Rações enriquecidas, alimentos funcionais e a relação entre a disbiose e as doenças estão na pauta dos pesquisadores

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Com a proximidade cada vez maior entre pets e tutores e a busca crescente por um estilo de vida mais saudável – fenômenos que se intensificaram com a pandemia –, a nutrição animal vem ganhando mais espaço nas clínicas e no meio acadêmico. Não à toa, em outubro de 2022, o Conselho Federal de Medicina Veterinária reconheceu oficialmente as especialidades de nutrição e nutrologia, e a Associação Mundial de Medicina Veterinária traz hoje a nutrição como o quinto parâmetro vital. “Na nossa rotina, atualmente, é obrigatório, por exemplo, conhecer o histórico alimentar do animal e fazer a avaliação do seu escore corporal, o que antes passava despercebido”, afirma Karol Vanelli, médica-veterinária nutróloga.
A especialista conta que, no meio científico, o que tem se destacado são os estudos acerca do intestino dos cães. “A gente tem estudado muito a relação entre o equilíbrio da microbiota intestinal e a imunidade”, diz. Já se sabe, segundo ela, que a modulação intestinal a partir da suplementação com probióticos tem dado bons resultados em respostas alérgicas, imunológicas e de emagrecimento. A nutróloga destaca ainda a crescente utilização de compostos bioativos nas rações e que os cientistas têm procurado entender como cada nutriente pode modular uma resposta específica em um indivíduo, “trazendo benefícios não para substituir medicamentos, mas para se reduzir as doses ou a frequência de administração ou dar suporte a um paciente debilitado”.
Segundo o médico-veterinário Fabiano Cesar Sá, estudos sobre novos ingredientes, novos processos, e a respeito da nutrição aplicada à prática clínica têm impulsionado as empresas de pet food a investirem em alimentos cada vez mais tecnológicos e específicos, como as linhas de alimentos coadjuvantes, voltadas a auxiliar no tratamento de diferentes enfermidades. “Outro exemplo são os diversos estudos que estão sendo conduzidos a respeito da interrelação entre a nutrição, a imunidade e a saúde intestinal, uma temática relevante e promissora”, acrescenta.
NUTRIENTES ESSENCIAIS
Os componentes que não são sintetizados pelo organismo do cão – ou quando isso não ocorre com a rapidez necessária – são chamados de nutrientes essenciais. Entre eles, estão carboidratos; fibras; alguns minerais; vitaminas A, do Complexo B, C, D, E e K; ômegas 3 e 6; e proteínas compostas por aminoácidos essenciais, como fenilalanina, triptofano e taurina, entre outros. “Hoje há estudos que demonstram que a deficiência de taurina pode estar associada a doenças cardíacas em cães, mas antes acreditava-se que ela fosse essencial somente para gatos”, informa Karoline Vanelli.
A médica-veterinária Monize Walder explica que cada um desses grupos de nutrientes desempenha uma ou mais funções e, para que sejam bem executadas, o alimento deve ser completo e balanceado, ou seja, conter todos os grupos nas proporções adequadas, de acordo com o porte, o nível de atividade e a presença de alguma doença ou particularidade de saúde. Isso sem falar, é claro, na idade do cão.
CADA FASE, UMA NECESSIDADE
Como os filhotes têm mais demanda de energia, há uma maior necessidade de gorduras, proteínas e carboidratos. Já a nutrição de cães idosos deve atender as mudanças que vêm com a idade Como os filhotes têm mais demanda de energia, há uma maior necessidade de gorduras, proteínas e carboidratos. “Nos alimentos comerciais destinados a eles, temos níveis mais altos de proteínas e gorduras, além do DHA, ácido graxo proveniente do ômega 3 que contribui para o desenvolvimento cognitivo e a memória, auxiliando na aprendizagem”, descreve a médica-veterinária Kelly Lopes Carreiro. A médica-veterinária nutróloga Mayara Andrade chama atenção para o manejo alimentar: “tanto o número de refeições quanto a quantidade oferecida devem ser adequados. Para filhotes de 2 a 3 meses, indica-se quatro refeições ao dia; e entre 3 e 6 meses, de duas a três”, diz a veterinária, que ressalta que a orientação pode mudar de acordo com necessidades específicas do filhote. Quando o cão completa seu desenvolvimento ósseo, passa a ser alimentado como adulto. Nessa etapa, não precisa de tanta energia como os filhotes, mas de nutrientes equilibrados para a manutenção da saúde e do peso.
