Saiba como identificar, tratar e prevenir os ecto e endoparasitas mais comuns em cães

Garantir alimentos de boa procedência e água de boa qualidade em um ambiente controlado e higienizado com frequência são as regras básicas para quem quer ver o pet de estimação longe de parasitas, sejam eles ectoparasitas – como pulgas e carrapatos, que se instalam na superfície externa do corpo do animal – ou endoparasitas, aqueles que vivem dentro do organismo do pet, representados majoritariamente pelos vermes, principalmente no sistema gastrointestinal.
ECTOPARASITAS MAIS COMUNS
Segundo a médica-veterinária Fernanda Dias de Paula, do Hospital AmarVet’s, as pulgas e os carrapatos são os ectoparasitas mais comuns em cães. Mas os ácaros (e até mosquitos como Lutzomyia, Aedes aegypti e Culex) também têm papel importante nas parasitoses caninas.
De acordo com Vanessa Genari, médica-veterinária do Hospital Veterinário Taquaral, os principais sinais que as pulgas causam nos cães são coceira, dermatite alérgica e perda de pelos; já os carrapatos podem provocar, além da coceira, vermelhidão e doenças como erlichiose e babesiose; os ácaros podem ocasionar tanto coceira intensa, quanto erupções cutâneas, perda de pelo e otite; e os mosquitos causam problemas sistêmicos de acordo com as doenças transmitidas, como falta de apetite, perda de peso, icterícia, entre outros.
FORMAS DE CONTÁGIO PELO CÃO
O médico-veterinário Kauê Ribeiro da Silva conta que os ectoparasitas chegam até os cães pelo contato direto entre animais de estimação, ambientes ou objetos infectados. “A maior parte dos ectoparasitas está no ambiente (na forma de ovos, principalmente), com apenas uma pequena porcentagem diretamente sobre a pele, ou seja, o ambiente tem um papel importante na prevenção de pulgas e carrapatos. Cães e gatos são responsáveis por permitir que o ciclo de vida destes ectoparasitas seja completado”, esclarece.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Para Fernanda, o tipo de lugar onde o animal vive influencia na hora de realizar o controle e a desinfecção necessários tanto para prevenir como para tratar ectoparasitoses em cães. “Locais com gramados e terra podem ser mais complicados e necessitar de produtos específicos para o ambiente”, diz a profissional. Ela recomenda que o tutor busque a orientação de um médico-veterinário, para uma indicação mais adequada ao estilo de vida do seu animalzinho. Além da higienização frequente do ambiente e dos pertences do animal, existe uma imensa variedade de medicamentos no mercado pet que fazem a proteção contra ectoparasitas, e a melhor opção será sempre a indicada por seu veterinário de confiança.
Vanessa Genari explica que, para o controle de pulgas e carrapatos, os tratamentos disponíveis são os orais; os tópicos, como pipetas e sprays; e as coleiras. “Geralmente, a prevenção deve ser feita mensalmente com remédios orais e tópicos, além de existir um remédio oral cujo efeito dura três meses, mas existem coleiras que protegem os cães por três a oito meses. Dependendo da área em que os cães vivem, se são áreas com alta infestação de ectoparasitas, se os cães têm acesso frequente à rua ou não, se esses animais vão em creche, se eles já tiveram alguma doença transmitida por ectoparasitas, o veterinário vai indicar medidas de prevenção mais frequentes e rigorosas. Para o controle de mosquitos, são utilizadas as coleiras e, para o controle de ácaros, temos as medicações tópicas, orais e xampu com produtos para tratamento”, afirma a médica-veterinária.
Ainda segundo Vanessa, para infestações severas de pulgas, existem produtos que podem ser aplicados nos locais onde se concentram a maioria dos insetos (como canis, assoalhos, carpetes e locais de permanência dos animais). Também é indicado passar aspirador de pó duas vezes por semana. Para eliminar mosquitos, existem inseticidas repelentes em spray e difusor, sendo que, ao aplicar sprays, é preciso deixar o animal distante do ambiente por algumas horas. Para animais alérgicos, prefira o difusor.
Tratar as ectoparasitoses nos cães é imprescindível para evitar as possíveis complicações, que podem ser infecções secundárias na pele e até progressão das doenças transmitidas pelo carrapato, como a erliquiose, com consequente anemia, podendo progredir para icterícia e, em casos mais severos, podendo até causar o óbito do animal de estimação.
ENDOPARASITAS QUE AFETAM OS CÃES
Para Fernanda Dias, Giárdia spp., Toxocara canis, Ancylostoma spp., Dipylidium caninum, Trichuris, Cystoisospora, Taenia spp. e dirofilaria estão entre os endoparasitas mais comuns nos cães. “E é comum o cão estar parasitado por mais de um tipo de parasita. Isso reforça a importância de utilizar preferencialmente produtos de amplo espectro para o tratamento, ou seja, aqueles que atuam contra diferentes tipos de vermes e parasitas, mas isso não dispensa avaliação clínica e diagnóstico adequados”, informa o veterinário Kauê Ribeiro da Silva.
GIARDÍASE
A giardíase induz diarreia por hipersecreção e má absorção, com aumento da permeabilidade intestinal. Na maioria dos cães, é subclínica, mas alguns podem apresentar diarreia severa com perda de peso. A Giardia spp. pode causar perda de apetite, desidratação, cólicas abdominais, fezes com muco e sangue e até vômito.
TOXOCARÍASE
A toxocaríase pode ocasionar uma zoonose conhecida como larva migrans visceral, também com sintomas gastrointestinais, perda de apetite e de peso e letargia.
Em filhotes, as larvas podem também trazer febre, secreção nasal, tosse, dispneia e até pneumonia.
