Entenda particularidades da visão do seu melhor amigo, além de cuidados e possíveis doenças que ele pode ter
Você sabia que, apesar de terem uma limitação na detecção das diferentes tonalidades de cores, os cães veem relativamente bem no escuro? “Cães possuem o tapetum lucidum, uma camada de tecido que amplifica a luz recebida, permitindo uma melhor visão em qualquer situação, inclusive na penumbra”, explica Pedro Mancini, médico-veterinário oftalmologista. “Dentre as células fotorreceptoras, apenas de 3 a 5% são responsáveis pela visão multicolor, conhecidas como cones”, destaca Adalberto Von Ancken, professor na Universidade Cruzeiro do Sul. Assim, os cães enxergam um número muito menor de matizes: “entre o azul marinho e o azul royal, é tudo azul, e o amarelo do milho e o do girassol são um amarelo só”, exemplifica Pedro. Há vários estudos acerca da distinção de cores pelos cães, mas não existe um consenso. O que se sabe é que eles enxergam as cores de forma limitada.
Curioso também é o fato de que, nos cães, a capacidade normal de foco para perto é semelhante à de pessoas de 50 anos (sem óculos), de acordo com Fabiana Quartiero, oftalmologista veterinária parceira da plataforma Tio Chico. “O nervo óptico humano contém 1,2 milhão de fibras nervosas versus 167 mil no nervo óptico canino e, além disso, os cães não possuem mácula, que é a zona central da retina”, diz. Pedro explica também que o cristalino dos cães, estrutura responsável pela acomodação visual – o foco – é muito maior e tem fibras mais robustas, o que compromete essa função.
MOVIMENTO
“Os cães têm a visão adaptada às suas necessidades como animais de caça e companhia, permitindo a eles detectar movimentos rápidos e perseguir presas, mas eles não são tão bons em distinguir detalhes finos ou enxergar objetos distantes como os humanos. Segundo Fabiana, eles são sensíveis ao movimento pelo fato de que sua retina responde rapidamente à troca de imagens. Fora todas as informações captadas pela audição e o olfato apuradíssimos. “Essa habilidade é herdada dos lobos, que necessitam identificar rapidamente a sua presa em fuga”, lembra.
CAMPO VISUAL
O campo visual dos cães é aproximadamente 60 a 70° maior que o nosso, o que significa que eles podem enxergar mais coisas ao mesmo tempo. Adalberto explica que o campo visual está diretamente relacionado ao tamanho e à posição dos globos oculares. “Cães braquicefálicos, como o Shih Tzu, e os de corrida, como o Whippet, possuem campos visuais vastos devido à lateralidade de seus olhos quando comparados aos de um cão dolicocefálico, como Dobermann.”
PROFUNDIDADE
Para Fabiana, a ineficiência da visão binocular – capacidade do cérebro converter os sinais enviados pelos dois olhos em uma única imagem – torna a percepção de profundidade dos cães bem inferior à nossa. “Em se tratando de objetos parados, cães enxergam em média 20/75, ou seja, como se uma pessoa tivesse 65% de visão. Entretanto, objetos, animais ou pessoas que estejam mais distantes e em movimento podem ser percebidos mesmo que o cão tenha apenas 10% de visão (20/400), o que uma pessoa com esse percentual não consegue realizar”, detalha.
SINAIS DE ALERTA
Segundo Pedro Mancini, os principais pontos a observar, em ordem de importância, são: capacidade de orientação, olhos semicerrados ou fechados, secreção volumosa e malcheirosa, ficar raspando a cara em objetos como caminha, sofá e tapete, olho vermelho e mudanças de cor nos olhos – “essas mudanças podem acontecer em várias estruturas. Então, se mudou de cor, é problema”, enfatiza o profissional. Ele esclarece que existem muitos outros sinais clínicos técnicos, que são detectados e determinados por um veterinário ou por um oftalmologista veterinário, difíceis de serem diagnosticados sem equipamento especializado e experiência.
Fabiana cita outros sinais de que algo não vai bem: excesso de lágrimas; opacidades; mudanças de comportamento, como passar a ter medo de subir e descer escadas ou de passear na rua, andar o tempo todo farejando o chão, tropeçar em pequenos obstáculos e trombarem objetos.