Já a nutrição de cães idosos deve atender as mudanças que vêm com a idade. Para Kelly Carreiro, além de pensar nos nutrientes, deve-se considerar que os pets precisam conseguir consumir o alimento de forma completa. “Como podem estar com dentes frágeis ou sem dentes, é necessário oferecer grãos com ponto de quebra para facilitar a mastigação. Alimentos úmidos para sêniores também são uma ótima opção e, além disso, cães idosos precisam de mais energia que os adultos, pois seu metabolismo já está desacelerado e a absorção de nutrientes pode não ser tão eficiente. O alimento deve ter maior digestibilidade, mais proteínas para a manutenção da massa muscular e ingredientes funcionais que auxiliem na imunidade. Outro cuidado é o controle do nível de fósforo, para preservar a saúde renal.”
A RAÇÃO CERTA
Karoline Vanelli explica que, para saber se o cão está adaptado à ração, o tutor deve observar a qualidade fecal e a pelagem. “Se você faz a troca da ração e o pet começa a produzir alto volume de fezes, muito moles e com mau odor ou passa a ter queda de pelo intensa e pelagem opaca ou ressecada, você tem indicativos de que ele não está se adaptando”, ensina. Além de escolher o produto conforme a etapa de vida, é fundamental observar a classificação mercadológica. “Para fornecer uma nutrição adequada, deve-se optar por rações premium, high premium ou super premium. Nunca abaixo disso”, opina a profissional. Ela explica que a classificação depende de fatores como qualidade e quantidade de nutrientes, tipo de embalagem, processo de fabricação e presença de ingredientes funcionais, mas recomenda que sempre se consulte um veterinário para avaliar se o cão tem alguma necessidade específica.
Segundo Kelly Carreiro, os alimentos super premium são os de maior qualidade, pois, além de fornecerem os nutrientes essenciais, trazem benefícios extras e são produzidos com os ingredientes mais nobres do mercado. Os alimentos high premium têm características próximas aos produtos premium, além de benefícios dos super premium. “Em geral, a composição não é tão diferente dos produtos premium, mas apresentam matérias-primas mais nobres”, afirma. Mayara Andrade acrescenta que o cão precisa de menor quantidade de um alimento super premium comparado ao consumo diário de outras categorias, pois ele é mais concentrado em nutrientes e energia, proporcionando maior aproveitamento.
Monize Walder destaca que, quando o cão ingere um alimento de boa qualidade, indicado para ele, normalmente não se faz necessária a suplementação nutricional. “Mas certas patologias ou desequilíbrios fisiológicos relacionados a idade ou castração, por exemplo, podem demandar mais ou menos de um nutriente”, diz.

MAIS BENEFÍCIOS
Segundo Marina, alimentos funcionais são aqueles que, além de fornecerem os nutrientes essenciais, têm componentes com funções biológicas específicas, que otimizam a saúde e previnem ou retardam as doenças crônicas. Entre os exemplos citados pelas especialistas, estão os óleos de algas e de peixe, ricos em ômega 3, que apoia o desenvolvimento cerebral; a polpa de beterraba, fonte de prebióticos; o colostro bovino, um potente prebiótico e imunomodulador; o colágeno, que previne problemas articulares; o extrato de valeriana, que atua na captação de endorfina, dopamina e serotonina; a coenzima Q10, que auxilia no funcionamento do coração; e o licopeno, com ação antioxidante e imunomodulatória importante; entre muitos outros.
A médica-veterinária Letícia Tortola destaca que os ingredientes funcionais podem estar nos alimentos completos, coadjuvantes ou petiscos e “tão importante quanto ter ingredientes funcionais é que eles sejam incluídos em quantidades suficientes e que os resultados sejam cientificamente comprovados para os benefícios extras à saúde do pet”, opina. E, por falar em petiscos, eles são bem-vindos – como agrado ou recompensa ou quando se busca um benefício específico – desde que se limitem a 10% do total
das calorias diárias. “Em alguns casos, como os petiscos unitários de saúde oral, pode-se oferecer diariamente sem acréscimo considerável de calorias”, pondera Monize.