ANCILOSTOMOSE
Mais comum em animais jovens, a ancilostomose pode provocar letargia, perda de apetite e de peso, lesões de pele, anemia e diarreia com sangue, entre outras manifestações gastrointestinais.
O Ancylostoma spp. também pode fazer um ciclo pulmonar, levando à tosse, febre e dispneia.
DIPYLIDIUM CANINUM
Este verme também pode gerar sinais gastrointestinais, tais como constipação, diarreia, presença de segmentos de parasitas nas fezes e prurido anal, além de perda de apetite e de peso.
DIROFILARIOSE
Causada pela Dirofilaria immitis, a dirofilariose (também chamada popularmente de verme do coração) pode provocar tosse, intolerância ao exercício, fraqueza, desmaios e ascite. É transmitida pela picada de mosquitos e de difícil tratamento, podendo levar a complicações como diarreia crônica, desnutrição, obstrução intestinal, problemas cardíacos e óbito.
FORMAS DE CONTÁGIO
De forma geral, o contágio de endoparasitas em cães se dá pela ingestão de ovos dos vermes, ingestão de hospedeiros intermediários infectados (pulgas), penetração de larvas pela pele ou também via placenta ou leite materno, além de picada de mosquitos (Culicoides), como é o caso da dirofilariose, explica Kauê. Já a médica-veterinária Fernanda Dias de Paula comenta que, no caso do Toxocara, a transmissão pode acontecer por ingestão ou lambedura de objetos contaminados ou pela via transplacentária da gestante para o filhote e transmamária na amamentação. Já o contágio do Ancylostoma pode se dar por quatro vias diferentes: oral, por ingestão ou lambedura de objetos contaminados; cutânea, com as larvas passando da pele para a circulação sanguínea ou linfática do animal de estimação; transplacentária, da cadela gestante para o filhote; e transmamária, durante o processo de amamentação.
O Dipylium passa através da ingestão de pulgas contaminadas; a Giárdia e a Cystoisospora, por ingestão de água e alimentos contaminados ou fezes de outros animais contaminados, sendo que esta última também pode ser transmitida quando o cão ingere ratos, baratas ou moscas contaminadas; e a Dirofilaria, pela picada de mosquitos como Aedes aegypt, Culex e Anopheles, com prevalência maior em regiões litorâneas, onde se exige uma maior ação preventiva, com o uso de fármacos, repelentes e controle dos vetores.
PREVENÇÃO
Segundo Vanessa Genari, não há como prevenir os endoparasitas, mas sim tratar caso o animal de estimação já esteja parasitado, por meio de vermífugos orais e controle ambiental com higiene regular e uso de sanitizantes que matam os vermes.
Porém, no caso dos filhotes, a vermifugação é recomendada, pois a maioria deles está imunossuprimido e apresenta algum tipo de verminose, sendo orientada a primeira dose com 15 dias de vida e a segunda, aos 30 dias. A partir de então, deve-se vermifugar mensalmente até o filhote completar 6 meses e, depois disso, tudo dependerá de onde o cão vive e qual o seu hábito de vida: se tem acesso à rua e se tem contato com outros animais de estimação. “O único remédio que pode fazer a prevenção é o antipulgas para evitar o Dipylidium”, reforça Vanessa.
TRATAMENTO
“Em geral, podemos usar vermífugos de amplo espectro, como associações entre fembendazol, pirantel e praziquantel. O fembendazol tende a ser mais específico para tratamento de vermes redondos, como o Ancylostoma spp. e o Toxocara spp., além de ser o fármaco de escolha para tratamento da giardíase. Já o praziquantel e opirantel tendem a ser mais específicos para tratamento de vermes chatos, como Dipylidium spp.”, explica Kauê. De acordo com Vanessa, para combater o Cystoisospora spp, deve-se fazer a administração de antibióticos do grupo das sulfonamidas. “A associação com trimetoprima é indicada para potencializar o efeito antimicrobiano e a terapia de suporte é feita com probióticos para equilibrar a microbiota intestinal”, compartilha Vanessa. Ainda segundo ela, o tratamento da dirofilariose é bem difícil. “Pode-se usar doxiciclina e ivermectina ou milbemicina oxima, além de imidacloprid e moxidectina para eliminar microfilárias e melarsomina para tratar infecções adultas”, diz a médica-veterinária, lembrando que a ivermectina não pode ser usada em cães pastores.
Entre as complicações das endoparasitoses, podemos citar a obstrução intestinal, a anemia grave, a prostração geral, a desidratação severa, a má absorção de nutrientes, a insuficiência cardíaca, o edema pulmonar e até o óbito, caso o animal de estimação não receba o atendimento necessário, por um médico-veterinário.
Agradecimentos:
Fernanda Dias de Paula Médica-veterinária clínica geral do Hospital AmarVet’s, residente em medicina de animais silvestres pela UNISA e pós-graduada em anestesiologia veterinária pela UFAPE. Instagram: @hospitalamarvets
Kauê Ribeiro da Silva Médico-veterinário (FMVZ-USP), pós-graduando em Nutrologia de Cães e Gatos (IEP Ranvier) e Coordenador de Comunicação Técnica (Vetnil) Site: www.vetnil.com.br
Vanessa Genari Médica-veterinária formada na Unesp Botucatu com residência em Clínica Médica de Pequenos Animais pela mesma universidade, atende Clínica Geral no Hospital Veterinário Taquaral
Por Lila de Oliveira
Links importantes:
Quer anunciar na revista: conheça os formatos aqui
Leia alguns destaques da edição atual aqui
Conheça todas as publicações da Editora Top Co aqui
Para comprar a edição atual ou anteriores, acesse
Assine por 2 anos e leve 10 exemplares de revista + 2 Anuários de raças, acesse