Dor, diminuição do nível de atividade e alterações de comportamento podem ser sinais de doença articular. Após os 5 anos, o problema acomete 90% dos cães

Maior causa de dor crônica em cães, a osteoartrite é uma afecção progressiva, na qual há a degeneração da cartilagem e de estruturas articulares. Comumente observada em cachorros com comorbidades osteoarticulares, em que secundariamente ocorre o desenvolvimento de um processo inflamatório crônico, a osteoartrite causa dores constantes e restrição de mobilidade articular, comprometendo fortemente a qualidade de vida do animal de estimação.
Estima-se que mais de 40% dos cães que ultrapassam a metade da expectativa de vida tenham pelo menos uma articulação em processo de degeneração. Diferentemente do que muitos pensam, a osteoartrite é comum em cães jovens: cerca de 20% dos cães acima de 1 ano de idade já têm a doença e, após os 5 anos, essa taxa aumenta para 90%. A doença articular degenerativa não tem preconceitos – pode acometer todos os cães. Mas ela tem preferências: cães com desvios ósseos (fisiológicos e patológicos) ou com doenças inflamatórias articulares (hemoparasitose, doenças imunomediadas e doenças inflamatórias) são os mais afetados, conforme explica o médico-veterinário José Fernando Ibanez, coordenador do curso de especialização em ortopedia e neurocirurgia da Anclivepa-SP.
Já a médica-veterinária Fabiana Gonçalves de Oliveira, ortopedista no Hospital Veterinário da USP, destaca que a herança genética tem grande participação, mas que, entre os fatores que podem predispor ao desenvolvimento da doença, podemos citar: os ambientais, o histórico nutricional, a intensidade da atividade física que o pet pratica, o sobrepeso, as mal-formações ósseas e articulares, as lesões ligamentares, as fraturas e as cirurgias articulares.
Estatisticamente, Fabiana acrescenta, cães de raça pura são mais predispostos à osteoartrite. “Além disso, algumas raças são suscetíveis a desenvolver determinadas doenças ortopédicas: a luxação de patela é muito comum em Spitz Alemão, Yorkshire e Pinscher, assim como a displasia coxofemoral é frequente em Pastor Alemão, Buldogue e Labrador. Como consequência destas, desenvolve-se a doença articular degenerativa”, diz a profissional. José Fernando ressalta a predisposição de algumas raças com desvios ósseos fisiológicos, como Buldogue, Lhasa Apso, Shih Tzu e Teckel.
SINTOMAS E DIAGNÓSTICO
Entre os sinais característicos da doença articular estão a relutância em praticar atividades físicas, limitações ao subir e descer do sofá, da cama ou até mesmo escadas, andar rígido, mancar em diferentes graus e, às vezes, sem conseguir apoiar um ou mais membros no chão, e dificuldade para sentar-se e levantar-se. O animal pode apresentar alterações no sono, humor ou apetite, além de mudanças no temperamento, como hiper-reatividade ou até mesmo agressividade ao receber carinho do tutor em determinadas regiões.
O curioso é que, embora a osteoartrite seja uma doença muito mais comum do que se possa imaginar, os tutores de animais de estimação geralmente demoram para perceber os seus sintomas. “Isso acontece porque nossos pets têm um poder adaptativo fantástico e mascaram os sintomas que sentem por longos períodos, até que seus cuidadores comecem a notar alguns sinais, quando eles já estão mais velhos, com a doença em fase mais avançada e, consequentemente, com dores mais intensas. Por vezes, esses sintomas acabam passando despercebidos também pelos médicos-veterinários e, por isso, a doença é subdiagnosticada”, afirma Fabiana.
José Fernando explica que o diagnóstico é feito essencialmente pelo exame físico. “As alterações radiográficas demoram para aparecer e, quando estão presentes, isso indica um processo crônico já”, esclarece.