ALIMENTAÇÃO NATURAL
A oferta de alimentação natural (AN) para pets é outra grande tendência do setor de nutrição. “Hoje as pessoas têm uma ligação muito grande com seus pets, como membros da família, por isso, uma maior preocupação com saúde e bem-estar deles, desejando que tenham maior longevidade, assim, procuram uma dieta que promova saúde para seu bichinho”, opina Glauce Ribeiro, Zootecnista Especialista em Nutrição Animal. Ainda segundo ela, a AN, que não deve ser confundida com alimentação caseira (que não tem orientação de um profissional qualificado), é um alimento completo, balanceado, composto de ingredientes frescos e saudáveis, feita com carnes, legumes, verduras e cereais de alta qualidade. “Qualquer cão, a partir do desmame, pode ter uma dieta exclusivamente natural, só vai depender do tutor. Importante que seja uma dieta balanceada por um profissional, zootecnista ou veterinário capacitado ou preparado por uma empresa que atenda todas as exigências do MAPA, com programas de qualidade e segurança alimentar”, enfatiza a consultora, que lista alguns benefícios dessa dieta: “é um alimento feito com carnes, verduras e cereais de alta qualidade e frescos; possui uma maior palatabilidade; contém mais de 75% de água, fazendo com que o animal tenha maior ingestão líquida; e possui alta digestibilidade.”
ALIMENTOS ÚMIDOS
Para aumentar a ingestão hídrica, favorecer a saúde do trato urinário e limitar o ganho de peso – por conta do baixo conteúdo energético –, os alimentos úmidos podem (e devem!) ser oferecidos diariamente, segundo Letícia. “A textura macia também é um fator importante para cães em fase de desmame e aqueles com dificuldade de mastigação. Eles têm em torno de 80% de umidade e, combinados a alimentos secos, tornam a rotina alimentar ainda mais palatável e nutritiva, além de proporcionar a variação de texturas”, afirma.
Karoline destaca que os sachês também são ótimas alternativas para pacientes com problemas de obstrução, baixa ingestão hídrica, idosos, pacientes oncológicos, cardiopatas ou com qualquer doença que exija restrição alimentar. Podem ainda ser usados em tratamento para obesidade, quando é necessário aumentar a sensação de saciedade. “Reduz-se um pouco da ração seca e adiciona-se o alimento úmido para fazer esse equilíbrio, sempre com orientação do veterinário, desde que o rótulo apresente a informação ‘100% completo e balanceado’. Caso contrário, o sachê deve ser usado apenas como um petisco, ou seja, para estimular o consumo alimentar e não para substituir o alimento seco”, finaliza Karoline.
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Agradecemos os colaboradores:
– Fabiano Cesar Sá, Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na Adimax. Médico-veterinário, Mestre e Doutor em nutrição de cães e gatos.
– Glauce Ribeiro, Zootecnista Especialista em Nutrição Animal da Bezzie Pet Food.
– Karoline Vanelli, Médica-veterinária nutróloga e professora especialista na área de nutrição de cães e gatos, referência clínica no tratamento de animais obesos. Doutora em nutrição de cães e gatos.
– Kelly Maiara Lopes Carreiro, Médica-veterinária com Pós-Graduação em Nutrição de Cães e Gatos, Analista de Desenvolvimento de Conteúdos na Special Dog Company.
– Letícia Tortola, Médica-veterinária e Coordenadora de Comunicação Científica da Royal Canin Brasil.
– Marina Macruz, Supervisora de Capacitação Técnico Científica e Técnico-Comercial da PremieRpet®, médica-veterinária formada pela FZEA/USP e pós-graduada em Marketing e Gestão de Vendas pela Saint Paul Escola de Negócios.
– Mayara Andrade, Médica-veterinária nutróloga de Biofresh e Guabi Natural (BRF Pet), especializada pela Anclivepa-SP. Atua no mercado pet food há 10 anos, com experiência em propaganda técnica, treinamento de equipes e produção de materiais técnicos
de comunicação e comunicação científica.
– Monize Walder, Médica-veterinária formada pela UNIP Campinas, atua na área comercial há 11 anos com foco na indústria pet food. Há 6 anos, é Representante de Informação Veterinária na Nestlé Purina e atualmente apoia a comunicação de Purina Institute no Brasil.
Por Lila de Oliveira
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