Confira trabalhos de adestradores que atuam com cães de agressividade excessiva, fazendo com que voltem a ter uma nova chance de um lar
Um dos problemas comportamentais mais sérios – e que também é uma grande causa de abandono ou até mesmo, de eutanásia em alguns casos –, são os comportamentos agressivos. Por este motivo é tão importante entendermos o que os motiva e o que é possível fazer em casos de agressividade excessiva em cães, incluindo a prevenção. O adestrador do Centro de Adestramento Vale da Neblina, Cesar Beux, de Farroupilha-RS, nos explica que comportamentos como latir, rosnar e morder, fazem parte da natureza canina, e cabe a nós compreendermos quando isso pode ou não ser um problema, ou mesmo o que estamos fazendo para diminuir ou aumentar a frequência destes comportamentos. “O comportamento de um cão é definido, basicamente, pela sua genética e pela sua criação. A busca pelo comportamento adequado a cada raça é um trabalho realizado por criadores sérios que testam e estudam as diferentes características de cada linha de sangue antes de promover os cruzamentos. Por mais que isso não garanta um sucesso no resultado deste cruzamento, é uma excelente ferramenta em busca dos comportamentos desejados pela nossa sociedade. Porém quando este trabalho não é realizado ou mesmo quando o indivíduo é fruto de um cruzamento aleatório, não há como prever o resultado, uma vez que cães tendem a imprimir mais o comportamento de seus ancestrais do que os humanos, por exemplo. Logo, se queremos cães que não sejam agressivos, não devemos permitir cruzamentos entre indivíduos agressivos”, aponta Cesar, que também é árbitro de adestramento pela CBKC, criador da raça Pastor Belga Malinois e treinador e competidor de Mondioring.
Já o adestrador Eduardo Gustavo Sprotte, proprietário do hotel Férias do Dono, comenta que uma das grandes causas da agressividade em cães é a falta de conhecimento técnico do tutor para lidar com este cão. “Quando os tutores nos procuram, normalmente, já tentaram várias maneiras diferentes para solucionar a situação”, diz Eduardo, que desde a década de 1990 participa de um projeto de ressocialização e reabilitação comportamental de cães e gatos em parceria com a prefeitura de São Paulo. “Fazemos a reabilitação desses cães e gatos com o objetivo de facilitar a adoção deles”, explica.
POSTURA INADEQUADA
Um ponto que precisa ser dito, é que proprietários de cães têm a sua parcela de responsabilidade na agressividade excessiva de cães. “Muitas vezes eles são muito tolerantes e permissivos quanto aos comportamentos inadequados de seus cães. Ainda existe uma grande parcela de pessoas que somente busca ajuda de profissionais quando o convívio com o cão está insustentável. E o principal motivo disso é a humanização dos cães”, comenta Cesar, que continua: “Além dos fatores genéticos que devem ser avaliados de maneira prévia, a criação também entra com uma grande participação na formação da índole deste indivíduo. E o antropomorfismo é um vilão nesta história. Basta notar que a maioria dos cães que apresentam problemas comportamentais relacionados a agressividade são de pequeno porte. Criados como filhos humanos, sem regras nem limites, temos resultados desastrosos. Porém, os ataques de cães pequenos normalmente não estampam capas de jornais e matérias de televisão, por isso as raças de grande porte são as mais citadas quando entramos neste tema”.
LIDANDO COM A AGRESSIVIDADE
Para determinar qual o método a ser utilizado com cada cão, Cesar diz que é importante primeiro avaliar e entender o que motiva o cão a apresentar tal agressividade. “E os motivos são diversos, como possessividade e insegurança. Para todos os casos será gerado um relatório e uma sequência obrigatória deverá ser seguida com todos os indivíduos, iniciando pela avaliação de sua saúde, conquista de confiança e assim por diante”, explica o adestrador, que também atua em parceria com médico-veterinário, pois há casos em que é necessário administração de fármacos para auxiliar na redução da agressividade do cão.
Já Eduardo aponta que, além de ter o conhecimento técnico, observar o ambiente do pet, os tutores desses animais e, se possível, mudar o ambiente do cão, são excelentes pontos de partida para o trabalho do adestrador com tais cachorros agressivos. “Sou contra qualquer tipo de agressão no treinamento. O cão agressivo está sob pressão, frustração ou refletindo algum gatilho que teve. Trabalho muito com o exército físico para alterar a adrenalina e a endorfina. A partir disso começamos os fundamentos da educação, mostrando para ele que existem outras alternativas que não a agressão”, compartilha Eduardo.
CASOS DE SUCESSO
A boa notícia é que é possível sim haver um final feliz nesses casos de agressividade excessiva. “Tenho várias experiências neste sentido”, diz Eduardo.
Cesar também obteve sucesso em vários casos, inclusive onde o cão machucou gravemente as pessoas da própria casa. “Há cães que voltaram às suas famílias e há cães que necessitaram encontrar um novo lar com algumas características distintas para adequação de uma nova rotina, com um novo manejo. De qualquer forma, sempre há melhora de comportamento a partir do adestramento e, consequentemente, melhoria na qualidade de vida do animal, afinal um cão que apresenta agressividade constantemente também deve ter seus níveis de estresse elevados”, comenda o adestrador.
PREVENÇÃO
A melhor forma de lidar com a agressividade em cães é prevenindo que esse comportamento não aflore de forma excessiva no cão. Eduardo aponta que exercícios físicos na dose certa é o primeiro passo, além de sempre respeitar o cão e seus limites. “Um cão que não se exercita já tem um ponto negativo”, diz. Em seguida, para os que pensam em adquirir cães de raça, conhecê-la antes de tudo é fundamental. “Meu principal foco como adestrador é o de manter a felicidade e a harmonia da família como um todo, onde o cão está inserido como membro. A recuperação de cães dá a eles uma oportunidade de serem reinseridos em uma nova família”, conclui Eduardo.
Para Cesar, é preciso não esquecer de que cães são cães, têm suas necessidades de espécie e não devem ser criados e tratados como humanos. “Se desejamos que ele faça parte de nossa família multiespécie, é necessário desde cedo buscar um profissional para auxiliar no processo de educação e socialização dele. Afinal, ter cães treinados e com comportamentos adequados, significa ter famílias felizes e com qualidade de vida a todos. Infelizmente, em nossa cultura, o adestramento ainda é algo buscado para corrigir problemas e não como forma de educar e prevenir. A maioria dos acontecimentos gerados por cães agressivos, teriam sido evitados se o trabalho de base tivesse sido feito”, finaliza.
Por Samia Malas
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