TRATAMENTO E SUPLEMENTAÇÃO
“Uma vez instalada a artrose, não há cura, mas existem ferramentas para reduzir a velocidade de evolução e melhorar o estado da articulação doente”, diz José Fernando. Ele ainda explica que o tratamento consiste em uma abordagem multimodal em que são utilizados anti-inflamatórios, fármacos modernos que modulam a atividade hormonal, analgésicos, alterações na dieta, fisioterapia, cirurgias e nutracêuticos. Estas – continua José Fernando – são substâncias químicas naturais ou sintéticas que alteram o metabolismo articular, melhorando a saúde e a qualidade da sinóvia – líquido produzido durante o movimento e responsável por lubrificar a superfície dos ossos que se articulam e pela nutrição da cartilagem articular. “No paciente que tem artrose e dor, há menos movimento, porque dói. Se tem menos movimento, tem menos produção de sinóvia e, por sua vez, menos lubrificação e pobre nutrição da cartilagem. Isso gera mais dano articular”, detalha.
Fabiana conta que, se o paciente estiver com sobrepeso, deve iniciar uma dieta e praticar exercícios de baixo impacto. Ela concorda que a suplementação alimentar, com nutracêuticos em dose apropriada, no longo prazo, pode complementar o tratamento, auxiliando no controle da inflamação e da dor e garantindo uma maior mobilidade ao paciente.
Quando o tratamento é iniciado logo após o diagnóstico precoce da doença, os resultados são ainda melhores no que diz respeito ao retardo da degradação articular. Fabiana também menciona que há terapias para agregar ao tratamento, tais como infiltrações intra-articulares, uso de anticorpo monoclonal e fisioterapia – esta última sendo uma grande aliada para manter a mobilidade articular, um bom aporte muscular e também ajudar no controle da dor que o animal de estimação sente.

notar alguns” diz Fabiana Gonçalves de Oliveira , ortopedista
PREVENÇÃO
De acordo com a veterinária Fabiana, como a osteoartrite muitas vezes está relacionada a alguma doença do desenvolvimento ósseo, articular ou muscular, se essa doença prévia for diagnosticada precocemente, o tratamento cirúrgico, quando bem aplicado, pode sim evitar o desenvolvimento da osteoartrite em cães.
José Fernando acrescenta que um controle rígido, com pesquisa precoce (perto dos 4 ou 5 meses de vida) de displasias de cotovelo e coxofemoral, por exemplo – que são doenças comprovadamente genéticas –, poderia proporcionar muito mais qualidade de vida para esse pet. A avaliação ortopédica quando o cão ainda é filhote é fundamental para que o tutor receba as devidas orientações relativas ao manejo do ambiente, que podem incluir recomendações como evitar pisos escorregadios, adaptar escadas ou rampas para subir no sofá e na cama, controlar o peso e realizar atividades diárias para evitar o sedentarismo, entre outras.
José Fernando chama atenção para o fato de que uma dieta equilibrada e uma vida ativa são chaves para ter articulações saudáveis por longos anos: “Quando eu falo de vida ativa, eu quero dizer uma vida com atividade física focada, em um piso adequado. Assim como nós humanos, os pets colhem os frutos da mudança do estilo de vida da humanidade. Assim como nós, eles são sedentários (muitos vivem em pequenos apartamentos) e não saem para passear (ou, no máximo, vão a parques nos finais de semana), o que os deixa sujeitos ao desenvolvimento de obesidade e atrofia muscular, entre outros.
Nossos Agradecimentos:
Fabiana Gonçalves de Oliveira Médica-veterinária pela UAM, pós-graduada em Cirurgia Geral pelo CETAC, residência em cirurgia geral pelo HOVET-USP, residência em ortopedia pelo HOVET-USP, certificada AOVET, atualmente médica-veterinária ortopedista no Hospital Veterinário da USP, parte da equipe de ortopedia na clínica DUO Ortopedia Veterinária, hospital veterinário Petcare e hospital veterinário SERES.
@duoortovet
José Fernando Ibanez Médico-veterinário formado pela FMVZ-USP; mestre em cirurgia pela FMVZ-USP; doutor em ciências pela FMUSP; professor de técnica cirúrgica, cirurgia e ortopedia desde 1996; coordenador do curso de fisiatria e reabilitação de cães e gatos da Anclivepa-SP; sócio fundador da Acco Veterinária; palestrante em diversos congressos.
@vetfernandoibanez e accoveterinaria.com.br
Por Lila de Oliveira
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