Pedro menciona ainda o fato de que quase nenhum tutor tem o hábito de examinar os olhos dos cães. A dica do especialista é manter a região dos olhos sempre com os pelos aparados: “isso ajuda muito a detectar se há mais secreção que o normal, se o animal está com o olho cerrado ou fechado, se está vermelho, inchado. Ou seja, é preciso observar sempre”, conclui.
O médico-veterinário Kauê Ribeiro da Silva ainda dá mais alguns cuidados importantes: “evite a exposição excessiva ao vento- deixar o pet com a cabeça para fora da janela em passeios de carro pode ser prejudicial; e cuidado como uso de sopradores e secadores, que devem ser usados em temperatura e intensidade adequadas, e o jato de ar não pode estar direcionado para os olhos do pet”, ensina.
DOENÇAS OCULARES MAIS COMUNS EM CÃES E GATOS
Segundo o médico-veterinário Kauê Ribeiro da Silva, algumas das doenças mais comuns que afetam os olhos dos pets são:
Conjuntivite: consiste na inflamação de uma estrutura chamada conjuntiva, membrana que reveste a pálpebra internamente e cobre a esclera (parte branca do olho).
Sintomas: olhos avermelhados, piscar em excesso (blefaroespasmo) e excesso de secreção ocular.
Causa comum: Pode ocorrer pela falta de lubrificação ocular, sendo raramente ocasionada por infecção em pets.
Uveíte: é a inflamação da úvea, revestimento interior pigmentado do olho (formado pela íris, corpo celular e coroide).
Sintomas: olhos vermelhos, podem aparecer coágulos de sangue, lacrimejamento, secreção mucosa, alteração da cor dos olhos (opacificação corneana), o que pode comprometer a visão.
Causa comum: em geral, ocorre após infecções virais, bacteria-nas ou fúngicas, traumas ou reações autoimune
Úlcera de córnea: consiste numa lesão e inflamação da córnea, estrutura mais externa dos olhos.
Sintomas: vermelhidão, lacrimejamento, acúmulo de secreção e o animal pisca em excesso.
Causa comum: erosão na córnea causada por infecções, traumas e outras doenças, como a síndrome do olho seco (que facilita a ocorrência de lesões).
Catarata: é a opacificação da lente (cristalino) do olho.
Sintomas: em geral observa-se o olho esbranquiçado.
Causa comum: pode ocorrer por diversos fatores, entre eles: idade avançada, herança genética ou diabetes.
Glaucoma: é a lesão do nervo óptico normalmente relacionada ao aumento da pressão no globo ocular.
Sintomas: córnea opaca, olhos vermelhos e irritados.
Causa comum: pode ocorrer por diversos fatores, entre eles, idade avançada, doenças sistêmicas que elevam a pressão intraocular ou predisposição da raça (hereditária).
Olho seco: também conhecida como ceratoconjuntivite seca ou síndrome do olho seco, consiste numa alteração do filme lacrimal que leva à irritação ocular.
Sintomas: secura, vermelhidão, coceira, ardor, sensação de corpo estranho nos olhos e fotofobia.
Causa mais comum: alteração autoimune da glândula lacrimal. Segundo Kauê, a prevenção irá depender dos fatores individuais do pet, envolvendo o controle de doenças sistêmicas (diabetes, por exemplo) e lubrificação ocular (para evitar o olho seco). “As doenças oculares nos pets também podem ser agravadas pela poluição do ar e clima seco. Nesses casos, um aliado na prevenção é manter os olhos dos animais sempre limpos, livres de secreção e lubrificados. Use produtos específicos para a higienização dos olhos e das pálpebras. Uma opção é a aplicação pré ou pós banho de colírios lubrificantes. Os produtos promovem lubrificação, hidratação e higienização da superfície ocular, limpando os olhos e trazendo alívio e conforto prolongado”.
Nossos agradecimentos:
Adalberto von Ancken, Professor do curso de Medicina Veterinária da Universidade Cruzeiro do Sul.
Kauê Ribeiro da Silva, Coordenador de Comunicação Técnica da Vetnil.
Fabiana Quartiero, Oftalmologista veterinária parceira da plataforma TioChico.
Pedro Mancini, Médico-veterinário oftalmologista da WeVets.
Por Lila de Oliveira
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