Tutela responsável: o bem-estar do animal em nossas mãos

Quem nunca se encantou com as travessuras de filhotes de cães, gatos ou das mais diversas espécies de pet? A fragilidade e a doçura que eles são capazes de expressar tão claramente em apenas um olhar, ou mesmo por uma simples lambida, conquistam, em um primeiro momento, até os seres humanos mais durões.

Crianças e boa parte dos adultos simplesmente se rendem, e logo pensam em levar o animalzinho para seu convívio. Poucos, porém, se lembram das responsabilidades que será preciso assumir durante toda a vida do novo companheiro.

No Brasil, ainda são tímidas as campanhas que alertam sobre a guarda ou tutela responsável dos animais de estimação, atitude que nada mais é que o compromisso do tutor de promover os cuidados, a segurança e o bem estar do pet no dia a dia.

Pode parecer óbvio, mas não é. Teoricamente, se a pessoa adquire um animal é por que está disposta a doar a ele parte do seu tempo, garantindo o que for necessário para que esse companheiro tenha o melhor possível, certo? O problema é que, na prática, muitas aquisições são feitas por impulso, sem uma reflexão simples acerca das condições emocionais, financeiras e de estrutura da família para dar atendimento ao bicho.

Não é brinquedo

Somente quando começam a surgir demandas– limpar xixi, alimentar, providenciar tosa, banho, vacinas, consultas médico-veterinárias, medidas de segurança para que o pet não ganhe as ruas, local para ele ficar quando a família viaja – muitos tutores se dão conta de que o animal não é brinquedo e de que necessita de atenção, carinho e espaço.

É muito comum o responsável perder a paciência e simplesmente decidir que não quer mais a companhia do pet. Tanto que, diariamente, vemos nas ruas animais largados à própria sorte, sujeitos a doenças, atropelamentos e à procriação descontrolada

Guarda responsável

Felizmente, ações para minimizar esse tipo de ocorrência já estão em curso em algumas cidades. Uma linha válida é a de promover educação e conscientização sobre guarda responsável a partir das crianças, as quais podem ensinar os adultos a se tornarem mais sensíveis, conscientes e responsáveis por suas escolhas.

O Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba, por exemplo, irá vincular, a partir do ano de 2013,  parte dos recursos destinados ao controle populacional de cães e gatos à educação de crianças.

O programa curricular de quase 20 mil alunos de 3º ano de todas as 184 escolas de ensino fundamental da capital paranaense contempla a guarda responsável de animais de companhia. Os alunos participarão também do concurso “Veterinário Mirim”, inspirados pelo tema “Adotar faz bem, para eles e para você também”, na criação de desenhos e frases. Será escolhido o melhor trabalho de cada escola. No Dia do Médico-Veterinário, em 9 de setembro, os 184 alunos selecionados farão uma visita aos hospitais veterinários das universidades locais.

Entender a real responsabilidade

Quando adotamos um animal de estimação, seja ele da espécie ou raça que for, estabelecemos uma relação de lealdade e devemos estar preparados para uma convivência que pode durar 15, 20 anos. Durante esse tempo, devemos lembrar que filhotes crescem (alguns podem ficar enormes, caso de algumas raças de cães), que animais podem destruir objetos e plantas, fazer ruído nas horas mais impróprias e nem sempre ter o temperamento que desejamos, tornando-se antissociais, ariscos, implicantes e briguentos (como também pode acontecer com os seres humanos).

Por motivos como esses e por outros, muitos humanos não conseguem entender a real responsabilidade de ter um animal. Nem tampouco percebem como pode ser importante a companhia dele, mesmo que hajam limitações.

ESTOU A PROCURA PARA TER UM PET

Antes de adotar um animal, reflita e pondere sobre as seguintes questões:

• Desejo realmente ter a companhia de um animal? Estou ciente das despesas que ele pode trazer?

• Minha casa tem espaço adequado para abrigar o animal desde a infância até a velhice, com local para ele repousar e se alimentar?

• As pessoas que residem comigo aceitam e concordam com a presença desse animal? Elas estão cientes do compromisso resultante da presença desse ser?

• Terei condições de me dedicar a esse animal? Darei carinho e atenção a ele, não apenas quando filhote, mas durante a vida inteira?

• Estou consciente dos cuidados diários com higiene e alimentação do animal, da atenção à carteira de vacinação e às consultas médico-veterinárias? Tenho ciência de que terei de promover tal proteção pelo tempo em que o animal viver?

• Terei como garantir o bem-estar do meu pet por ocasião das minhas ausências em viagens de férias ou de trabalho?

Benedito Fortes de Arruda é médico-veterinário ex-presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

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