Latidos em excesso

LATIDOS CHATOS: A BARULHEIRA PODE SER EVITADA SEJA NO PORTÃO SEJA DENTRO DE CASA

Latir é a forma natural de expressão canina. Mas, em excesso, pode ser um martírio para as famílias. Veja como resolver isso.

Seja por incomodar os vizinhos, seja por assustar as visitas, os latidos descontrolados ou que acontecem em situações inapropriadas são uma das principais reclamações dos donos de cães. Mas, como identificar se as vocalizações do nosso fiel amigo estão fora de controle?
O primeiro passo é entender os motivos que levam os cães a latir em excesso. Os principais costumam ser:
• Demanda por atenção: São os latidos dados para ganhar comida, passear ou obter atendimento a algum outro desejo.
• Medo: Latir para afastar o que causa receio é um comportamento que os cães aprendem desde pequenos.
• Territorialismo: Com latidos os cães dão mensagem a possíveis invasores do território, como outros cães e pessoas, avisando que não devem se aproximar.
• Excitação, ansiedade: Mais um uso dos latidos, adotado pelos cães mais ansiosos, é expressar sentimentos e extravasar estresse.
• Tédio, frustração: Latidos também servem para chamar o dono caso o cão, que está preso, se sinta sozinho ou sofra de ansiedade de separação.
• Problema de saúde: Disfunção cognitiva ou surdez podem fazer o cão latir sem parar, situação que, para ser tratada, precisa da ajuda de veterinário.
Se a causa dos latidos não for problema de saúde, há diversas técnicas comportamentais que podem ser usadas para ajudar a acabar com o incômodo. Mas antes de recorrer a elas, existe a possibilidade de evitar a ocorrência do motivo dos latidos indesejados.

Remoção da causa

Essa alternativa, quando viável, é a maneira mais prática de acabar com latidos indesejados.
Por exemplo, se um cão late para os passantes que vê por entre as grades do portão, a solução pode ser substituir o portão vazado por outro inteiriço, que impeça enxergar o que acontece do outro lado. Ou então, se os latidos ocorrerem quando o cão é deixado sozinho, nessas ocasiões podem ser deixados brinquedos interativos ao alcance dele. Se os latidos terminarem, a causa era simplesmente tédio. Caso continuem, o motivo pode ser solidão. Nesse caso, é possível que a companhia de outro cão resolva, a não ser que esteja ocorrendo um caso grave ansiedade de separação (cão que se desespera pela ausência do dono). Nessa última hipótese, o melhor é buscar a ajuda de especialista. 

Mudar atitudes

Paciência, dedicação e carinho são requisitos básicos para quem quer modificar comportamentos do cão. As metodologias modernas adotadas com esse objetivo têm em comum premiar o cão pelos acertos. É o chamado reforço positivo. Punições físicas nunca devem ser usadas, mesmo porque podem provocar novos problemas comportamentais. Como recompensa, utiliza-se algo que agrade o cão, como carinho, elogio, brinquedo ou petisco.

Busca de atenção

Imagine a situação: a família está fazendo a refeição e o cão late porque quer comida. Em seguida, alguém lhe dá comida para que se cale. O que o animal aprendeu? A experiência serviu para ele descobrir que é ótimo latir porque ganha comida. O comportamento “latir” foi reforçado.
O mesmo acontece quando o cão late para chamar a atenção. Se a pessoa parar o que está fazendo e der bronca, o animal poderá se sentir recompensado por ter obtido a atenção que queria. Da próxima vez, portanto, voltará a latir.
No caso de cão que busca atenção, o certo para educá-lo é ignorar os latidos. Mesmo que isso faça a intensidade e o volume da barulheira aumentar temporariamente, não se deve dar qualquer sinal de atenção. Em algum momento, o cão se calará. Aguarde até ele ficar quieto por três segundos e aí recompense-o pelo silêncio. Na próxima vez que ele latir por atenção, deixe-o mais tempo em silêncio antes de recompensá-lo (durante cinco segundos, por exemplo). A cada nova repetição, aumente o tempo em que o cão deve permanecer sem latir, para recompensá-lo (10 segundos, 15 segundos, e assim por diante). Para o cão não interpretar que está ganhando as recompensas por latir bastante e depois ficar em silêncio, deve-se premiá-lo também algumas vezes durante o dia, quando estiver em silêncio sem ter latido antes. Aos poucos, ele compreenderá que com latidos não consegue nada e que ficar em silêncio rende premiações.
Há casos de cães que continuam a latir por atenção durante muito tempo mesmo que sejam ignorados, indicando que o comportamento está muito cristalizado e que será difícil modificá-lo. Se você ignorar o seu cão por mais de cinco minutos e ele continuar latindo, convém considerar a possiblidade de recorrer à ajuda de especialista.

