo 23 cães. Hoje, desses, 12 ainda estão à espera de uma nova família, enquanto os demais foram adotados. Nove cães, por serem cães reativos, foram enviados para o Vale da Neblina Centro de Adestramento, em Farroupilha, RS, e oito seguem sem família até hoje (veja fotos deles nesta reportagem). Esses cães chegaram ao Vale extremamente assustados e traumatizados, cada um com um trauma específico. Com o passar dos meses e o trabalho contínuo da equipe, todos os cães evoluíram significativamente. Alguns já estão 100% aptos para uma adoção, enquanto outros continuam mais traumatizados. Hoje, nossa maior dificuldade é encontrar pessoas dispostas a adotar esses cães em processo de adestramento, sem preconceitos. Poucos compreendem tudo o que eles passaram. Embora estejam bem cuidados pela equipe do Vale, para que todo o esforço seja bem-sucedido, precisamos de pessoas dispostas a adotar esses cães”, contam as protetoras.
“Um dos cães que está no Vale da Neblina é o Ruan, que ficava solto no abrigo, pois ninguém conseguia colocá-lo na guia devido ao seu estresse. “Desde que começou o acompanhamento no Vale, ele aprendeu a andar na guia e se tornou super dócil e querido. Um vira-latinha raiz que é capaz de dar todo o amor que não recebeu antes”, dizem. “Nós, protetoras, estamos na missão desses mesmos cães desde maio de 2024. Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos diariamente, não vamos desistir de encontrar famílias para eles. Aproveitamos para agradecer a todas protetoras, simpatizantes da causa, ONGs pelo trabalho realizado para o bem-estar desses animais”, finalizam.

FINAL FELIZ
Mara Gimenez, psicóloga, de São Caetano do Sul, SP, e o veterinário Gabriel Debonis, adotaram Lupita, uma cadela idosa, com tumores e que foi resgatada das enchentes do RS. “Lupita ficou 3 dias no telhado aguardando resgate em São Leopoldo. Na chuva, no escuro, com frio, fome e medo. Chegou em São Paulo desnutrida e em estado de choque. Veio de avião do RS e foi encaminhada ao Clube dos Vira Latas, de Ribeirão Pires, SP. Quando vimos a foto dela, entrei em contato me candidatando para a adoção. Nós já tínhamos adotado três cães no Clube dos Vira Latas desde 2012: Beto, Sabrina e Sophie”, conta Mara que, desde a morte de Beto, estava tentando adotar outro cão idoso de ONG ou abrigo, mas sem sucesso.

Lupita no dia em que foi adotada (à esq.) e feliz em seu novo lar, com um de seus novos irmãos, o Yago
“Quando desistimos de procurar, e pensamos que o pet certo ia chegar até nossa família, aconteceu a tragédia no RS. Ajudamos nas campanhas de resgate com doações (para humanos e pets) e nos voluntariamos para auxiliar os resgatados”, diz. Por fim, Lupita apareceu para integrar a família de oito pets. “Ela ainda tem traumas dos momentos de desespero. Ela ficou acorrentada por 3 dias enquanto estava no telhado, chegou com marcas de corrente, desnutrida, não castrada e com tumores na cadeia mamária. Até hoje tem muito medo do barulho de chuva, se desespera, tenta entrar dentro dos armários no desespero. Mas se adaptou super bem com a rotina da família, logo aprendeu seu novo nome, a usar coleira e roupinhas, andar no shopping, e comer petisco. Ama um sofá e comer, e virou pet model, fazendo uma campanha de caminha. Ela é linda, inteligente e boazinha. Incentivamos a adoção de pets idosos. É a oportunidade de conhecerem o amor. E são eternamente gratos”, finaliza Mara.
Por Samia Malas
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