Cachorro puli: o companheiro rastafári brincalhão

Com todos esses “cordões” pendurados no corpo, não tem como não associar a imagem do cachorro Puli aos penteados rastafári, aqueles dos cabelos em forma de “cordas”. Essa curiosa pelagem vinha a calhar na função original da raça – o pastoreio –, já praticada por seus ancestrais antes do século 10 para habitantes nômades das planícies húngaras.

A densa e espessa camada de pelos da raça Puli, quase totalmente à prova d’água, protege-o das mordidas dos lobos, assim como isola o corpo das variações climáticas que, na Hungria, costumam ir de 29ºC negativos a 42°C positivos. Evita, ainda, a formação de feridas ao roçar em plantas com espinhos, em arbustos ou em galhos secos, por exemplo.
O tamanho dos cães desempenhou papel importante no desenvolvimento das raças húngaras usadas em trabalhos com rebanhos, todas fáceis de serem ensinadas, algumas com forte instinto de proteção, caso do Komondor, do Kuvasz e do Puli, outras com maior disposição para correr atrás das reses, como o Mudi, o Puli e o Pumi.

Os de maior porte, como o cachorro Komondor, cuja pelagem se assemelha à do Puli, e a raça Kuvasz, eram preferidos para guardar rebanhos. Já os menores, como o Puli, conduziam e pastoreavam principalmente ovelhas e, eventualmente, gado.

No século 16, invasores levaram outros cães de pastoreio à Hungria e o Puli passou por forte mestiçagem. Um trabalho de reconstituição da raça foi iniciado em 1912, desenvolvendo Pulis de quatro diferentes tamanhos. Em agosto de 1923, o resultado desse trabalho foi apresentado numa exposição em Budapeste. Mas o padrão oficial da raça como é hoje, apenas com porte médio, só foi reconhecido pela Federação Cinológica Internacional em 1954.

Cachorro raro 

O Puli é um fora de série mundial. Em 14 das 15 maiores cinofilias do planeta (que emitem mais de 40 mil pedigrees por ano), foram registrados em 2013 apenas 162 exemplares da raça (os Estados Unidos não estão na soma porque o American Kennel Club não divulga estatísticas de registros desde 2009).

Na Hungria, anualmente, 100 a 125 Pulis recebem pedigree segundo estimativa do criador húngaro Janos Karakas. No Brasil, sabe-se que existiam alguns exemplares na década de 1960, mas a criação não deslanchou. Em 1990, o Puli retornou ao cenário nacional, sempre em pequena escala. Entre 2009 e 2013, apenas 12 pedigrees de Puli forma emitidos pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), todos de filhotes produzidos por Paloma Pegorer, criadora da raça pelo canil Lapinus.

“A manutenção da pelagem do Puli intimida muita gente”, diz Stephanie Horan, que cria Puli no Canadá, o país que mais registros teve em 2013 (36) entre as 14 maiores cinofilias. Mas a escovação não dá trabalho. O próprio padrão oficial define: “Tanto uma pelagem escovada, quanto uma total falta de cuidados são indesejáveis.” Nem mesmo se tosa o Puli, não há muda ou perda excessiva de pelos e os banhos não devem ser muito frequentes.

“Devem ser dados apenas antes de exposição e quando o cão estiver exalando odor, pois convém manter a pelagem um pouco oleosa”, explica Marianne Nyman, criadora de Puli na Suécia, país com a segunda maior quantidade de registros (31), entre os 14 mencionados. O que dá trabalho é manter os cordões bonitos.

Manutenção da pelagem do cachorro Puli

Até os 10 meses a pelagem do Puli é encaracolada, muito parecida com a do Poodle. A partir dessa idade começam a aparecer os típicos cordões, que resultam da mescla do pelo externo (que é rústico, longo e abundante) com o subpelo (mais fino, macio, lanoso e muito denso). Para que a fusão ocorra, é preciso uma correta proporção entre os dois tipos de pelos e que a pelagem externa não seja muito mais forte que o subpelo nem mais escassa.
Acontece que esses cordões tendem a embolar se não passarem por cuidados constantes. “O recomendável é separá-los um por um, toda semana, à mão ou com desembolador especial”, diz Paloma. “Se essa frequência não for obedecida, os cordões tendem a ficar muito embolados.” Paloma também indica lavar semanalmente, com água e xampu neutro, os pelos ao redor da boca, do abdome e do ânus para evitar o acúmulo de restos de comida, urina e fezes.

Cão de companhia

“O Puli tem vários atrativos como cão de companhia, a começar pelo exotismo da pelagem, mas também contam pontos o porte médio, apenas um pouco maior que o do Beagle, e o temperamento entusiasmado, leal e protetor, que desenvolve profundos laços com a família humana”, observa Paloma.

Em todo o mundo, a grande maioria dos Pulis vive em casas, com livre acesso à parte externa e interna. São cães que se adaptam à vida em apartamento, desde que levados para passear diariamente. E a versatilidade da raça se manifesta em exemplares que pastoreiam, fazem guarda, atuam em agility, provas de obediência, flyball, frisbee ou  pet terapia.

Saúde do cachorro Puli 

O mal genético mais incidente na raça é a displasia coxofemoral. “Na Hungria, a recomendação é que o Puli passe por teste de displasia antes de ser acasalado”, informa a criadora húngara Buha Orsolya. “Os suecos testam seus plantéis quanto a displasia coxofemoral, doenças oculares, mielopatia degenerativa e luxação de patela”, relata Marianne. Numa pesquisa do clube do Puli sueco, feita em 2009, 8 entre 174 exemplares da raça (4,6%) tiveram problema de saúde declarado.

A Orthopedic Foundation for Animals, dos Estados Unidos, relata que 10,2% dos Pulis avaliados apresentavam algum grau de displasia coxofemoral; 5,1% estavam com mielopatia degenerativa (doença na medula espinhal); 3,4% manifestavam luxação de patela e 3,7% tinham problema ocular.