Durante passeio

No caso de cão que late sempre para determinada ocorrência na rua, como a passagem de pessoa, animal, bicicleta ou skate, o mais eficiente para acabar com o hábito é a dessensibilização. Esse método, que requer paciência e ambiente controlado, funciona para os mais diferentes estímulos. Recomenda-se treinar no mínimo duas vezes por semana, em sessões com cerca de 10 minutos cada uma. É bom encerrar enquanto o cão ainda estiver disposto e motivado, antes que fique exausto.  Neste exemplo, mencionaremos como dessensibilizar o cão que late para outros cães. Para tanto, será preciso contar com a ajuda de uma pessoa acompanhada por um cão, de preferência dócil e calmo, mantido na guia.

1- Definição da distância inicial:
Com o seu cão ao lado, na guia e calmo, aproxime-se do cão auxiliar até o ponto em que o seu cão começar a dar sinal de inquietação. Retroceda até ele ficar calmo de novo. Aquele será o ponto inicial do treino.                                                                                                                                                       

2- Recompensar o silêncio: Certifique-se de que o seu cão está vendo o cão auxiliar e, se ele continuar calmo, recompense-o com um petisco muito gostoso.

3- Aproximação do outro cão:
Peça que o cão auxiliar seja aproximado um ou dois passos de vocês. Enquanto isso acontece, distraia o seu cão usando um petisco ou pedindo que ele execute alguns comandos. Mesmo distraído, o seu cão saberá que o outro cão se aproximou. Depois que o cão auxiliar tiver parado na nova posição:
• Se o seu cão se manteve calmo e não latiu: Recompense-o e refaça o “passo 3” (aproximação do outro cão). Prossiga com essa sequência enquanto o seu cão não latir. O treino termina quando o cão auxiliar ficar bem perto do seu, sem causar reação.
• Se o seu cão deu sinal de que iria latir ou se latiu: Se ele sinalizou estresse sem latir, afaste-o do cão auxiliar até que fique calmo novamente.
Essa atitude deverá ser adotada ao menor sinal de estresse ou nervosismo do seu cão, de preferência antes de ele latir, para facilitar o treino. Se acontecer de ele latir sem parar, diga “não”, tire-o da situação e recomece quando ele estiver mais calmo.
Com a dessensibilização, o cão aprenderá que a aproximação daquilo que antigamente estimulava os latidos dele, em geral ansiedade ou medo, é algo bom. Não tenha pressa para criar essa associação positiva e o resultado será melhor.

 

DESSENSIBILIZAÇÃO: (1) CASO O SEU CÃO COMECE A LATIR AO SE APROXIMAR DE OUTRO CÃO PARADO, DIGA “NÃO”. (2) RETROCEDA ATÉ A DISTÂNCIA EM QUE ELE SILENCIE. (3) PREMIE-O POR ESTAR EM SILÊNCIO (Fotos Editora TopCo)

Com visita

Quando o cão late para visitas, é interessante ensiná-lo a atender ao comando “fica”, que é incompatível com latir. O objetivo é você pedir um “fica”, abrir a porta da casa e receber a visita sem o cão latir e só depois liberá-lo entregando a recompensa.
Para treinar, coloque o seu cão sentado, diga “fica” e se afaste um pouco. Se o cão sair do lugar ou latir, recomece. Se ele ficar parado em silêncio, volte e recompense. Vá aumentando a distância e introduzindo distrações aos poucos.
Depois faça o mesmo treino com você e o cão dentro de casa, diante da porta que dá para a área externa da propriedade. Diga “fica”, abra a porta e, se o cão sair do “fica”, feche-a e recomece. Quando ele estiver fazendo corretamente, introduza o treino com uma pessoa da casa fazendo o papel de visita. Comande “fica”, abra a porta e espere que a pessoa venha desde o portão e entre. Só depois disso você libera o seu cão e lhe entrega a recompensa.
Quando ele fizer certo, treine com a pessoa tocando a campainha para, em seguida, você abrir a porta e ela entrar. Quando o cão estiver praticando todos esses exercícios sem latir, a etapa final será treinar com as próprias visitas. O cão bem treinado permanecerá calmo com a chegada da visita até receber a recompensa depois de ser liberado do “fica”.

 

COM VISITA: COMANDE “FICA”, RECEBA A PESSOA E, SE O CÃO NÃO LATIR, DÊ O PRÊMIO (Fotos editora TopCo)

Técnicas como essas, com base em reforço positivo, podem ajudar a evitar latidos indesejáveis. Lembre-se de que persistência e paciência são as chaves do sucesso.

Agradecemos à proprietária dos cães Chow Chow (Lola e Leo), Rosangela Butti Cardoso, de Campinas, SP.

Tatiana Casari é adestradora da equipe Cão Cidadão, empresa especializada em adestramento em domicílio e em consultas de comportamento animal (http://caocidadao.com.br).

Clique aqui e adquira já a edição completa da Cães & Cia!

latidos em excesso

Materia Relacionada, clique aqui


Links importantes:

 

Quer anunciar na revista: conheça os formatos aqui
Leia alguns destaques da edição atual aqui
Conheça todas as publicações da Editora Top Co aqui
Para comprar a edição atual ou anteriores, acesse
Assine por 2 anos e leve 10 exemplares de revista + 2 Anuários de raças, acesse